Mais de R$ 2 milhões apreendidos na Operação Caravelas, que estavam dentro de um cofre no quarto andar da sede da Polícia Federal, na Praça Mauá, foram roubados. Os 677 mil euros, US$ 63 mil e R$ 21 mil foram furtados entre o primeiro minuto de domingo e 8h de segunda-feira. Foram afastados cinco delegados, cinco escrivães e 49 agentes. O coordenador-geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes de Brasília, Ronaldo Urbano, que comandou a operação que desbaratou uma quadrilha que mandaria 1,6 tonelada de cocaína pura para a Europa dentro de peças de carne congelada, enviou uma equipe de policiais de Brasília – dois delegados, um perito e agentes – para comandar as investigações.
Cocaína estava em outro cofre
Constrangido, o delegado Roberto Prel, superintendente em exercício da Polícia Federal do Rio, disse que a principal linha de investigação é de que houve conivência de agentes federais no furto. Os ladrões arrombaram duas portas da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e foram direto ao armário do chefe do cartório, onde estavam as chaves da sala-cofre. As quase duas toneladas de cocaína estão em outro cofre. Roberto Prel informou que ontem mesmo foram instaurados um inquérito e uma sindicância. Todos os 59 policiais começaram a ser ouvidos ontem.
– Estou me sentindo muito mal. Há um constrangimento muito grande – disse Roberto Prel.
A maior parte do dinheiro foi apreendida na casa do português Antonio dos Santos Damaso. Do dinheiro apreendido na Operação Caravelas só foram salvos US$ 495 mil encontrados dentro de um Porsche blindado apreendido na casa do empresário José de Palinhos Jorge Pereira. O dinheiro foi levado no sábado para Goiânia quando a psicóloga Sandra Tolpiakow, de 44 anos, uma das sócias das redes de restaurantes Satyricon e Capricciosa, foi transferida para aquela cidade.
O delegado Ronaldo Magalhães, chefe da Inteligência Policial da Coordenação Geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes de Brasília, foi na manhã de ontem à sede da PF para fazer a retirada do dinheiro – que seria enviado para Goiânia – e foi avisado pela escrivã de plantão que o dinheiro tinha sido furtado.
Assim que soube do roubo, Ronaldo Magalhães informou ao coordenador-geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes, Ronaldo Urbano, que está em Brasília. Naquele momento Urbano estava com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda.
– Só não morri do coração porque não tenho nenhuma anomalia. Fiquei horrorizado e cheguei a achar que era uma brincadeira – disse Ronaldo Urbano. – Estou envergonhado com esse lastimável acontecimento.
Disputa de poder se arrasta há um ano
Desentendimentos, brigas internas e desunião. Assim poderia ser descrito o clima que reina há mais de um ano na Superintendência da PF do Rio, considerada a mais importante do Brasil. Segundo policiais ouvidos pelo GLOBO, existe um racha entre duas correntes que disputam internamente poder. Os números da briga podem dar a dimensão: somente na Corregedoria Geral da PF existem 30 procedimentos administrativos disciplinares para punir o desvio de conduta de policiais. E ao menos 60 sindicâncias, muitas delas instauradas depois de um policial denunciar o outro.
A situação interna no Rio é tão grave que o delegado Paulo Lacerda, diretor-geral da PF, determinou ontem o envio para o estado de um grupo de policiais federais da Diretoria de Inteligência Policial (DIP), unidade de inteligência e assuntos internos. A ordem é chegar aos responsáveis pelo roubo e expulsá-los. Uma das linhas de investigação é identificar os autores de um arrombamento de armários ocorrido em dezembro do ano passado. Como o modus operandi foi o mesmo, há suspeita que tenha sido praticado pelos mesmos policiais federais.
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