O governo comemorou o desempenho do presidente Lula na entrevista ao programa “Roda Viva”, mas a oposição contestou ao longo do dia as declarações dele negando a existência do mensalão e afirmando que não há provas de corrupção apuradas pela CPI dos Correios. Os oposicionistas não aceitaram a análise do presidente sobre o processo de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP), avaliado por Lula como um julgamento meramente político, sem provas contra o petista.
Integrantes da CPI, que pediu a cassação de Dirceu, e outros 17 deputados rebateram Lula. O relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR), insistiu que os depoimentos do ex-deputado Roberto Jefferson, do ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri e do empresário Marcos Valério, além das investigações, representam provas testemunhais e evidências de culpabilidade.
— O presidente fez uma avaliação equivocada ao dizer que não há provas contra Dirceu — disse Serraglio.
Para Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), a CPI desmontou a estrutura montada no governo e no PT, levou parlamentares a julgamento, destruiu o discurso em defesa da ética usado pelos PT. Ele diz que, ao negar a existência do mensalão, o presidente se coloca como defensor dos envolvidos nas denúncias de corrupção.
— O presidente mais uma vez se mostra descolado da realidade e, pela primeira vez, de forma categórica contesta uma tese que é aceita não só pelo Congresso mas pela sociedade, e acaba se posicionando como advogado dos corruptos— disse.
Outro integrante da CPI, o deputado tucano Eduardo Paes (RJ) afirmou que Lula mentiu na entrevista.
— A evidência da conexão entre o Banco do Brasil e o PT, com os repasses feitos pela empresa Visanet, mostra que há dinheiro público no esquema montado com Marcos Valério e caracteriza que o presidente não disse a verdade. De omisso, passou a mentiroso — atacou Paes, lembrando que o relatório da CPI que pediu a cassação dos parlamentares citados na lista de Valério como beneficiários de saques foi aprovado com votos de petistas.
Virgílio: “Banal, pequeno e vazio”
O relator do processo de cassação de Dirceu, Júlio Delgado (PSB-MG), disse que Lula no mínimo se co-responsabilizou pelos atos de Dirceu. Segundo Delgado, no relatório há várias provas de envolvimento de Dirceu no repasse de dinheiro a aliados. Como as negociações de PL e PT, na aliança para a eleição de 2002 e os pagamentos ao PL entre 2003 e 2004.
— Tem também a Ângela Saragoça (ex-mulher de Dirceu) beneficiada pelos bancos que fizeram empréstimos ao PT. E a relação entre Marcos Valério e Dirceu é a prova mais contundente.
No Senado, a oposição discursou contra o presidente sem que um único governista fosse defendê-lo. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), afirmou que a entrevista foi “do patético à cara dura” e mostrou um presidente despreparado. Virgílio acusou Lula de mentir ao reafirmar que não sabia do caixa dois e do mensalão.
— O presidente foi banal, pequeno e vazio. Mentiu ao reafirmar que nada sabia, ao negar o caixa dois, que admitira na França como corriqueiro. Houve dinheiro público, sim. A acusação no caso Banco do Brasil/Visanet é frontal e nem a velhinha de Taubaté duvida que houve mensalão.
O líder do PFL, José Agripino (RN) disse que a entrevista mostrou um presidente informado sobre questões econômicas e outro que nada sabe sobre corrupção.
— Foi peça de insinceridade.
Tasso Jereissati (PSDB-CE) se disse surpreso com a entrevista:
— O presidente foi treinado por um jurista competente para dizer de forma convincente tudo o que não viesse a lhe incriminar.
O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), comparou o presidente ao personagem Pinóquio.
— Em alguns momentos da entrevista, parecia que o nariz dele iria crescer.
O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), saiu em defesa do presidente:
— O presidente reafirmou o que as investigações demonstraram. Não há mensalão e há o caixa dois envolvendo vários partidos.
No Planalto, a entrevista foi bem avaliada. O ministro Jaques Wagner, (Relações Institucionais) e o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Luiz Gushiken defenderam Lula.
— Se o presidente diz que não há provas contra o ministro José Dirceu, a oposição diz que ele se arriscou. Se dissesse que Dirceu tem que ser cassado, a oposição diria que jogou o ministro às feras — afirmou Wagner
— O presidente foi muito claro, sincero e as afirmações são verdadeiras, ou seja, não foi provado o mensalão e há um processo político em torno do ministro Dirceu — disse Gushiken.
Para o líder do PSB, deputado Renato Casagrande (ES), as críticas da oposição embutem interesses eleitorais, mas reconheceu que o ponto fraco foi Lula contestar evidências.
— Afirmar que não teve repasse não é acertado. Pode não ter havido o repasse mensal.
Em Belo Horizonte, o vice-presidente José Alencar (PR-MG) disse que dormiu e acordou só no fim da entrevista. Mas achou Lula tranqüilo e seguro. Afirmou que não há razão para que seja aberto o processo de impeachment do presidente, porque a moral dele não foi atingida.
O senador Jefferson Peres (PDT-AM) disse que Lula foi evasivo e não foi sincero nas respostas, e deu mostras de que sabia de tudo, mas tem medo do que os petistas podem revelar, tornando-se refém deles.
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09
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