O publicitário Duda Mendonça pode não ter dito toda a verdade quando, em depoimento à CPI dos Correios, afirmou que recorreu à conta de uma off-shore no exterior pela primeira vez em 2003 e por exigência do empresário Marcos Valério de Souza Fernandes. Relatório reservado do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal informa que entre 1997 e 2000, Duda e a sócia dele, Zilmar Fernandes da Silveira, fizeram transações de US$ 1,6 milhão com a Agata Internacional, off-shore nas Ilhas Virgens Britânicas, administrada pelo doleiro Roger Clement Haber.
Duda disse que abriu em 2003 a Dusseldorf, uma off-shore com sede nas Bahamas, para receber R$ 10 milhões de Valério, como pagamento de uma parcela da dívida de campanhas eleitorais do PT com o publicitário. Mas o relatório da PF, enviado ao Supremo Tribunal Federal na sexta-feira, mostra que ele e Zilmar vinham fazendo transações com a Agata Internacional há pelo menos oito anos.
Segundo o documento, que também se encontra na base de dados do caso Banestado, Duda fez, a partir de uma conta no Banco de Boston, nove ordens de pagamento para uma conta da Agata, no MTB Bank, de Nova York. A primeira remessa, de US$ 90 mil, foi registrada no dia 19 de maio de 1999. A última, contabilizada no dia 30 de maio de 2000, foi de US$ 49 mil.
Para Zilmar, 13 ordens bancárias
Os peritos da PF descobriram 13 ordens de pagamento e recebimento entre uma conta em nome de Zilmar, no Banco de Boston, e a Agata Internacional. Ao todo, eles fizeram negócios da ordem de US$ 909,4 mil. Em 28 de fevereiro de 1997, US$ 150 mil saíram da conta de Zilmar e caíram na conta da Agata. Esta foi a primeira das ordens de pagamento de Zilmar para a Agata.
A Agata também fez pelo menos três transferências para a conta de Zilmar: a primeira, de US$ 19,4 mil, no dia 10 de junho de 1998; e a última, no dia 18 de dezembro deste mesmo ano, no valor de US$ 97,1 mil. As transações chamaram a atenção da polícia porque obedecem ao mesmo padrão de remessas ilegais para o exterior por meio de um sistema conhecido como dólar-cabo, operado por doleiros.
Pelo mecanismo, quem quer mandar dinheiro para outro país sem declará-lo ao Banco Central e à Receita Federal deposita a quantia na conta de um doleiro no Brasil. No mesmo instante, numa operação casada, mas sem ligação formal entre si, o doleiro faz o depósito da mesma quantia na conta do interessado no exterior. Pelas investigações da CPI do Banestado, o MTB Bank era uma das principais bases de operação de um sistema internacional de lavagem de dinheiro.
A Agata Internacional também esteve na mira da CPI do Banestado. Pelos cálculos da extinta CPI, a Agata movimentou US$ 600 milhões no MTB Bank de 1997 a 2003. A partir desta data, o MTB Bank foi incorporado pelo Hudson Uniteds Bank e a Agata teria sido fechada.
A PF pretende agora aprofundar as investigações sobre essas movimentações, inclusive com a ajuda do FBI.
— É preciso saber se ele declarou essas remessas na Receita Federal. Caso contrário, ele pode ser processado por evasão de divisas e sonegação de impostos — disse um dos investigadores do caso.
Procurados na noite de sexta-feira de passada, Duda e Zilmar não responderam aos recados deixados nas caixas postais de seus telefones celulares.
Veja infográfico
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