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Gedimar e Valdebran, presos com 1,7 milhão de reais: será que precisa de mais indícios? |
O inquérito que apura a tentativa de compra do dossiê antitucano pelo grupo de “aloprados” petistas é uma peça recheada de provas documentais. Além do 1,7 milhão de reais em espécie apreendido pela Polícia Federal, há conversas gravadas com autorização judicial, extratos telefônicos obtidos a partir de quebras de sigilo legais e confissões registradas em depoimento. Para três criminalistas ouvidos por VEJA, todo esse conjunto seria suficiente para que os envolvidos no episódio fossem indiciados por delitos que vão de crime eleitoral a formação de quadrilha (veja quadro). A PF, no entanto, discorda. Na terça-feira passada, o delegado responsável pelo inquérito, Diógenes Curado, disse que ainda não há “elementos suficientes” para indiciar os envolvidos. Passados dois meses da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha, a PF anunciou que pedirá prorrogação das investigações por mais trinta dias. “Sem saber a origem do dinheiro, não temos como fechar o inquérito”, alegou Curado.
A decisão do delegado é secundada por alguns especialistas. O advogado Alexandre Lopes concorda com a tese de que, para que seja possível caracterizar crimes como o de caixa dois, por exemplo, é necessário que se descubra antes a origem do dinheiro. “Sem isso, a ocorrência do crime passa a ser uma dedução”, afirma. Mas a maioria dos criminalistas consultados por VEJA entende que cabe aos acusados provar que o dinheiro tem fontes legais. O indiciamento, então, independeria do fato de a PF descobrir a origem dos dólares e reais. Mesmo porque, como o próprio nome do procedimento sugere, o indiciamento é fruto da reunião de indícios da participação de alguém em um crime. “No caso do dossiê, já há elementos suficientes para isso, pelo menos de acordo com o padrão que a Polícia Federal vem seguindo em outros casos”, diz o advogado criminalista Tales Castelo Branco. De fato, as operações protagonizadas nos últimos anos pela corporação resultaram em numerosos pedidos de indiciamento e prisões – muitos dos quais acabaram rejeitados pela Justiça. Um levantamento realizado pelo jornal O Globo mostrou que 94% das 785 pessoas detidas em vinte grandes operações da PF estão hoje em liberdade. Talvez agora a Polícia Federal esteja tomando maiores precauções para melhorar essa performance. É curioso, no entanto, que demonstre tanto cuidado somente em um inquérito coalhado de petistas.
Na quarta-feira, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, comentando as investigações sobre o dossiêgate, fez uma declaração espantosa. Dois meses depois de seus subordinados terem prendido os petistas que armavam o esquema do dossiê, Bastos veio a público dizer não estar certo se o escândalo “tem uma grande gravidade ou não tem uma grande gravidade”. Para quem já desconfiava que a PF, subordinada ao ministro, não tem como prioridade apontar os culpados, a declaração de Bastos, embora tecnicamente sustentável, não poderia ser mais desalentadora.
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