Maria Clara Prates
Do Estado de Minas
O aumento de mais de 6.000% nas apreensões de cocaína exportadas pela costa da África para a Europa, em apenas sete anos (num movimento contrário à estabilização do tráfico internacional, de acordo com relatório da Organização das Nações Unidas), a projeção do Brasil no cenário político internacional e a credibilidade alcançada pela Polícia Federal (PF) brasileira estão empurrando a corporação para novo desafio: a exportação de seu know-how para países de língua portuguesa e do Mercosul. Já no próximo mês, 18 policiais de Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe, além de dois argentinos e dois paraguaios vão participar como alunos espectadores do curso de formação dos federais na academia da PF,
De acordo com o diretor-geral do Departamento de Polícia Federal, delegado Luiz Fernando Corrêa, sempre houve grande demanda de auxílio da comunidade internacional, mas o Brasil não estava preparado para atender aos pedidos, fazendo isso de forma desorganizada e, muitas vezes, com alguns meses de atraso. Por isso, a decisão de tornar essa mais uma atribuição da corporação. “Esse é apenas o primeiro passo desse trabalho, que começa no dia
A iniciativa da PF tem apoio da ONU, por meio do seu programa contra drogas e crimes (UNODC), que, no ano passado, alertou para a necessidade de os países africanos receberem auxílio internacional no combate ao crime organizado. O diretor-executivo do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime, Antonio Maria Costa, estima que 40 toneladas de cocaína tenham sido enviadas à Europa, via Oeste africano, e que um quarto da droga consumida no velho continente chegue pela África por um valor estimado em US$ 1,8 bilhão. Em recente visita a Guiné-Bissau, Costa disse que “o dinheiro das drogas está corrompendo a economia e apodrecendo a sociedade. Com ameaças e propinas, os traficantes se infiltram nas estruturas estatais e operam impunemente”. Maria Costa pediu apoio internacional, ressaltando que Guiné-Bissau é hoje o país mais vunerável.
Preocupação
O pedido da ONU apenas reforçou o interesse do governo brasileiro, que, na atual gestão, demonstrou claro interesse em estreitar relações com países africanos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez, até agora, sete viagens ao continente, onde prometeu apoio em vários setores. Nos bastidores do governo, a informação é de que o presidente Lula se empenhou pessoalmente para que a PF assumisse essa nova atribuição.
A assessores próximos, o presidente confessou preocupação pela demora da polícia brasileira em desenvolver o programa de ajuda aos africanos, já que ele assumiu publicamente o compromisso, especialmente, durante sua última visita àquele continente. Para tocar o projeto de projeção internacional da PF, foi escolhido o delegado Getúlio Bezerra Santos, ex-diretor de Combate ao Crime Organizado e Repressão a Entorpecentes, professor da academia e com vasta relação com as polícias em todo o mundo.
De acordo com o diretor da PF, o custo com os alunos espectadores será arcado, em parte, pela ONU, mas a corporação vai oferecer aos africanos, paraguaios e argentinos uma bolsa para alimentação, estadia na Academia de Polícia Federal, material didático e uniformes. O curso vai se estender até julho. Cada um dos países africanos participantes terá direito a quatro vagas para os cursos de formação de agente e duas para peritos.
Aos alunos argentinos e paraguaios, serão oferecidas quatro vagas para agente. Hoje a PF só aceita em seus quadros policiais com curso superior, mas o processo de seleção dos alunos espectadores terá como exigência apenas exames físicos e médicos, já que alguns países africanos não têm em seus quadros policiais com nível superior. Além disso, os alunos estão dispensados de fazer prova, mas terão que ter freqüência nas aulas e apresentar monografia, tendo como tema, preferencialmente, a melhoria da capacitação em seus respectivos países.
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