Renato Grandelle
A violência carioca não preocupa apenas turistas e moradores da cidade. Os 2.500 policiais federais de outros Estados que trabalharão no Rio durante o Pan também discutem como não cair nas emboscadas armadas por traficantes. A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) prepara desde sábado um relatório sobre as áreas mais perigosas da cidade. O Departamento da PF em Brasília promete distribuir uma cartilha com recomendações básicas de segurança a todos os agentes que desembarcarem por aqui.
A falta de mapeamento das áreas de risco provoca protestos entre os cerca de 500 policiais que já chegaram ao Rio. Alguns gastam quantias superiores à diária que recebem, de R$ 127, para escapar dos caminhos incertos.
– Às vezes precisamos pegar táxi, porque não temos certeza se o ônibus que nos serviria faz um trajeto seguro – conta um policial, que não quis se identificar. – Estou no Rio há 10 dias e, até agora, o Pan só me deu prejuízo.
O diretor de relações de trabalho da Fenapef, Francisco Carlos Sabino, teme pela falta de orientação aos agentes da PF no horário de folga. Sabino também critica a dificuldade na comunicação entre os colegas de trabalho já hospedados no Rio – o grupo está disperso por vários bairros e, mesmo sendo de diferentes Estados, não tem celulares funcionais.
– Ninguém sentou conosco para nos dizer quais são os perigos da cidade – protesta. – Tudo que sabemos veio da imprensa ou do cartão-postal.
A hospedagem usada pelo grupo precursor também provoca polêmica entre a federação e a sede da PF em Brasília. A Fenapef alega que a corporação não fechou convênios com hotéis, forçando os agentes a procurar apartamentos e ter gastos maiores. Na Barra, os policiais não encontraram quartos com diária menor de R$ 200 para o mês de julho. Para reduzir os gastos, até seis pessoas estão dividindo o mesmo apartamento.
– Alguns agentes que vão trabalhar na Zona Sul estão na Barra, e outros que atuarão em Copacabana só conseguiram apartamento próximo à Vila do Pan – exaspera-se um agente. – Renunciei a despesas que já tinha condições de pagar. Voltei ao tempos em que dormia amontoado, como na academia de polícia.
– Ninguém quer ser recebido como a Força Nacional – acrescenta Sabino. – Eles ficam em quartéis destruídos, sem higiene ou qualquer condição de serem habitados.
O delegado Daniel Sampaio, que coordena o esquema de segurança da PF nos Jogos Pan-Americanos, garante que os quartéis não são cogitados para abrigar os 2 mil policiais que ainda não chegaram à cidade. A PF, segundo ele, tem quartos disponíveis em hotéis três estrelas, dispersos pelo Rio, para todos os agentes. O conforto custa metade da diária – a outra metade deve ser usada para bancar a alimentação.
– O policial é livre para ficar onde quiser. Só cancelamos as reservas de quem preferiu se hospedar em apart-hotéis – ressalta. – Não cogitamos instalar os agentes em quartéis, porque a rotina da PF não tem hora certa como a do Exército.
Sabino ironizou as queixas do grupo precursor ligadas à falta de informação sobre a violência do Rio:
– Basta assistir a um pouco de TV. Não preciso mandar um documento para dizer que o Rio é perigoso.
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