Da população total do país, 55% nunca usaram um computador na vida, equipamento que existe nas casas de apenas 16,6% dos brasileiros. Para 68%, a utilidade da internet, principal ferramenta da nova era digital, ainda é um completo mistério. Estes são os principais resultados de uma pesquisa divulgada ontem pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), entidade formada por representantes do governo e da sociedade civil.
Nem mesmo o projeto de PC popular pode acabar com essa exclusão digital. Uma das conclusões da pesquisa é que nada menos do que 35% da população não têm condições financeiras para comprar um computador, mesmo com preço subsidiado. Segundo o secretário de Logística e Tecnologia de Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna dos Santos, que também é um dos conselheiros titulares do Comitê Gestor, esse segmento da sociedade reagirá menos a políticas de preços do que a projetos alternativos de acesso — como centros de uso livre.
Santos acredita que a pesquisa pode ser uma ferramenta valiosa para a definição de políticas públicas e também para o planejamento de empresas privadas. O estudo foi feito em parceria com o Instituto Ipsos-Opinion, que entre agosto e setembro entrevistou moradores com idade superior a dez anos em 8.540 domicílios do país.
— Para essas pessoas, principalmente os jovens, a inclusão virá se o governo atuar em outra frente, intensificando o acesso à web nas escolas e em telecentros — completou o diretor da Ipsos-Opinion, Clifford Young.
Exclusão acompanha a má distribuição de renda
A exclusão digital apontada pela sondagem reproduz os efeitos da distribuição irregular de renda no país: o internauta brasileiro é predominantemente das classes A e B e mora nos grandes centros urbanos. Pela pesquisa, 88,7% da população classificada como classe A (renda familiar acima de R$ 1.800 mensais) possuem computador em casa, contra 55,5% da B (renda entre R$ 1.001 e R$ 1.800). Nas classes D e E (com renda até R$ 300), o índice não vai além dos 2%.
Enquanto 31% dos domicílios de Brasília têm um computador de mesa, em Belém essa fatia é de 11%. Em Fortaleza, desaba para 8%. Na Região Metropolitana de Recife, 70% nunca navegaram pela internet, contra 55% em Curitiba e 53% em São Paulo. Os dados mostram ainda que apenas 24% da população usaram a internet nos últimos três meses e 9,6% acessam o serviço diariamente.
— O resultado é, infelizmente, compatível com a distribuição de renda do país — afirmou Santos.
O Comitê Gestor também fechou parceria com o IBGE para incluir 23 perguntas na próxima Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Estima-se que os dados estejam disponíveis em outubro de 2006.
Com despesas mais urgentes para quitar, o brasileiro diz que não tem computador ou deixa de usar a internet por causa dos altos custos dos equipamentos e de conexão. Essa foi a resposta escolhida por 26% e 16% dos entrevistados, respectivamente. Outros 9% responderam que não sabem usar o computador. Em um dado revelador da falta de políticas oficiais, só 2% dos que disseram ter habilidades para usar o equipamento freqüentaram curso mantido por órgãos públicos.
Brasil usou mais tempo a internet do que os EUA
A concentração na posse e uso de computadores provoca grandes distorções. Embora tenha só a décima população de internautas do mundo, o Brasil navegou mais na internet em outubro do que países desenvolvidos como França, Japão, Estados Unidos, Espanha e Alemanha. Segundo relatório do Ibope NetRatings, que passou a trabalhar em parceria com o Comitê Gestor, os brasileiros ficaram 18 horas e 42 minutos plugados na rede naquele mês. Foi um novo recorde para o país.
— Nossas classes A e B, que são o público da internet, não devem nada para outros países — afirmou o diretor-executivo do Ibope Inteligência, Marcelo Coutinho.
Ainda pelo relatório do Ibope NetRatings, que considera internautas com mais de 16 anos, a maioria (73%) usou a internet para ver correspondências. Para 75%, o microcomputador foi o único meio de acesso à web, enquanto 25% usaram também equipamentos como celulares e computadores de mão ( handhelds ).
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