Em Valparaíso, onde foram registradas duas execuções na madrugada de ontem, olheiros, a serviço de traficantes, vigiam o movimento da comunidade e de visitantes. Ao cair da tarde, policiais e moradores somem das ruas
Morillo Carvalho
Da equipe do Correio
Durante todo o dia de ontem, duas equipes de reportagem do Correio percorreram o Entorno Sul. Enquanto o repórter Amaury Ribeiro Jr. fazia novas entrevistas na Cidade Ocidental (GO) para a série sobre o tráfico de drogas, outra equipe circulava por Valparaíso (GO). Ali, foram registradas duas execuções na madrugada de ontem. Pelo menos uma das vítimas tinha ligação com o consumo e venda de drogas. Assustados, moradores e parentes dos mortos temiam conversar com os jornalistas, que trabalhavam sob a vigilância de olheiros do tráfico.
Poucas crianças brincavam nas ruas mal iluminadas e esburacadas de Valparaíso no fim da tarde. Em compensação, jovens se reuniam em pequenos grupos nas esquinas e dividiam cigarros de maconha. Os olhares vidrados dos adolescentes demonstravam que a equipe não era bem-vinda ali. Assim era na rua Porto Alegre, no bairro Parque Marajó, onde aconteceu uma das execuções. Pouco antes da 0h de ontem, Vanderlei da Silva Soares, 31 anos, foi morto na porta de casa. Três homens teriam ateado fogo ao carro de Vanderlei e, depois, atiraram três vezes contra ele. Todos os disparos foram feitos com um revólver calibre .38.
Acuados, os parentes de Vanderlei evitavam prestar informações. Não era a primeira vez que a violência atingia aquele lar, onde moram oito crianças. Pelo menos outras duas pessoas da família já morreram por causa do tráfico de drogas. As demais sentem-se ameaçadas. Segundo a polícia, Vanderlei foi vítima de traficantes. Por meio de informações de vizinhos, os investigadores recuperaram a arma usada no crime, na casa do principal suspeito, onde foram recolhidas ainda 24 latas de merla, oito balas, cinco porções de maconha e sete folhas de cheques roubados. O suposto autor está foragido.
Adolescente
Nenhum policial foi visto nas ruas de Valparaíso no fim da tarde e início da noite de ontem. Falta estrutura no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), onde foi registrado o caso de Vanderlei. Nos plantões noturnos, apenas um escrivão e um agente têm que dar conta dos flagrantes — trabalho que deveria ser executado pelo delegado —, da segurança da área e da vigilância de oito mulheres que estavam presas lá, já que não há presídio feminino no município. O local ainda serve como prisão dos albergados, que estão em regime semi-aberto.
Outra mostra da ineficiência da polícia no Entorno: não havia nenhum registro da morte do adolescente Leonardo Barbosa, 15 anos. Ele foi assassinado a tiros, por volta de 0h de ontem, perto de casa, no Setor de Chácaras Anhangüera (Valparaíso II). A falta de estrutura é tão grande que, segundo testemunhas, o corpo do garoto ficou no meio da rua desde a hora da execução até as 8h, sob os cuidados dos parentes. Não havia homens no Instituto Médico Legal de Luziânia para fazer a perícia. Tampouco carros para buscar o corpo do adolescente. Os assassinos de Leonardo ainda não foram identificados.
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