Peritos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) viajaram ontem para Curitiba onde farão o cruzamento das informações prestadas à CPI dos Correios por Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho Barcelona, e o material apreendido na Operação Farol da Colina, deflagrada em 2004 pela Polícia Federal e que colocou 62 doleiros atrás das grades. Embora Barcelona não tenha apresentado provas das remessas de dinheiro ao exterior — esquema que, entre outros, serviria a integrantes do PT —, há vasta documentação sobre as negociatas ilegais do doleiro sob a guarda de força-tarefa composta pelo Ministério Público Federal e pela PF criada para o combate a evasão de divisas.
O PT recorreu a Barcelona, afirmou o próprio doleiro, para “lavar” dinheiro da cobrança de propinas ou superfaturamento de obras públicas, como os de coleta de lixo, em cidades administradas pelo PT, caso de Santo André, Campinas e Ribeirão Preto, conforme mostrou reportagem do Correio do último domingo. O dinheiro dado “por fora” ao partido seguiria uma trilha da qual participam “laranjas” de doleiros, empresas instaladas em paraísos fiscais (as chamadas offshore), caso da Esfort Trading, no Uruguai, e contas em bancos norte-americanos até retornar ao país.
Remessas
A documentação apreendida durante a Operação Farol da Colina, feita a partir do caso Banestado, pode confirmar as informações fornecidas pelo doleiro. São papéis apreendidos em agências de viagem e casas de câmbio de pessoas acusadas de remeter dinheiro ilegalmente ao exterior. Muitas das informações contidas na papelada do ainda estão sendo esmiuçadas e têm colaborado com as investigações, como é o caso de remessas feitas ao exterior tanto pelo publicitário Duda Mendonça.
Enquanto os peritos analisam documentos, os delegados responsáveis pelo caso aguardam decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a quebra de sigilo de contas bancárias de empresas pelas quais dinheiro do esquema operado pelo empresário Marcos Valério teria transitado no exterior — como é o caso da empresa de Duda Mendonça, a Dusseldorf, Caribe, titular de conta no BankBoston em Miami, onde o publicitário recebeu dinheiro do PT referente a pagamento de prestação de serviço em campanha eleitoral de 2002. A PF estuda convocar Toninho Barcelona para depoimento.
Além da PF, Toninho Barcelona será ouvido também pelos promotores de Justiça de São Paulo encarregados da investigação da morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002. Barcelona declarou aos integrantes da CPI dos Correios na semana passada saber como funcionava o esquema de corrupção no município que envolveria concessionárias de serviços públicos. O doleiro teria lavado os valores arrecadados com o pagamento de propinas.
Segundo o promotor Roberto Wider Filho, ouvir o doleiro será importante porque que ele sinalizou com informações sobre o esquema de corrupção em Santo André. “Se de fato ele lavou dinheiro para o esquema, como alega, poderá contribuir com informações”, afirmou o promotor, que não fez referência à delação premiada — instrumento legal em que o condenado tem a pena abrandada por colaborar com investigações.
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