A Polícia Federal (PF) desencadeou ontem uma megaoperação, batizada de Pégasus, em sete estados e no Distrito Federal, para prender uma quadrilha que cometia crimes financeiros pela internet. O bando utilizava e-mails falsos para obter de usuários da rede de computadores suas senhas bancárias. De posse dos dados, movimentava as contas, fazendo pagamentos, compras e transferências eletrônicas, além de usar contas de “laranjas” (testas-de-ferro) para dificultar o rastreamento dos recursos desviados. Estimativas apontam para uma fraude de cerca de R$ 80 milhões, cometida com a participação de mais de cem pessoas.
Foram expedidos para a operação – umas das maiores já realizadas na área de crimes eletrônicos – 141 mandados de prisão temporária e preventiva, de busca e apreensão. Até o fim da noite, 108 pessoas haviam sido presas, numa ação que mobilizou 410 policiais. Entre os presos, estão pelo menos 20 pessoas que encabeçavam os crimes financeiros. São programadores, recrutadores de contas “laranjas” e pessoas que enviavam e-mails falsos.
Eles foram indiciados por formação de quadrilha, furto qualificado e violação do sigilo bancário. Se forem condenados, poderão pegar até oito anos de prisão.
A Operação Pégasus foi realizada nos estados de Goiás, Pará, Tocantins, Maranhão, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. No entanto, segundo o delegado da Divisão de Repressão a Crimes Cibernéticos, Cristiano Sampaio, que coordenou a operação, a quadrilha estava invadindo também bancos da Inglaterra e dos Estados Unidos. A Polícia Federal descobriu inclusive indícios de que os programas criados pelos criminosos estavam sendo exportados para a Venezuela.
Segundo a PF de Goiás, a quadrilha, investigada há quatro meses, era a maior e mais especializada em atuação no Brasil. O bando decidiu centralizar a ação em Goiânia depois que três ofensivas da Polícia Federal na Região Norte nos últimos quatros anos – batizadas de Cash Net (2001), Cavalo de Tróia 1 (2003) e Cavalo de Tróia 2 (2004) – mapearam as ramificações dos fraudadores no estado do Pará. Os investigadores acreditam que o bando atuava desde 2001 e informou que alguns de seus integrantes já haviam sido presos nas operações paraenses.
Bando imitava sites de bancos para aplicar golpe
Correntistas dos principais bancos privados e públicos do país, inclusive do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, foram afetados pelo grupo, informaram as autoridades. A quadrilha usava páginas clonadas das instituições financeiras, do Banco Central, da Serasa e da Receita Federal, mensagens eletrônicas e programas de computador (conhecidos como cavalo-de-tróia) para obter dados pessoais das vítimas.
Os fraudadores informavam aos correntistas por e-mail a ocorrência de problemas em suas contas e solicitavam dados, como senhas e o número do CPF. A partir daí, transferiam recursos para outras contas correntes em seus nomes ou em nome de terceiros.
Mas havia outras formas de o bando conseguir contas para a movimentação financeira criminosa. Uma delas era o uso do cartão do banco de terceiros. Em troca de um aluguel, cujos preços variavam entre R$ 100 e R$ 500, este consumidor emprestava a senha de sua conta corrente e permitia um destino para o dinheiro desviado pela internet. Muitas destas pessoas já foram identificadas e indiciadas. Outras alegaram que foram enganadas em filas de banco ou perderam seus cartões.
No entanto, de acordo com o delegado Sampaio, essas pessoas também serão investigadas:
– Nunca achei na rua um cartão bancário com a respectiva senha. E essas pessoas ainda tiveram o azar de seu cartão ter sido encontrado exatamente por um hacker – ironizou Sampaio.
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