Com 738.575 votos, o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB), a partir do ano que vem, estará no Senado. A alegria com a expressiva votação estão estampadas no rosto, que não esconde o cansaço próprio de uma campanha eleitoral. Na tarde de ontem, ele recebeu o Correio no gabinete do 6º andar do Anexo IV da Câmara dos Deputados. Para Rollemberg, a campanha política só terminará em 31 de outubro.
Há 50 anos em Brasília, o deputado, agora eleito senador, lamenta que a cidade tenha sido marcada pelo esquema de corrupção no governo local. “O Brasil vive um momento excepcional. Podemos resumir a era Lula como a era do crescimento econômico, do controle da inflação, da redução das desigualdades sociais. E, no melhor momento do Brasil, Brasília ficou marcada pela imagem do atraso”, analisa.
Ao avaliar o resultado das urnas, Rollemberg diz que o recado foi claro: “A população quer banir os candidatos com passado reprovável”. Lamenta que o Supremo Tribunal Federal (STF) não tenha julgado a Lei da Ficha Limpa, mas acredita que a população já incorporou os valores da nova legislação. O político, que se orgulha de ter aprovado a lei que obriga os governos a divulgar seus gastos na internet, não tem dúvidas de que todos os partidos políticos têm o desafio de fazer Brasília voltar a ocupar um papel de vanguarda, como o que serviu de inspiração para sua construção. Quanto à sua atuação pelos próximos oito anos no Senado, Rollemberg assegura que a população pode esperar competência para trazer recursos para o DF e a aprovação de leis que melhorem a qualidade de vida na capital federal e no restante do Brasil.
“Brasília ficou marcada pela imagem do atraso”
O senhor recebeu 738.575 votos, sendo o segundo senador mais bem votado do DF. Tem um peso diferente, especialmente após tantas decepções do brasiliense com a política?
É uma responsabilidade enorme não só por ser capital. A população pode esperar seriedade e transparência. O Congresso precisa se debruçar sobre agendas básicas para que o desenvolvimento experimentado a partir do governo Lula prospere e avance. A da educação, pois, apesar da universalização, a qualidade do ensino ainda é muito frágil. Outro grande desafio é a agenda ambiental, e a votação expressiva da Marina Silva é um recado claro de que precisamos inserir essa questão em um novo modelo de desenvolvimento. Na agenda da inovação, o Brasil e o DF precisam incorporar valor à sua pauta de exportação. Precisamos ainda aprimorar a gestão pública, para que o Estado seja eficiente e sirva, realmente, ao público.
Brasília, além de educação, tem problemas graves em setores como segurança e saúde pública. O que os eleitores podem esperar do senhor em relação a essas áreas?
O fortalecimento do Sistema Único de Saúde e o combate às drogas devem ser agendas prioritárias para a Câmara e o Senado. O Brasil enfrenta a falta de recursos para financiar uma saúde de qualidade, mas este não é o caso de Brasília, onde o problema é de gestão. Ano que vem, vamos receber R$ 9 bilhões do Fundo Constitucional para saúde, educação e segurança pública. A segurança é mais complexa. Exige investimento em informação, inteligência, aumento do efetivo, recursos materiais e tecnologias avançadas. Podemos ajudar garantindo recursos para as ações e aperfeiçoando a legislação.
Como o senhor vê o resultado do primeiro turno para o GDF? O Toninho do PSol teve uma votação surpreendente. A Weslian Roriz entrou na última semana e ainda assim sustentou as intenções de votos que seriam para o marido dela.
A eleição em Brasília foi muito conturbada por processos judiciais, principalmente, por conta do julgamento do Joaquim Roriz com base na Lei da Ficha Limpa. Essa foi a primeira mensagem muito clara: a população adotou os princípios da Ficha Limpa, embora o Supremo Tribunal Federal não tenha definido o alcance da lei. Isso ficou bastante claro também na votação expressiva em candidatos que defendem a ética e a moralidade.
O senhor diz que o eleitor deu sinal claro de que quer candidatos ficha limpa. Mas o que dizer da reeleição de oito distritais citados na Caixa Pandora?
Um processo de mudança como esse não se faz de uma vez. Mas se você computar o número de votos do conjunto de candidatos ficha limpa, ou que tiveram atuação muito forte em defesa da ética, é uma maioria bastante expressiva em relação aos que conseguiram sobreviver, ainda que citados na Caixa de Pandora.
A aliança do PT com o PMDB de Tadeu Filippelli, aliado histórico do ex-governador Joaquim Roriz e acusado de traição por este, gerou muitas críticas. O senhor acha que essa aliança contribuiu para que a eleição fosse para segundo turno?
É importante ressaltar que, embora tenham ocorrido algumas incompreensões, o papel do Filippelli e do PMDB foi muito importante. O Agnelo quase ganhou as eleições no primeiro turno e isso é inédito em Brasília. A esquerda nunca elegeu uma bancada federal, no Senado e na Câmara Legislativa tão significativa. Isso só foi possível graças à construção dessa ampla aliança. O Filippelli enfrentou Roriz e o obrigou a sair do PMDB. No futuro, a população brasileira vai saber reconhecer esse gesto do Filippelli.
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