MINISTRA-CHEFE DA CASA CIVIL FICOU IRRITADA COM DECLARAÇÕES DO TITULAR DA JUSTIÇA SOBRE PAC E ELEIÇÕES DE 2010- Estadão
Vera Rosa, BRASÍLIA
A primeira reação que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teve ao saber que a Operação João de Barro, da Polícia Federal, pôs o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na berlinda foi de revolta. “É mais uma do Tarso”, protestou Dilma, logo que o teor da investigação foi divulgado, no último dia 20, numa referência ao ministro da Justiça, Tarso Genro.
O comentário retrata a disputa política que marca a relação entre os dois. Sorridentes em público, Dilma e Tarso dão cotoveladas nos bastidores. A chefe da Casa Civil chegou a se queixar do colega ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Motivo: não gostou de declarações dadas pelo titular da Justiça sobre sua possível candidatura à Presidência, em 2010. Além disso, ficou furiosa com o anúncio de que a construção de casas populares do PAC era objeto de corrupção
Tarso foi o primeiro que mencionou o PAC ao tratar do tema. A operação da Polícia Federal apontou um esquema de cobrança de propinas em obras que envolvem 119 prefeituras e teria desviado R$ 700 milhões. “Não há hipótese de qualquer tolerância em relação a desvios e fraudes no âmbito do PAC”, afirmou Dilma. Lula deu razão à ministra. Há cinco dias, em cerimônia de assinatura de atos do programa, no Palácio do Planalto, ele escancarou sua insatisfação com o que chamou, reservadamente, de “pirotecnia” da Polícia Federal.
“Logo de cara, eu disse para a Dilma: não tem obra do PAC nessas cidades. E pasmem: de quase R$ 1,8 bilhão, apenas R$ 15 milhões foram liberados em oito cidades que começaram as obras. Isso significa menos de 1% do dinheiro previsto”, insistiu o presidente. Para Lula, ninguém pode dizer qual obra vem sendo investigada porque o processo corre em sigilo. “Mas já encontraram um culpado: é o PAC”, reclamou.
O jogo de escaramuças entre Dilma e Tarso veio à tona há pouco mais de um mês, quando o ministro da Justiça deu uma entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, na qual disse que o candidato do PT à sucessão de Lula precisaria ter como atributo “profundo vínculo partidário”. Foi além: afirmou que a ministra -ex-pedetista- não tinha militância no PT. “Não é defeito dela, é estilo de trabalho”, justificou.
Dilma ficou aborrecida e Lula pediu que o ministro amenizasse o tom. “Aquela entrevista gerou tensão entre eles e, a partir daí, começaram os problemas. Agora, a operação da Polícia Federal foi apenas mais um capítulo desse mal-estar”, contou um auxiliar de Lula ao Estado. “Não tenho qualquer divergência com Dilma”, disse Tarso, que não quis falar sobre o assunto.
Batizada de “mãe do PAC” por Lula, Dilma é a candidata preferida do presidente para herdar o seu espólio. Um dos mais conhecidos formuladores do PT, Tarso ficou em segundo plano. Há um ingrediente adicional nesse embate: se Dilma não emplacar para o Planalto, pode mudar o plano de vôo e tentar o Palácio Piratini. O problema é que Tarso se prepara justamente para concorrer ao governo gaúcho em 2010.
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