O desabafo de um PM do Rio
O desabafo de um PM revela o medo que tomou conta de policiais militares no Rio de Janeiro, 12 deles foram assassinados em apenas uma semana na Região Metropolitana da cidade. Ele diz que, quando não está de serviço, tem que adotar rigorosas medidas de segurança, para não ser identificado e morto pelos bandidos.
Um homem leva uma vida quase clandestina quando não está trabalhando. Ninguém, na vizinhança, pode saber o que ele faz, nem mesmo os amigos do filho.
“Filho não falo que o papai é policial, fala que papai trabalha em uma multinacional, qualquer coisa desse gênero”, conta ele.
Apesar de esconder a identidade como se fosse um criminoso, ele é um policial. Um policial militar do Rio de Janeiro.
“Hoje em dia eu me sinto acuado, com medo, tendo que esconder tudo. Escondo arma, carteira, farda e com medo de determinados locais pelos quais eu tenho que passar até chegar à minha unidade. Policial está de pés e mãos atados, ao invés de ser caçador virou caça”, diz o policial.
Em um cemitério são sepultados os policiais militares do Rio. O cap muda de mãos. Lado a lado, as flores de hoje e as flores de ontem. Na sexta-feira, foram dois enterros no mesmo dia.
Dos 12 PMs mortos esta semana, sete estavam de folga. Foram identificados e executados por bandidos porque eram policiais.
Foi o que aconteceu com o sargento Hélio Ricardo Porto, de 45 anos, na quarta-feira. Tentaram roubar o carro dele, em um subúrbio do Rio. Hélio estava à paisana, mas os bandidos descobriram o uniforme, no banco traseiro do veículo. Testemunhas ouviram um dos assaltantes ordenar a morte do PM.
“Mata que é polícia, mata que é polícia!”, contou uma testemunha.
“O policial está horrorizado com tudo isso que está acontecendo. Eu, por exemplo, quando saio de casa, meu filho pergunta para mim: ‘Papai, você vai voltar, você não vai morrer não, né?’ Como que um policial sai para trabalhar assim?”, questiona o policial.
“Cada vez que passava um carro de polícia na minha porta com os policiais, eu ficava rezando, pedindo a Deus que eles voltassem em paz”, conta a mãe do PM, Eunice Vieitas.
O filho de Dona Eunice, sargento Jorge Ulisses, não voltou, porque reagiu a um assalto. O filho de Maria José de Souza, soldado Élson de Souza Rentes, também enfrentou assaltantes e não voltou para casa.
“Mãe de policial sofre 24 horas por dia, até dormindo, até quando o filho está de folga. Quando perde, vocês não têm noção da dor”, diz Maria José.
Andar com uniforme, fora do serviço, pode significar a sentença de morte. Cada PM tem a sua própria maneira de esconder a farda.
“Eu vou mostrar a vocês como é que eu faço para sair da minha casa e ir para o quartel, porque eu não posso ir fardado. Eu pego minha farda, minha arma e minha carteira, levanto o banco do carro traseiro, puxo, coloco a arma, a farda junto com a carteira, dobro o banco, volto para o lugar, entro no carro e vou embora”, explica o PM.
O comando da PM não acredita que a causa da morte de tantos policiais seja uma ação organizada de quadrilhas e promete uma investigação caso a caso.
“Para que saibamos o que aconteceu, como aconteceu, por que aconteceu e fundamentalmente possamos fazer para que o caso não se repita”, conta o comandante-geral da PM do Rio de Janeiro, Ubiratan Ângelo.
“Eu só queria que mudasse isso, para que outros meninos não morressem dessa forma, para que outras mães não sentissem o que estou sentindo”, desabafa Maria José.
“Um dia o policial não vai poder mais sair de casa nem para ir trabalhar. Eu tenho que sair de casa e pedir a Deus para me proteger e livrar todo esse mal do meu caminho”, acredita o policial.
Somente este ano, até o dia 15 de março, 31 PMs foram mortos no Rio.
Comments are closed.