LUCAS VETTORAZZO – Folha de São Paulo
O governo terá de abrir seus cofres se quiser voltar a ver a atividade econômica acelerando, afirma o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
De acordo com o instituto, o modelo atual da economia brasileira, baseado em aumento de demanda por meio do consumo da população, está se esgotando.
As medidas pontuais de incentivo ao consumo adotadas pelo governo federal, como redução de impostos de determinados produtos e setores, não estão mais surtindo o efeito esperado, devido ao aumento do grau de endividamento da população.
Ampliar o investimento público é a saída apontada pelo Ipea para reinjetar mais renda na economia, garantir mais consumo e, portanto, registrar taxas maiores de crescimento.
“Um salto no investimento que leve a economia em direção ao crescimento sustentável passa pelo investimento público, que tem caído significativamente nos últimos dois anos. O setor público é a tábua de salvação para esse momento. Se ele voltar a investir, a iniciativa privada vem junto”, afirmou Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, durante coletiva de imprensa na sede do instituto, no Rio de Janeiro.
Segundo o Ipea, os investimentos federais têm registrado altas desde 2003, quando partiram de 0,2% do PIB até chegar ao pico de 0,8% em 2010. A partir daí, no entanto, começaram a cair. Em 2011, a taxa recuou para 0,6%.
O Ipea informa que, nos cinco primeiros meses desse ano, os investimentos do governo federal totalizaram R$ 8,5 bilhões, volume menor que os R$ 8,8 bilhões observados em igual período de 2011.
Segundo Messenberg, o governo federal parece perdido no que diz respeito à condução e o planejamento da política econômica. O especialista avalia que o Ministério da Fazenda está deixando de lado a estratégia de longo prazo em benefício de medidas pontuais de estímulo ao consumo.
Segundo ele, o país estava caminhando para o modelo correto no final do governo Lula, ao utilizar as medidas paliativas como forma de ganhar tempo frente à crise e justificar a manutenção de uma estratégia de longo prazo.
“Agora, parece que estamos abrindo mão dessa estratégia para fazer uma política prioritariamente pontual. Dessa maneira teremos crescimento medíocre para sempre”, afirma.
SUPERAVIT PRIMÁRIO
Na opinião de Messenberg, o governo tem evitado abrir seus cofres em benefício da manutenção em patamares baixos do superavit primário, que é a economia que o governo faz para pagar os juros da dívida pública.
O especialista disse concordar que manter o nível do superavit primário é bom para garantir a confiança dos investidores no Brasil, mas em sua avaliação essa opção não deveria ser tratada com excessivo zelo. A queda da taxa de juros e também do crescimento da dívida pública, a redução da inflação e o fato de o país ser credor líquido em moeda estrangeira já seriam suficientes para manter a confiança dos investidores estrangeiros no país.
“[Dar prioridade ao superavit primário] é um respeito demasiado às condições do mercado financeiro. Me parece mais uma convenção do que estratégia de longo prazo. Começam a ser feitos ajustes fiscais e cortes de investimentos, que nesse momento são os únicos elementos para manter a esperança de crescimento da economia. Não se justifica”, afirmou.
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