A chamada Operação Guilhotina, da Polícia Federal, deflagrada na última sexta-feira (11/2) para cumprir 45 mandados de prisão, grande parte deles contra policiais civis e militares, fez com que a Associação dos Delegados de Polícia do Rio de Janeiro entrasse em rota de colisão com o secretário de Segurança do Estado do Rio, o delegado da Polícia Federal, José Mariano Beltrame. A Adepol-RJ pediu a exoneração do secretário devido à “invasão inédita, desrespeitosa e ilegal de delegacias policiais”. Nesta terça-feira (15/2), a Federação Nacional dos Policiais Federais, em nota, saiu em defesa de Beltrame.
A operação foi uma iniciativa conjunta da Polícia Federal no Rio, a Secretaria de Segurança Pública do Estado e o Ministério Público Estadual. Os órgãos apontam a atuação de um grupo criminoso formado por policiais e informantes envolvidos com o tráfico de drogas, armas e munições, com a segurança de pontos de jogos clandestinos, como máquinas de caça-níqueis e jogo do bicho, venda de informações policiais e com milícias.
Em carta aberta ao governador do Estado, Sérgio Cabral, publicada no site da entidade, o presidente da Adepol do Rio de Janeiro, Wladimir Sérgio Reale, pede a exoneração do secretário de segurança. A associação diz que, durante a operação, houve “violência intolerável” e o resultado das buscas e apreensões — segundo a PF, havia 48 mandados para este fim — restaram-se “infrutíferas”.
A Adepol também atacou o currículo de Beltrame. “É notória a inexperiência do secretário Beltrame, no que se refere às atividades de Polícia Judiciária, tendo em conta que recém-saído da Academia Nacional de Polícia em Brasília, com um pouco mais de 2 anos no cargo de delegado de Polícia Federal, foi nomeado para o cargo político de Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro”, diz o presidente da entidade na carta.
A reação não demorou. Também em nota, a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) divulgou apoio ao secretário. Citando o trecho da carta da Adepol sobre o currículo, a federação diz que “o policial Beltrame é o único delegado de Polícia Federal que conseguiu obter sucesso frente a uma secretaria de Segurança Pública em todo o Brasil. Seria pelo fato de toda a experiência do policial federal estar baseada no conhecimento profundo dos fenômenos sociais e da segurança pública e não em códigos e inquéritos estapafúrdios?”, questiona.
Em outro trecho da carta, que também gerou a reação da Fenapef, a Adepol do Rio diz que “Beltrame não é cultor do direito e não demonstra reconhecer a importância essencial da Polícia Judiciária Nacional na sua competência constitucional de promover a instrução”.
“O que é isso? Os cultores do Direito seriam os juristas da Polícia, que ainda defendem o modelo falido de investigação criminal e o jurássico inquérito policial?”, critica a Federação.
Nesta sexta-feira, o delegado Allan Turnowski deixou a chefia da Polícia Civil. Durante a operação Guilhotina, um dos presos preventivamente foi o delegado Carlos Oliveira, ex-subchefe operacional da Polícia Civil. Na ocasião, Turnowski chegou a ser chamado para prestar depoimento. Para substituí-lo, Beltrame convocou a delegada Martha Rocha.
No domingo (13/2), a Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Draco) foi lacrada. A decisão foi de Turnowski, que teria recebido uma carta anônima denunciando irregularidades da delegacia, como um esquema de cobrança de propina. Segundo o portal G1, o titular da Draco, delegado Cláudio Ferraz, teria ajudado na operação da PF.
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