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O Brasil tem acompanhado. Aumentou o número de operações da Polícia Federal, mas especialistas dizem: é preciso fazer mais para combater o crime organizado. Os investigadores chegam aos acusados, descobrem como funcionam os negócios das quadrilhas, mas e o dinheiro? Dificilmente é recuperado.
Navalha, Furacão, Tróia – os nomes chamam a atenção, mas são os resultados que mais impressionam. Nos últimos quatro anos, o número de operações da Polícia Federal subiu de 40 para 260. Foram presas mais de cinco mil pessoas, entre elas, servidores e ex-servidores públicos acusados de participar de esquemas de corrupção e de envolvimento com o crime organizado.
O trabalho de inteligência, com policiais infiltrados, escutas, rastreamentos, ajuda a chegar cada vez mais perto do topo dessas organizações criminosas, de quem realmente manda. São grandes empresários, juízes, advogados, empreiteiros e políticos.
Desvendar os crimes e apontar os criminosos – o trabalho da polícia é eficiente, mas, para especialistas, a investigação tem que ir além: deve ter efeitos sobre a estrutura financeira dessas organizações, revelando também como e onde usam o dinheiro obtido em esquemas ilegais.
“O que precisa ser feito imediatamente é treinamento, a fim de que se afete, se contraste, se consiga ‘roubar a carteira da criminalidade organizada’”, afirma o juiz aposentado Walter Maierovitch.
Walter Maierovitch é presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Giovanni Falcone, nome do juiz italiano assassinado pela máfia. Ele diz que, na Itália, em cinco anos, a polícia recuperou € 400 milhões (o equivalente a R$ 1,2 bilhão), que estavam em poder da máfia, e fechou mais de 500 mil empresas usadas na lavagem dinheiro. No Brasil, nesse mesmo período, foram feitas apreensões que correspondem a R$ 18 milhões, segundo a Polícia Federal.
Para o desembargador do Tribunal Regional Federal do Rio, Abel Gomes, o valor poderia ser bem maior caso a Justiça tivesse acesso, com mais rapidez, às informações sobre os negócios das quadrilhas.
“Você tem que estabelecer a ligação dos bens que as pessoas obtiveram com aquele esquema, com as pessoas jurídicas nos quais elas distribuíram ou para onde elas remeteram”, disse o desembargador Abel Gomes.
Em 2000, O Brasil foi um dos países que assinaram o Tratado de Palermo, convenção das Nações Unidas contra as organizações criminosas, que estabeleceu normas de cooperação internacional. Mas, segundo especialistas, ainda faltam dispositivos legais que tratem do combate específico ao crime organizado.
“Falta vontade política e, em especial, com relação com relação aos bancos, que têm o dever de vigilância e têm todo um levantamento de todas as contas individuais, a capacidade dos correntistas”, acrescenta o juiz aposentado Walter Maierovitch.
O diretor de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Getúlio Bezerra, diz que a investigação financeira é parte do trabalho, mas que os resultados dependem da integração com órgãos de fiscalização do governo.
“Tem que se quebrar o rancor, quebrar as diferenças, os preconceitos. Tem que se quebrar isso. É mão estendida, porque, senão, perdem todos: perdemos nós, das agências de segurança, perde a sociedade e perde o país”, disse o diretor de combate ao crime organizado da Polícia Federal, Getúlio Bezerra.
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