Assim é bom se aposentar
Enquanto uns vestem o pijama, outros deputados asseguram direito retroativo a 1999 para engordar futura renda
Lúcio Vaz Da equipe do Correio Carlos Moura/CB – 12/9/05 | | Janene: envolvido no mensalão terá aposentadoria integral
| | Início de legislatura, começa o vaivém de aposentados na Câmara, com os privilégios de sempre. Enquanto um grupo veste o pijama, pelas generosas regras do extinto Instituto de Previdência dos Congressistas (IPC), outro suspende temporariamente a condição de aposentado para voltar a receber o salário de deputado. Alguns desse grupo não deixam de receber aposentadorias por outros órgãos, ficando com vencimentos acima do teto constitucional de R$ 24,5 mil. Um terceiro grupo adere ao Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC), com filiação retroativa a fevereiro de 1999.
Pelo menos 12 deputados suspenderam as aposentadorias que recebiam pelo IPC. Isso acontece quando eles voltam ao mandato. Mais tarde, quando encerram o novo mandato, readquirem o direito de recebr a aposentadoria especial. O instituto foi extinto em 1999, mas quem estava no mandato naquele ano adquiriu o direito de se aposentar pelas antigas regras. Entre os privilégios estava o direito a parar de trabalhar a partir de oito anos de contribuição, com pelo menos 50 anos de idade.
O deputado Humberto Souto (PPS-MG), ex-líder do governo Collor, renunciou ao mandato em agosto de 1995 para assumir o cargo de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Com 20 anos de contribuição ao IPC, passou a receber uma aposentadoria de aproximadamente R$ 8,5 mil, além do salário de R$ 23,27 mil como ministro. Um total de R$ 31,77 mil — acima do teto constitucional. Em 2002, obteve uma nova aposentadoria, dessa vez pelo TCU, com vencimentos integrais. Manteve os seus rendimentos, portanto. Agora, reeleito deputado, suspendeu a aposentadoria pelo IPC, manteve a do TCU e passou a receber o salário de R$ 12,84 mil. Com isso, seus rendimentos somam R$ 36,12 mil — R$ 11,6 mil acima do teto constitucional.
“Escândalo grande” O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) deixou a Câmara em 1999, com 12 anos de mandato. Como não tinha 50 anos, ficou sem aposentadoria naquele momento. Restou-lhe o salário do Banco do Brasil, onde é funcionário de carreira. Em 2002, foi eleito deputado distrital, com salário de R$ 9 mil. Há três anos, ainda deputado distrital, completou 50 anos e requereu a sua aposentadoria pela Câmara Federal, no valor de R$ 5,1 mil. Ficou com rendimentos de R$ 14,1 mil — abaixo do teto do servidor público. Ele tinha duas alternativas quando deixou a Câmara dos Deputados: receber as contribuições feitas ao IPC de volta ou optar pela aposentadoria. Ficou com a segunda opção, mas reconhece que esse “era um dos privilégios dos parlamentares”. “O escândalo era tão grande que o instituto foi extinto”, acrescentou.
Outro benefício concedido aos deputados é a averbação do tempo de outros mandatos para ampliar o período de contribuição ao IPC. O deputado Jerônimo Reis (PFL-SE) usou esse artifício para completar o tempo mínimo de oito anos de contribuição. Ele foi deputado federal de 1991 a 1996, quando assumiu a prefeitura de Lagarto (SE). No dia 12 deste mês, foi aprovada pela Câmara a averbação dos cinco anos e quatro meses em que exerceu o cargo de prefeito. Para isso, pagou R$ 178 mil em cota única. Como foi reeleito deputado, a sua aposentadoria foi suspensa. Mas ele não se esqueceu de ingressar no PSSC.
Pelo menos três deputados, Eduardo Sciarra (PFL-PR), Devanir Ribeiro (PT-SP) e José Mentor (PT-SP), e um ex-deputado, Amauri Gasques (PR-SP), foram incluídos no PSSC com efeitos retroativos a fevereiro de 2003. Mais dois deputados, Milton Monti (PR-SP) e Silas Câmara (PAN-AM), conseguiram a inscrição com efeito retroativo a fevereiro de 1999. Uma decisão tomada pela Câmara em 2005 previa o ingresso no PSSC somente até o final do último mandato. Mas um requerimento apresentado pelo deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE) e autorizado pelo ex-presidente Aldo Rebelo (PCdoB-SP) permitiu a inscrição no plano até 2011.
Rombo Nove anos após a sua extinção, o IPC já consumiu R$ 589 milhões (em valores atualizados) dos cofres do Tesouro Nacional. Há uma redução gradual de gastos, mas as despesas voltam a aumentar a cada quatro anos, quando sai uma nova fornada de aposentados e quando o salário dos parlamentares é reajustado. Em valores corrigidos, os gastos caíram de R$ 85,6 milhões em 1999 para R$ 67 milhões em 2002. Em 2003, voltaram para a casa dos R$ 81,5 milhões. Para este ano, o Orçamento da União prevê despesas de R$ 73 milhões com as aposentadorias do IPC.
Um estudo feito pela Secretaria de Previdência Complementar do Ministério da Previdência no momento da extinção do IPC mostrou um rombo de R$ 520 milhões no instituto. |
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