As relações da Polícia Federal com a área econômica do governo, que já não andavam boas, azedaram de vez. Depois de esperar duas horas por uma reunião na qual ouviriam a contraproposta do governo à reivindicação de reajuste salarial de 30%, representantes de entidades sindicais da PF abandonaram o Ministério do Planejamento. E anunciaram a manutenção da greve marcada para o próximo dia 18 de abril. Seria uma paralisação de um dia. Agora, pode durar mais.
“Fomos tratados como cachorros ou coisa parecida”, disse ao blog o agente Marcos Wink, presidente da (Federação Nacional dos Policiais Federais). “O governo está nos empurrando para a greve. Vou repassar o que aconteceu aqui à categoria. Isso vai revoltar o nosso pessoal. Temos um calendário pré-determinado e vamos cumprir. Dia 18 faremos um dia de paralisação, com operação padrão nos aeroportos. Diante do ocorrido, tudo é possível. A paralisação pode ser ampliada para dois, três dias. Pode ser até por prazo determinado, vamos discutir.”
Estava previsto que os dirigentes das entidades que representam a PF se reuniriam com o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça. O encontro deveria ter ocorrido na terça (10). Foi adiado para esta quarta (11), às 14h30. Mas o preposto do ministro Paulo Bernardo (Planejamento) não deu as caras.
“Marcaram para as 14h30. Chegamos ao ministério às 14h15, somos disciplinados. Entramos na sala de reuniões. Aguardamos até as 16h15. Fomos desrespeitados”, disse Marcos Wink. “Levantamos e fomos embora. Ficaríamos lá até quando? Vinha um servidor e dizia que o secretário estava numa reunião em outro ministério. Vinha outro e dizia que o secretário estava lá mesmo. Depois de duas horas, nossa paciência se esgotou. É como se o governo dissesse: vocês não valem nada. Façam o que quiserem. Estão nos empurrando para a greve.”
A aumento de 30% reivindicado pela PF integra um contencioso que vem do ano passado. Em compromisso escrito, o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) prometera a delegados, agentes e demais funcionários do DPF (Departamento da Polícia Federal) um reajuste de 60%. Seria concedido em duas parcelas, ainda em 2006. A primeira, de 30%, foi incorporada aos contacheques. Porém, a segunda, que deveria ser liberada em dezembro de 2006, não veio. Daí a revolta do funcionalismo da PF.
Na semana passada, depois de ter negaceado a promessa de Thomaz Bastos, Paulo Bernardo acenara com uma contraproposta. Em privado, disse que ofereceria um reajuste parcelado à PF. Era essa proposta que deveria ter sido apresentada na reuniao desta quarta pelo secretário Sérgio Mendonça. Que, no entanto, preferiu dar um chá de cadeira nos sindicalistas da PF.
Para o presidente da Fenafep, Mendonça descredenciou-se como negociador confiável. “Esse escalão do governo mostrou que não merece a nossa confiança”, disse ao blog Marcos Wink. “Agora, vamos discutir o que fazer. Esperamos que alguém responsável do governo se apresente para discutir conosco. Nem que seja para dizer que não vão nos dar nada.”
Escrito por Josias de Souza às 17h59
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