Marcelo Rocha
Da equipe do Correio
Carros de luxo apreendidos em operações contra o crime organizado em todo o país reforçam a frota de veículos que servem à cúpula da Polícia Federal em Brasília. Após o BMW X5 colocado à disposição do então diretor de Inteligência da corporação, delegado Renato Porciúncula, surge outro veículo com histórico parecido. O atual diretor de Logística da PF, delegado Joaquim Mesquita, circula nas ruas da capital à bordo de um Toyota Camry, 2006/2007, blindado e avaliado em R$ 150 mil.
A pedido da PF no Mato Grosso do Sul, encarregada da operação Bola de Fogo que, em 2006, resultou na prisão de 92 pessoas, o juiz Odilon de Oliveira, da 3ª Vara da Justiça Federal no estado, autorizou o uso provisório do veículo pela corporação como reforço de sua capacidade operacional.
O Toyota, porém, foi trazido para Brasília e hoje é utilizado exclusivamente por Joaquim Mesquita, ocupante de um posto burocrático na máquina policial. Como diretor de Logística, o delegado tem a missão de suprir as necessidades de recursos materiais dos vários setores da PF.
No intervalo de sete dias, o Correio flagrou duas vezes o Toyota parado no estacionamento pago do aeroporto de Brasília — ontem e na sexta-feira passada. Nas duas ocasiões, Joaquim estava fora da cidade em viagem a serviço. O veículo ficou parado no local de um dia para o outro.
O carro está em nome da Sudamax Indústria e Comércio de Cigarros Ltda., sediada em Cajamar (SP). A empresa, de acordo com a polícia, pertence aos irmãos Peter Young, David Li Mim Young e Daniel Young Lih Shing. Os três foram indiciados no inquérito que apurou aquele que foi considerado o maior esquema de contrabando e comercialização ilegal de cigarros do país.
Blindagem
Procurado ontem pela reportagem, Joaquim Mesquita foi localizado, por telefone, em Roraima, onde participava de reuniões de trabalho. Ele confirmou que o Toyota fica a sua disposição 24 horas por dia. “O carro está à disposição da Diretoria de Logística da Polícia Federal e eu o utilizo para me deslocar para o trabalho, para o local de residência e também para o aeroporto”, afirmou.
Mesquita explicou que o carro foi colocado à disposição da polícia e que não houve indicação de pessoas. Ele justificou que, pelo fato de ser blindado, o veículo oferece segurança que o posto de diretor que ocupa atualmente reivindica. Além disso, o delegado sustentou que a situação é de “pleno” conhecimento da Justiça Federal no Mato Grosso do Sul e que tem toda a documentação relativa à autorização de uso. “Nada foi feito ao arrepio da lei”, garantiu.
Memória
Indícios de “uso pessoal”
Em reportagem de 17 de dezembro, o Correio revelou que o delegado Renato Porciúncula, ex-diretor de Inteligência da Polícia Federal e atualmente no posto de assessor especial da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), utilizava um BMW X5, avaliado em R$ 300 mil e apreendido durante operação contra o tráfico de drogas, para se deslocar de casa para o trabalho. A PF recebeu autorização para uso do veículo, mas Porciúncula teve o aval da Justiça para levá-lo quando se mudou para o órgão vinculado à Presidência da República em outubro passado. A Secretaria de Controle Interno (Ciset) da Presidência identificou indícios de uso no interesse pessoal e enviou relatório da situação ao Tribunal de Contas da União (TCU). O juiz Sérgio Moro, da 2ª Vara Federal do Paraná, que concedeu a autorização para uso do automóvel, reúne informações para definir se o carro ficará na agência ou retornará à PF. (MR)
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