Partiu do presidente Lula a orientação para o governo buscar, na Justiça, a decretação da ilegalidade das greves de servidores que tumultuam a Esplanada. Ele mandou ainda descontar os dias parados, segundo revelou ao Estado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
O acirramento das pressões por esses e outros gastos, acredita o ministro, refletem uma visão que não será possível arrancar “bondades” semelhantes do próximo presidente. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Pressões por aumento de gasto sempre teve, mas agora o senhor resolveu bater duro nos servidores grevistas e no Congresso. O que aconteceu?
Estamos num período em que aparentemente a antevisão do fim do governo levou esse pessoal a se antecipar. Essas mobilizações por salário, esse posicionamento do Congresso, a pressão dos aposentados, tudo isso tem uma visão assim: “Vai acabar o governo Lula e se não conseguirmos agora não conseguiremos mais”. Não temos condições de atender, nem de longe, todas essas coisas.
Um eventual governo Dilma seria mais linha dura na área fiscal do que o Lula?
Acho que o governo Dilma vai ter de ser rigoroso. O Brasil já incorporou essa visão de que nós temos de gastar de acordo com o que arrecadamos. Isso terá de ser o pano de fundo para qualquer governo. Vai ter diferença entre uma proposta e outra, mas isso tem de estar na base.
A postura do Congresso e dos sindicatos embute um “risco Serra”?
De que tipo? Um governo mais austero do ponto de vista fiscal? Claro que não. Temos de ouvir o que o Serra vai fazer em relação a isso. Embora o PSDB viva criticando um suposto aumento dos gastos neste governo, a verdade é que os projetos (que aumentam despesa sem indicar receitas) são votados unanimemente dentro do Congresso.
É verdade que o sr. levou ao presidente Lula um levantamento sobre os reajustes já concedidos aos servidores públicos e ele achou absurdo algumas categorias ainda estarem fazendo greve?
Mostramos a ele o seguinte: nenhuma categoria teve reajustes salariais igual à inflação. Todos foram maiores. Ele reuniu alguns ministros e dirigentes de autarquias e disse que não temos previsão de novos reajustes salariais. Se houver greve, a orientação é anotar a frequência, descontar os dias parados e ir aos tribunais para que as greves sejam decretadas ilegais.
Reajuste, só o que já foi acertado. É isso?
Vou te dizer uma coisa. Nós decidimos aqueles reajustes salariais no primeiro semestre de 2008. Fizemos todas as negociações e, no segundo semestre, em setembro, tivemos uma crise. Se a crise tivesse ocorrido três meses antes, não teríamos fechado aqueles acordos de jeito nenhum.
O fato de ser um governo do PT estimula os sindicatos a agir dessa forma?
Acho normal. O PT sempre teve excelente diálogo com os sindicatos. Continuamos mantendo. Mas até em nome da nossa boa relação acho importante falar claramente: não vamos dar reajustes salariais, não temos previsão orçamentária. Se acham que a solução é fazer greve, façam. Mas vamos entrar com as medidas cabíveis para resolver o problema. O que não é razoável é fazer uma greve sem perspectiva de solução e ficar ganhando, porque aí vira férias, como diz o presidente Lula.
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