Fonte: Sinpef/ES
O papiloscopista Policial Federal, Carlos Magno Girelli, desenvolveu em sua tese de doutorado em Física pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) uma pesquisa que está chamando a atenção de especialistas de todo o mundo. Abordando a revelação de impressões digitais em cartuchos de munição deflagrados, os resultados da pesquisa poderão orientar os peritos em impressões digitais do Brasil ao processar cartuchos visando à identificação de suspeitos.
Formado em Física e em Direito, Girelli iniciou sua pesquisa em 2013, em Brasília (DF), no Instituto Nacional de Identificação (INI), do Departamento de Polícia Federal. Após dois meses de trabalho na capital federal, em parceria com o Químico e também papiloscopista Policial Federal, Bernardo Lobo, retornou ao Espírito Santo e prosseguiu com o trabalho no Laboratório de Materiais Carbonosos e Plasma Térmico do Departamento de Física da UFES, contando com o apoio de seu orientador professor Francisco Emmerich (meu orientador) e dos professores Jair Freitas e Alfredo Cunha.
Após análise de um número significativo de amostras e comparação de diversas técnicas de revelação de impressão digital, o papiloscopista conseguiu identificar a sequência de técnicas mais adequadas para o processamento de cartuchos deflagrados. “Por uma série de motivos, a identificação de suspeitos com base nas impressões digitais reveladas a partir de cartuchos deflagrados é muito difícil. O problema é antigo, não há consenso na literatura científica quanto ao melhor método de revelação a ser aplicado e são raros os casos criminais solucionados nesse sentido. Até então, não havia procedimento padrão no Brasil que orientasse quanto a isso. Agora existe uma pesquisa científica embasada em critérios objetivos e padrões internacionais que preenche essa lacuna”.
Os resultados da pesquisa sugerem a aplicação sequencial de três diferentes reagentes compatíveis entre si e que requerem três diferentes tipos de iluminação, de modo a aumentar a probabilidade de sucesso. Um deles, à base de ácido selênico e sulfeto de cobre, é comercializado no exterior para finalidade diversa sob a denominação de Gun Blue. Este produto apresenta elevado potencial para revelação de impressões digitais em superfícies metálicas, baixo custo e ainda é pouco conhecido e utilizado pelos peritos no Brasil. A pesquisa conduzida por Girelli levou ainda à observação de um fenômeno inédito que tem intrigado renomados pesquisadores da área. Sob certas circunstâncias, o Gun Blue reage de forma diferente em superfícies metálicas previamente aquecidas, gerando revelação invertida em relação ao esperado, como em um negativo fotográfico.
“Estamos trabalhando para compreender a fundo os fenômenos físico-químicos envolvidos na reação do Gun Blue com a superfície metálica e em que circunstâncias a revelação invertida ocorre. Acreditamos que, com a conclusão da tese, seja possível aos peritos ir além da identificação do autor de uma impressão digital revelada em superfície metálica que sofreu aquecimento. Dependendo do padrão de revelação observado (normal ou invertido), o perito poderá também determinar se o autor tocou a superfície antes ou após o aquecimento. Essa informação pode ser muito importante, por exemplo, ao examinar locais de crime envolvendo incêndio criminoso ou homicídio seguido de incêndio visando eliminar evidências, onde a presença do autor no local de crime antes ou após o incêndio pode ser o diferencial para sua condenação ou absolvição”, explica Girelli.
Repercussão internacional
As descobertas de Carlos Magno Girelli ganharam repercussão internacional. O policial federal já publicou diversos artigos sobre o assunto, incluindo um na revista Forensic Science International, a mais importante de ciências forenses do mundo.
Também participou da 100ª Conferência Internacional da Associação Internacional para Identificação (IAI – International Association for Identification), maior e mais antiga associação desta área, realizada nos Estados Unidos, em agosto. Na ocasião, seu trabalho foi escolhido por um dos maiores expoentes das impressões digitais, Dr. Robert Ramotowski, do Serviço Secreto dos Estados Unidos, para ser explicado aos participantes do evento.
Em outubro, Girelli participará do Encontro do Grupo Internacional de Pesquisa em Impressões Digitais (IFRG – International Fingerprint Research Group), que ocorre na Índia. Reunindo renomados pesquisadores do mundo da área de impressões digitais, o evento recebe apenas convidados. O capixaba será o primeiro perito em impressões digitais da América do Sul a se tornar membro do IFRG, que possui representantes de todas as regiões do globo. “Lá serão apresentados e discutidos cerca de 50 artigos científicos relevantes e atuais por aproximadamente 30 renomados pesquisadores. Farei apresentação oral deste trabalho com cartuchos e de outro sobre detecção de impressões revertidas (espelhadas) em documentos falsos”, antecipa.
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