quebra de decoro
Peritos complicam Renan
Técnicos do Senado comprovam denúncia de que duas supostas compradoras de gado da fazenda do peemedebista são empresas que não existem. Para relatores, a situação do peemedebista é delicada
Gustavo Krieger e Edson Luiz
Da equipe do Correio
Ronaldo de Oliveira/CB – 16/7/07 |
Renan Calheiros: frigorífico foi quem usou as empresas de fachada sem seu conhecimento |
Ronaldo de Oliveira/CB – 19/6/07 |
`O presidente Renan diz não ter responsabilidade pelas irregularidades. Espero que a investigação da Polícia Federal esclareça isso` Senador Renato Casagrande (PSB-ES) |
Foi o próprio Renan quem entregou ao Conselho os documentos que hoje lhe rendem tanta dor de cabeça. O senador tentava responder à suspeita de que ele tinha ajuda do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, para pagar suas despesas pessoais. Entre elas, uma pensão de R$ 12 mil mensais à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. Como o valor da pensão superava seu salário como parlamentar, o senador precisava demonstrar que tinha outras fontes de renda. Foi aí que entraram os recibos de venda de gado.
Os problemas de Renan aumentaram quando uma reportagem da TV Globo levantou a suspeita de que parte dos supostos compradores não existia. O trabalho dos técnicos do Senado comprova essas suspeitas. Uma das empresas de fachada é a GF da Silva Costa. Segundo a documentação entregue por Renan, ela teria comprado R$ 164 mil em bois do senador. Quando as operações foram feitas, a empresa estava fechada. Mesmo assim, supostamente emitiu cinco recibos depois de ter o registro cassado. O caso é semelhante ao da Carnal, que teria pago R$ 127 mil às fazendas de Renan Calheiros. Nessa situação, há três recibos emitidos quando a empresa estava fechada.
Investigação
“As suspeitas sobre as empresas não são novas. Acabam de ser comprovadas pelos técnicos”, diz o senador Renato Casagrande (PSB-ES), um dos três relatores do caso no Conselho de Ética. “O presidente Renan diz não ter responsabilidade pelas irregularidades. Espero que a investigação da Polícia Federal esclareça isso. Temos de saber se ele é cúmplice ou não. Não podemos nos antecipar.” O senador diz esperar que as suspeitas de fraude nas transações estejam sob investigação da Receita Federal e da Secretaria da Fazenda de Alagoas. “A denúncia original foi feita pela imprensa há semanas. Espero que as autoridades fiscais estejam investigando.” O Conselho tem de apostar no trabalho da PF e da Receita porque não tem poderes para quebrar sigilos fiscais ou bancários. Para isso teria de conseguir autorização do plenário do Senado, uma manobra política arriscada.
A polícia começou ontem uma perícia nos documentos contábeis de Renan. Os primeiros resultados devem aparecer dentro de 10 dias, quando o Congresso voltar do recesso. A PF não vai abrir procedimentos contra o senador, mas apenas concluir que os papéis entregues esta semana são verdadeiros, além de fazer um cruzamento entre compra e venda de gado e a emissão das notas e de Guias de Transportes de Animais (GTAs).
O tom entre os relatores é de cautela, mas o Correio apurou que a situação de Renan é muito difícil. Entre os relatores, ele conta com apenas um aliado, o senador Almeida Lima (PMDB-SE). Os outros dois, Casagrande e Marisa Serrano (PSDB-MS), estão dispostos a pedir sua condenação por quebra de decoro parlamentar. Nesse caso, pode perder o mandato. A comprovação de fraude nas notas fiscais agrava o quadro. O presidente do Senado pode ser acusado de quebrar o decoro por apresentar documentos fraudados ao Conselho. Algo semelhante ao caso do ex-senador Luiz Estevão. Acusado de envolvimento no superaturamento da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo, foi cassado com o argumento de que tinha mentido ao Conselho durante sua defesa.
A descoberta dos técnicos preocupou Renan. Ontem, o peemedebista telefonou a senadores apresentando uma nova versão de sua defesa. O verdadeiro comprador seria o frigorífico alagoano Mafrial. O problema é que não há recibo de nenhuma venda para o Mafrial na contabilidade do senador. Ele afirma que o frigorífico teria usado as empresas de fachada, sem seu conhecimento. “Nós estamos pedindo que as empresas que compraram a carne sejam investigadas. Nós precisamos saber a movimentação dessas empresas, se têm movimentação no Serasa, se têm contrato na junta comercial, porque os cheques foram depositados na minha conta e foram pagos”, declarou em entrevista na última terça-feira.
ANÁLISE DA NOTÍCIA Resistência até o fim Renan Calheiros apostou no recesso parlamentar para retomar o fôlego político. Imaginava que o Congresso vazio durante duas semanas reduzisse a cobertura da imprensa sobre seu caso e, em conseqüência, a pressão da opinião pública. Nesse período, as investigações prosseguiriam a passo lento, tanto na Polícia Federal quanto no Conselho de Ética. Outra aposta do senador era em restringir a abrangência das investigações. Ele esperava que os documentos de sua defesa sofressem apenas uma perícia técnica, para estabelecer se as notas fiscais apresentadas por ele são verdadeiras ou não. A notícia de que os funcionários do Senado ampliaram o trabalho e descobriram que dois dos supostos compradores são empresas fantasmas atrapalha o recesso de Renan. O senador foi obrigado a mudar de tática. Ele, que planejava submergir nesses dias de recesso, teve de fazer uma ofensiva de marketing para responder à nova denúncia. Ontem compareceu ao programa Bom Dia Alagoas, da TV Gazeta, repetidora da Rede Globo e controlada pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), com quem mantém boas relações políticas. Na entrevista, repetiu o discurso de que vai provar sua inocência e resistir às pressões. Disse que a crise no Senado é artificial e que seus adversário erram ao confundi-lo com o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou depois de ser acusado de corrupção. “As pessoas pensaram que estavam diante de um fato consumado e de uma pessoa vulnerável, um novo ‘Severino’, mas erraram completamente. Em nome da minha dignidade vou resistir até a última hora.” (GK) |
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