CORRUPÇÃO
PF prende ex-deputado Lino Rossi
Acusado de participar do esquema Sanguessugas, o político mato-grossense foi surpreendido por policiais em Brasília ao tentar embarcar para São Paulo. Hoje, ele será levado para prisão de Cuiabá
Edson Luiz
Da equipe do Correio
Paulo H. Carvalho/CB |
Lino, depois de ser preso em Brasília: obstrução de processo |
Denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, fraudes em licitações, ocultação de bens e formação de quadrilha, o ex-deputado foi preso por volta das 16h, e hoje será mandado para Cuiabá, onde ficará por até 30 dias. Ele é acusado de obstruir a instrução processual. A PF não soube informar se ele iria para outro local, a partir do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. O pedido de prisão, feito pelo delegado José Maria Fonseca, é para que ele seja interrogado no próximo dia 15, na 2ª Vara Federal.
Lino Rossi foi um dos primeiros parlamentares a figurarem na lista dos chamados amigos dos empresários Darci e Luiz Antônio Trevisan Vedoin, proprietários da Planam, que fornecia ambulâncias para vários órgãos públicos, muitos por meio de emendas indicadas por deputados. Pelas mãos de Lino e quatro políticos, pelo menos outros 40 deputados se envolveram no sistema de fraudes, denunciado pelo Correio em dezembro de 2005. O parlamentar, que já fez parte da CPI do Narcotráfico, passou, a partir dali, a ser um dos principais interlocutores dos Vedoin com seus colegas de plenário.
O esquema Sanguessuga uniu a Planam e Lino Rossi praticamente por acaso. O ex-deputado e o empresário Darci Vedoin teriam trocado malas no aeroporto de Cuiabá. Ao perceberem a situação, ambos marcaram um encontro para desfazer o engano. Ao chegar ao escritório da Planam, Lino se mostrou interessado nos negócios dos Vedoin. Ao saber que se tratava de venda de ambulâncias, o ex-parlamentar entrou no esquema, apresentando emendas parlamentares. Segundo relatórios do Ministério Público e a PF, em cinco anos o movimento do grupo pode chegar a R$ 110 milhões.
Além de Lino Rossi, foram acusados de participação no Esquema Sanguessuga, os ex-deputados Ronivon Santiago e Nilton Capixaba. Em seus depoimentos à CPI dos Sanguessugas, Luiz Antônio Vedoin confirmou que a família conhecera o político em 1999, quando o esquema começou a ser montado. Cabia a Lino apresentar, num primeiro momento, os parlamentares próximos ao gabinete onde trabalhava. Em seguida, a outros deputados, que ficariam, como Capixaba, encarregado de recrutar outros grupo para a apresentação de emendas.
Segundo a Polícia Federal, o parlamentar deve responder a mais de 100 processos por conta do esquema Sanguessuga. Só por corrupção passiva, existem contra ele 108 ações tramitando na Justiça Federal de Mato Grosso. Para o Ministério Público, Rossi integrava parte do que ficou sendo conhecido dentro da investigação como o comando do negócio, que não apenas fazia gestões com outros parlamentares para cooptar colegas e favorecer os Vedoin, mas também atuavam diretamente no esquema, procurando empresas para participar de outros negócios, além da venda de ambulâncias.
Julgamento do mensalão A partir do dia 22, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai decidir se aceita ou não denúncia do Ministério Público Federal contra 40 pessoas acusadas de participar do esquema do mensalão: o pagamento de mesadas a deputados em troca de votos favoráveis ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o ministro do STF, que relata o caso, Joaquim Barbosa, seu relatório terá cerca de 300 páginas e o julgamento dos acusados deverá levar três dias. “Tentei resumir meu relatório ao máximo, mesmo assim há mais de 300 páginas”, disse Barbosa. De acordo com o cronograma previsto pelo STF, o julgamento deverá ter inicio às 10h30, com a leitura do relatório de Joaquim Barbosa, as explicações sobre o processo investigatório e as citações das denúncias feitas pelo procurador-geral da República. A leitura do relatório deverá levar cerca de quatro horas. Depois da leitura, o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, terá uma hora para justificar as denúncias que apresentou contra as 40 pessoas. Logo após os ministros ouvirem o MPF, os advogados dos acusados terão 15 minutos cada um para apresentar a defesa. A próxima etapa do julgamento será a leitura do relatório, seguida dos votos dos demais ministros do Supremo. O voto dos ministros deve obedecer a ordem crescente de antigüidade na Corte. Somente em caso de empate a presidente do STF, Ellen Gracie, deverá votar. Se os ministros decidirem aceitar a denúncia contra os acusados, o STF iniciará um processo de ação penal. Entre os denunciados estão os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, o atual deputado federal José Genoino (PT-SP), o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o publicitário Marcos Valério e o ex-deputado Roberto Jefferson. Segundo a acusação do Ministério Público Federal, houve prática de lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha. O escândalo do mensalão foi o primeiro entre muitos casos de denúncias ocorridos desde 2003, quando Lula assumiu o Palácio do Planalto. Até hoje, somente dois deputados foram cassados pela prática do Mensalão: José Dirceu, que foi chefe da Casa Civil de Lula, e Roberto Jefferson, que presidiu o PTB e foi autor da denúncia do pagamento de mesadas para parlamentares. |
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