Desde o início de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem utilizado o mesmo trunfo nos momentos de crise: a Polícia Federal. Na última semana, a atuação nas investigações sobre corrupção nos Correios e a declaração do diretor da corporação, Paulo Lacerda, de que poderia entrar nas investigações do mensalão se o Ministério Público pedisse, também foram usadas pelo Planalto. Mas, ao mesmo tempo em que se transforma no grande arrimo do governo em momentos de crise, essa menina dos olhos sofre com a falta de investimentos.
Em 29 meses, foram 78 operações com 1.424 prisões, sendo 350 (25% do total) funcionários públicos, na maioria por fraudes contra a Previdência. Em 20 operações, foram desmontados esquemas de corrupção, extorsão e desvio de dinheiro público.
Na avaliação de agentes, a PF conquistou pela primeira vez em sua história a independência para trabalhar sem interferências políticas. No entanto, há um descontentamento na categoria, incluindo delegados, com os salários, atrasos no pagamento de diárias de serviço e até com a falta de aparelhamento, incluindo armas. A direção da Polícia Federal garante que vem tomando providências para corrigir os problemas. O JB ouviu agentes que falaram sobre as dificuldades. Muitas pediram para não serem identificadas.
Um dos policiais que trabalham no Núcleo de Operações da PF do Distrito Federal revela que o quadro de agentes na superintendência é de 98 profissionais, mas a metade está comprometida com a segurança de autoridades estrangeiras.
A política de expansão das exportações do governo Lula aumentou em 100% as missões que vêm do exterior a negócios. Parcela dos agentes cuida da segurança das embaixadas mais ''críticas'', incluindo as de Israel e Estados Unidos. Outros estão em serviços burocráticos. No máximo, 40 agentes investigam crimes na rua.
Hoje, para cumprir 600 mandados de prisão represados, restam apenas entre 8 e 10 policiais, que se revezam no trabalho em cinco viaturas ostensivas, do tipo camburão, com o símbolo da corporação. Em toda a superintendência do DF há 174 funcionários habilitados a portar armas, mas que dividem seis pistolas calibre 9 milímetros. Eles teriam de utilizar revólveres 38, armas ultrapassadas para um combate. Diante da falta de armamento, grande parte dos policiais compra a própria arma. Para as grandes operações, no entanto, a Polícia FederalF possui poderosas submetralhadoras HK.
Segundo policiais, aconteceram situações em que apenas uma parcela da equipe portava arma. Outro problema são as diárias: há casos em que o reembolso é feito quase 90 dias após a missão. A direção da PF enviou um pedido de aumento para as diárias ao Ministério da Justiça. A idéia é triplicar os valores. Mas o pedido ainda não foi aprovado pela equipe econômica.
A diária dos funcionários administrativos não foi incluída na proposta, mas a PF alega que eles só viajam raramente e ganharão o correspondente à diária do agente. A direção da PF argumenta que os salários da categoria tiveram aumento de 10% no ano passado e terá novo reajuste, desta vez de 7%, no próximo mês. Mas os policiais esclarecem que esse aumento é sobre o vencimento básico, que para alguns agentes fica próximo ao valor de um salário mínimo (R$ 300).
O salário de um agente alcança R$ 4,5 mil mensais, se somadas as gratificações. Um aumento de 10% sobre o valor básico pode representar R$ 27,50 no fim do mês. Em comparação com a média de salários brasileira, o salário de um policial federal pode parecer alto, mas a categoria argumento que as perdas foram grandes ao longo dos anos: um policial chegou a receber US$ 4 mil por mês.
Com todos estes problemas, a PF tem trabalhado com eficiência. O secretário-Geral do Sindipol, sindicato da categoria, José Maciel Filho, eacredita que a independência dada pelo governo para que policiais trabalhem sem interferência política deu um ânimo à corporação. Policial, diz ele, honra a farda que veste. Agentes e delegados estão decididos a dar o máximo de si e acreditam que em algum momento o governo federal dará sua retribuição à categoria.
– No governo de Fernando Henrique, só fazíamos as operações que interessavam ao governo – afirma Maciel Filho.
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