Fonte: Correio Braziliense
A corrupção é um dos obstáculos que mais atrapalham a eficiência da segurança pública no país, aponta pesquisa de opinião feita com 21.100 policiais, que será divulgada hoje. De acordo com o levantamento, 93,6% deles acreditam que práticas desvirtuadas comprometem o trabalho das corporações e, consequentemente, o serviço prestado à população. O estudo — produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pela Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) — ouviu, entre 30 de junho e no dia 18 deste mês, integrantes das polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária Federal e do Corpo de Bombeiros. Quase todos os policiais também destacaram que os baixos salários (99%) e a formação e o treinamento deficientes (98,2%) tornam o trabalho nas ruas mais difícil.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Jones Leal, confirma que a corrupção é, de fato, algo que acontece, mas ressalta que a prática é realizada por poucos oficiais. “Na pesquisa, podemos ver como apenas uma pessoa corrupta pode atrapalhar milhares que estão trabalhando em uma investigação, simplesmente, vazando dados”, argumenta. Leal defende que mudanças sejam feitas na carreira dos policiais para que as práticas de corrupção sejam eliminadas.
A implantação de uma carreira única está entre as alterações desejadas pela maioria (62,1%) dos ouvidos na pesquisa. “Essa é uma maneira, inclusive, de acabar com as estruturas de corrupção. Fazer com que os policiais passem primeiro por uma base e possam ser promovidos a partir de critérios de meritocracia e não de determinações da hierarquia”, defende Jones Leal.
Doutor em sociologia e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Arthur Trindade diz que a pesquisa chama a atenção para a necessidade de mudança das corporações. “Se antes os policiais não queriam saber de alterações, agora eles querem mudar tudo na estrutura”, destacou. Segundo o levantamento, 58,3% dos entrevistados acreditam que a hierarquia atual provoca injustiças profissionais. “A maioria concorda que ela é necessária, mas tem que mudar a forma”, analisa Trindade. A pesquisa mostra que 86,2% defendem uma forma de subordinação mais eficiente.
Militarização
Entre os entrevistados, a maioria apoia a desvinculação do Exército, 93,7%, e 63,6% defende o fim da Justiça militar. “Se considerarmos apenas os policiais militares, 76,1% querem o fim do vínculo. O que é um sinal claro de que o Brasil precisa avançar na agenda da desmilitarização e na reforma das forças de segurança”, afirma Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do Conselho de Administração do FBSP e pesquisador da FGV.
Obstáculos
Policiais apontam, em pesquisa de opinião, as maiores dificuldades em relação à eficiência no trabalho:
Baixos salários: 99,1%
Formação e
treinamento
deficientes: 98,2%
Contingente policial
insuficiente: 97,3%
Falta de verba para
equipamentos e armas: 97,3%
Leis penais
inadequadas: 94,9%
Corrupção
nas corporações: 93,6
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