Fonte: Correio Braziliense
A presidente Dilma Rousseff divulgou nota no fim de semana para negar que pretenda fazer uma reforma ministerial. Desautorizou, assim, as vozes que, dentro do próprio governo, deixaram vazar a discussão sobre a necessidade de mudanças na sua equipe de auxiliares – incluindo postos chave na área econômica – para recuperar parte da credibilidade perdida com os insucessos da política colocada em prática a partir de 2011, que resultou em baixo crescimento e inflação elevada.
Por mais categórico que tenha sido, o desmentido não coloca uma pedra sobre o assunto. A pressão para que Dilma altere a condução da política econômica não vai diminuir enquanto as condições de vida da população, afetada pela carestia, e o ambiente de trabalho das empresas, com margens de lucro cada vez mais apertadas, não derem sinais claros de alguma melhora. O que verifica, no entanto, é que o cenário continua se deteriorando, e em ritmo acelerado.
Os mais recentes relatórios de consultorias e departamento de análise de instituições financeiras indicam que a economia está parando, com as projeções para o crescimento do PIB, neste e no próximo ano, caindo veloz e sucessivamente. A Confederação Nacional da Indústria também reforçou o pessimismo ao rever, na semana passada, a estimativa de expansão econômica para 2% em 2013, com a atividade do setor aumentando apenas 1%. Pior ainda, já começam a circular previsões de que o país poderá experimentar um período de contração no fim deste ano e, talvez, também no início de 2014.
Com a população comprometendo, em média, mais de 40% de sua renda com dívidas, a saída pelo aumento forçado do consumo deixou de funcionar já há algum tempo. Até o início do ano, o governo acreditava que a queda dos juros bancários, induzida pela atuação agressiva das instituições públicas na oferta de crédito, permitiria o refinanciamento de parte dos débitos do consumidor com taxas mais amigáveis, abrindo espaço para a nova expansão das vendas do varejo e, por tabela, da atividade econômica em geral.
Mas, além de não resolver o problema do endividamento, a estratégia acabou contribuindo para elevar a inflação, que reduziu ainda mais o poder de compra dos brasileiros e obrigou o Banco Central, com uma boa dose de atraso, a iniciar um novo ciclo de aumento dos juros para segurar o custo de vida, que terá inevitavelmente, a curto prazo, reflexo negativo sobre o crescimento.
Privatização
A recente disparada das cotações do dólar é mais um elemento que ajuda a turvar o ambiente de negócios. O real mais fraco pode ajudar momentaneamente as exportações, mas tem impacto direto nos preços e prejudica as cadeias produtivas com grau elevado de componentes importados e as empresas com dívidas contraídas em moeda estrangeira. Esse ambiente de baixo crescimento, inflação resistente, juros em alta e desvalorização cambial desfavorece o elemento de que o país mais precisa, nesse momento, para sair da enrascada em que se encontra: os investimentos.
Não é à toa, portanto, que mercado e empresas estejam pessimistas. Para reverter o quadro, o Planalto joga todas as suas fichas no ambicioso plano de privatização da infraestrutura, que pretende iniciar em agosto. O governo tem em carteira projetos estimados em US$ 115 bilhões entre 2013 e 2014, nas áreas de portos, ferrovias, rodovias e aeroportos. Motivar os investidores a assumir contratos bilionários, com duração de até 35 anos, no entanto, não será fácil.
Os potenciais candidatos ainda consideram que, diante dos riscos envolvidos, as taxas de retorno oferecidas são baixas. Além disso, a piora dos indicadores já levou duas agências de classificação de risco (Moody’s e Standard & Poor’s) a colocar a economia brasileira em perspectiva negativa, o que afugenta o capital externo. Pesam contra o Brasil também os chamados riscos regulatórios, isto é, a falta de garantia de que os recursos investidos no país estarão a salvo de eventuais mudanças de humor dos governos. A presidente Dilma contribuiu muito para que esse temor aumentasse depois da brusca intervenção no setor de energia, no fim do ano passado, que provocou perdas patrimoniais no setor. Além disso, mesmo que os leilões de concessão tenham o sucesso que se espera, os efeitos no crescimento só serão sentidos a partir de 2014. A essa altura não há como Dilma escapar de apresentar em 2013 o terceiro ano consecutivo de baixo crescimento da economia.
Promessas
A falta de clareza sobre a direção da política econômica torna o cenário mais complicado. Num esforço para reduzir as desconfianças, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou, na semana passada, um corte de R$ 15 bilhões nos gastos federais e reafirmou a promessa de alcançar um superavit primário equivalente a 2,3% do PIB, sem recorrer aos artifícios contábeis que vinham sendo usados sem cerimônia nos últimos meses para ajustar o resultado das contas públicas às metas exigidas, sem, no entanto, que se tivesse a mínima segurança da consistência dos dados.
O discurso vai na direção correta. A discrepância entre o aumento de gastos patrocinado pelo Ministério da Fazenda e a política monetária restritiva do Banco Central é um dos principais pontos que põe em xeque a solidez do que Mantega já chamou de “novo mix de política econômica”, para explicar o abandono dos parâmetros que, com pequenas variações, vinha pautando a ação dos governos desde o fim dos anos 1990. A tal ponto chegou o desencontro que o BC, um órgão de Estado, deixou de considerar os dados sobre o superavit primário publicados pela Secretaria do Tesouro, preferindo construir suas próprias estimativas. O desafio, porém, é fazer analistas, mercado e empresários a abandonar o crescente ceticismo com que, diante da falta de resultados, se habituaram a encarar as ações com que o governo promete colocar a economia num rumo mais seguro.
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