Fonte: Correio Braziliense
A volta das manifestações não constitui surpresa. Sabia-se, desde que os jovens se apoderaram das ruas em junho do ano passado, que a interrupção era intervalo, não fim da mobilização popular. A incerteza não residia no se, mas no quando. No fim da semana passada, veio a confirmação. Protestos realizados em São Paulo, com atos de vandalismo e repressão violenta da polícia, provam que o governo nada aprendeu com a lição de meses atrás.
Chama a atenção o despreparo da polícia. Ninguém duvida de que a função das forças de segurança é manter a ordem. Não significa impedir o vai e vem das pessoas. Tampouco evitar que elas se reúnam pacificamente. Ambos os atos são direitos garantidos pela Constituição. O papel do Estado, no caso, é nada mais, nada menos, do que assegurar a integridade dos cidadãos e dos patrimônios privado e público.
A simples presença policial tem o poder de inibir aventuras violentas. Caso ocorram, porém, impõe-se recorrer a procedimentos corretos para frear efeitos cascata. Não foi o que se viu na capital paulista agora, nem nas demais urbes meses atrás. A ação da tropa de choque em hotel na Rua Augusta levou pânico aos hóspedes que viraram reféns da barbárie dos dois lados. Em resposta à perseguição policial, manifestantes — depois de praticar atos de violência — se refugiaram no saguão do hotel. Em vez de apelar para a inteligência, a polícia agiu com atabalhoamento.
Especialistas são unânimes em afirmar que, em situação como a registrada no hotel, resposta impensada é quase sempre equivocada. Atacar os jovens indiscriminadamente demonstra truculência e estresse. Balear com gravidade um rapaz quando se poderia recorrer a método mais civilizado funciona como álcool na fogueira. Graças ao poder de disseminação das redes sociais, imagens da ação de guerra reforçam a ideia de despreparo e sanha contra a população.
Com acerto, a presidente Dilma Rousseff convocou reunião para tratar da segurança na Copa. Como outras providências — construção de estádios, obras de mobilidade urbana, ampliação de aeroportos —, vem com atraso. Inteligência, estratégias e qualificação de recursos humanos não se compram em supermercado. Exigem planejamento, tempo e verba. A defasagem entre o ideal e o real vem de longe, fruto da miopia dos governantes.
Educar a tropa para que entenda a função que exerce na sociedade e recorra a táticas planejadas de contenção de distúrbios quando necessário é que dá eficácia à ação policial. No país do jeitinho, espera-se que mudanças de comportamento ocorram a toque de caixa. Mágicas — as manifestações vêm demonstrando — não preparam o policial para a defesa da cidadania e dos direitos individuais. Nem, tampouco, o torna perito no enfrentamento de multidões.
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