A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal o bloqueio da conta da offshore Dusseldorf Company Ltd., aberta pelo publicitário Duda Mendonça para receber R$ 10,5 milhões de caixa dois do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. A empresa tem sede nas Bahamas e conta bancária, segundo os investigadores, nos Estados Unidos.
O bloqueio da conta faz parte de um conjunto de providências sugeridas na última quinta-feira pela PF ao ministro do STF Joaquim Barbosa, relator do inquérito que apura o “mensalão” -suposto pagamento de mesada a parlamentares da base aliada ao governo em troca de apoio- e a prática de formação de caixa dois.
Como as providências têm alcance internacional, o trâmite deve se dar com a intermediação do Ministério da Justiça, por meio do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional.
A PF também sugeriu ao ministro Joaquim Barbosa a quebra do sigilo de oito contas de empresas que alimentaram a Dusseldorf.
São elas: Deal Financial Corporation, Trade Link Bank, Rural International Bank, Radial Enterprise, Kanton Business, Banco Rural Europa, SM Import e SM Comex.
Os pedidos de bloqueio da conta e quebra dos sigilos serão encaminhados ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que dará parecer favorável ou não. Em caso positivo, cabe ao ministro Joaquim Barbosa, do Supremo, decidir se acata ou não o pedido da Polícia Federal.
Orientação
Em depoimento à CPI dos Correios na semana passada, Duda afirmou ter aberto a Dusseldorf, nas Bahamas, seguindo orientação que o empresário Marcos Valério havia dado à sua sócia.
A conta bancária da offshore seria supostamente o meio proposto pelo empresário mineiro para que Duda recebesse o pagamento de pendências referentes a campanhas petistas que fez em 2002.
Marcos Valério, por sua vez, afirma que foi Duda quem o instruiu a mandar dinheiro para contas no exterior.
Usando uma rede de movimentação financeira que Valério já conheceria no exterior, segundo Duda e Zilmar disseram à CPI, foram depositados na conta da Dusseldorf R$ 10,5 milhões como amortização de uma dívida total de R$ 15,5 milhões.
Principalmente pela movimentação financeira do publicitário e de sua sócia no exterior, a PF suspeita não ter sido a primeira vez que Duda, marqueteiro experiente na política, recebeu dinheiro de caixa dois por serviços prestados em campanhas.
No domingo, a Folha revelou que Duda e Zilmar movimentaram, entre 1997 e 2000, pelo menos US$ 1,5 milhão nos EUA, em regra usando como origem ou destino do dinheiro suas contas no BankBoston e a intermediação de uma conta bancária pertencente à offshore Agata, no MTB Bank, instituição financeira nos Estados Unidos.
A Agata tem sede nas Ilhas Virgens Britânicas e é controlada por doleiros brasileiros que estão sob investigação da Polícia Federal.
Investigação
Os procuradores da República e os delegados da Polícia Federal que atuam na investigação do chamado mensalão reuniram-se ontem à tarde para discutir os próximos passos do inquérito criminal que tramita no STF.
Concluída a primeira etapa da apuração, o procurador-geral da República deverá sugerir ao STF nos próximos dias que autorize a realização das novas operações solicitadas pela PF e conceda a renovação do prazo da investigação por mais 30 dias.
A lista de pedidos da PF inclui, ainda, a autorização do STF para formação de um banco de dados comum entre a CPI dos Correios e a Polícia Federal.
Seria uma forma de otimizar as informações já disponíveis, evitando novos pedidos de quebra de sigilo e, ao mesmo tempo, permitindo o acesso mais rápido aos dados -já que a CPI tem autonomia para propor e ela mesma autorizar o acesso a dados sigilosos, sem ter de passar pelo Judiciário.
Entre os depoimentos previstos nesta nova fase da investigação está o de Jeany Mary Corner, suposta agenciadora de garotas de programa. Desde a semana passada, a PF tenta encontrá-la em Brasília, sem sucesso.
Segundo depoimento dado a PF pelo empresário Ricardo Penna Machado, ex-sócio de Marcos Valério, Jeany agenciou a participação de seis garotas de programas em uma festa promovida pelo empresário mineiro em setembro de 2003, na suíte presidencial do hotel Gran Bittar, em Brasília.
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