ANDRÉA MICHAEL / SILVIO NAVARRO / FERNANDA KRAKOVICS
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Após informações desencontradas do Conselho de Ética e da Polícia Federal, os peritos do Instituto Nacional de Criminalística entregam hoje, com uma semana de atraso, o laudo que apontará se o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tinha condições financeiras de arcar com a pensão à jornalista Mônica Veloso.
Porém, a assessoria da PF admite que os peritos podem fazer um adendo ou revisar o teor do laudo devido ao envio de novos documentos que precisam ser periciados. A assessoria disse que a decisão de entregar hoje se deu 'para evitar maior desgaste' do órgão, diante dos três adiamentos ocorridos.
Nova remessa de documentos das secretarias da Fazenda e de Agricultura de Alagoas foi enviada ontem aos peritos. O presidente do conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), chegou a anunciar que o laudo não ficaria pronto hoje.
Renan negou ontem que a chegada tardia dos novos papéis faça parte de manobra para protelar o desfecho do processo. Mas admitiu que não tem pressa: 'No início, quando tínhamos pressa para demonstrar a verdade, havia quem falasse mal. Hoje não tenho pressa. Quero que a verdade aflore.'
A conclusão do laudo também deverá abrir margem a polêmica. Isso porque a resposta ao questionamento se Renan tinha ou não dinheiro suficiente para pagar a pensão de janeiro de 2004 até dezembro de 2006 será favorável ao senador.
No entanto, há incongruências e indícios de irregularidades na evolução patrimonial e na escalada de rendimentos do senador. Entre 2004 e 2005, os gastos dele superaram as despesas declaradas ao fisco.
Os peritos informarão ao Senado que há incompatibilidade na análise mês a mês do fluxo de créditos e débitos do senador. Para fazer a avaliação, a PF usou como padrão os valores que Renan inclui como montantes a deduzir em sua declaração de Imposto de Renda.
Para integrantes do conselho, um dos agravantes é o fato de as empresas a que Renan alega ter vendido seu gado serem de fachada, segundo a Secretaria de Fazenda de Alagoas.
“Supondo que o presidente do Senado comercializou gado com empresas de fachada, isso já pressupõe falta de decoro parlamentar. Ele pode ter tido recursos, mas não é só, ética pressupõe bom exemplo”, disse Marisa Serrano (PSDB-MS), uma das relatoras do caso.
Os peritos vão atestar que não é possível comprovar que o montante sacado das contas de Renan é o que Mônica diz ter recebido, em espécie. Há conflitos nas datas entre descontos de cheque de Renan e créditos na conta de Mônica.
Um dos itens favoráveis a Renan no laudo é a informação de que não há indícios de fraudes em notas e recibos. Com a ressalva de que a PF não tem como confirmar se ocorreram as operações de compra e venda de gado que originaram a renda, conforme o senador afirmou.
Aliado de Renan, Almeida Lima diz não haver provas contra o senador e ainda quer ouvir Mônica, um repórter da revista “Veja” e os peritos da PF.
Comments are closed.