Fonte: Correio Braziliense
Mobilizações estão marcadas para pedir a exoneração do oficial Bruno Rocha, após supostos abusos durante o Sete de Setembro. Até o comandante-geral da PMDF, Jooziel de Melo Freire, foi citado em uma moção de repúdio na Câmara Legislativa
O próximo protesto marcado para ocorrer em Brasília tem um alvo muito bem definido. Diferentemente das outras manifestações, nas quais milhares de pessoas reivindicavam melhorias sociais e políticas, desta vez os ativistas exigem a saída do capitão Bruno Rocha. Amanhã, 1,5 mil pessoas prometem um ato pela exoneração do oficial do Batalhão de Choque da Polícia Militar do DF, flagrado em vídeo confessando ter usado spray de pimenta em manifestantes “porque quis” durante o Sete de Setembro. A corporação ainda não abriu nenhum procedimento para investigar se houve abusos na conduta do policial.
Dentro da PMDF, o caso é tratado com cuidado. O corregedor da corporação, coronel Civaldo Florêncio da Silva, garantiu que todas as imagens feitas pela imprensa e por manifestantes serão avaliadas. Só depois de analisar todo o material, ele vai decidir se existe a necessidade de convocar o capitão Bruno Rocha para prestar depoimento. Mas, se depender do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o oficial será ouvido o quanto antes. Ontem, o promotor militar Nísio Tostes encaminhou ao comando da corporação um ofício solicitando a abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM).
Quem defende as ações e as palavras de Bruno é o comandante-geral da PMDF, Jooziel de Melo Freire. Há pouco mais de quatro meses no cargo, o coronel enfrenta o primeiro desgaste da sua gestão, principalmente pela reação questionável da tropa de choque durante as manifestações do Sete de Setembro (leia Perfil). Na Câmara Legislativa, por exemplo, a postura de Bruno foi repudiada pelos deputados distritais durante a sessão plenária de ontem. A Mesa Diretora estuda uma moção de repúdio às declarações de Freire, que defendeu a atitude do capitão após ele debochar de um manifestante. O documento deve encaminhar pedido de explicações sobre os abusos cometidos contra participantes dos protestos e jornalistas durante as comemorações.
Manifestações
Por meio de uma rede social, manifestantes se mobilizam para protestar, às 18h30, em frente ao 1º Batalhão da PM, no Setor de Áreas Isoladas Sul (Sais), Área Especial nº 4, unidade onde é lotado o oficial. O evento é chamado de Ato pela exoneração do capitão Bruno e desmilitarização da polícia. A página foi criada pelo grupo Coletivo Rodamoinho.
Outros movimentos prometem se unir ao protesto contra o capitão Bruno e a atuação da PM. O grupo intitulado Comitê Popular da Copa-DF convoca hoje, no Setor de Diversões Sul (Conic), os manifestantes a denunciar as agressões sofridas no Sete de Setembro. A intenção é produzir um “megadossiê” que será entregue à Corregedoria da PMDF, à Ordem dos Advogados do Brasil, ao MPDFT e a movimentos sociais.
Mas há também os apoiadores do militar. Em uma rede social, 2.158 pessoas curtiram a comunidade Eu apoio o CAP BRUNO. Entre eles está o próprio comandante-geral da PMDF, Jooziel Freire.
Perfil
Entre os fiéis e a tropa
Quando não está vestindo farda, o comandante da Polícia Militar do DF, Jooziel de Melo Freire, deixa de comandar uma tropa para liderar um rebanho. Ele é pastor de uma igreja evangélica em Águas Claras. Celebra casamentos, orienta casais jovens e participa de trabalhos beneficentes na congregação. No último 31 de agosto, passou o dia cortando o cabelo de pessoas carentes no Núcleo Bandeirante. Jooziel tem temperamento considerado moderado, segundo pessoas próximas. Procura resolver os problemas com os seus subordinados na base da conversa, nunca com gritos. Nos bastidores, fala-se numa possível candidatura de Avelar a deputado federal, enquanto o comandante da PM poderia se lança a uma cadeira na Câmara Legislativa.
Capas de chuva
O oficial chegou ao posto mais alto da corporação após a polêmica envolvendo a compra das capas de chuva, que levou à demissão do coronel Suamy Santana. Na ocasião, a Polícia Militar teria autorizado a liberação de R$ 5,3 milhões para a aquisição dos equipamentos. O processo não foi concluído. Antes da polêmica, Jooziel era secretário adjunto de Segurança Pública. Braço direito do chefe da pasta, Sandro Avelar, o coronel foi escolhido para gerenciar os cerca de 17 mil oficiais e praças graças à influência do próprio Avelar. A indicação contou ainda com o aval do coronel Rogério Leão, chefe da Casa Militar do GDF.
Embora sem força política para influenciar o comando da PM no governo do PT, o ex-deputado e presidente do Democratas, Alberto Fraga, tem bom relacionamento com Jooziel. No passado, Fraga fez lobby para o oficial assumir o comando da maior unidade da instituição: o 8º Batalhão de Polícia Militar, em Ceilândia. O comandante da corporação mantém um perfil em uma rede social. Nele, fez várias postagens de apoio aos militares que participaram das manobras de segurança durante o Sete de Setembro.
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