(Fotos: Daniel Ferreira/CB) |
Surpresa com a absolvição de Romeu Queiroz pelos colegas no plenário da Câmara dos Deputados |
Queiroz: dono de uma fortuna calculada em R$ 6,2 milhões |
A Câmara absolveu ontem com ampla folga o deputado federal Romeu Queiroz (PTB-MG), primeiro dos “sacadores” do esquema montado pelo publicitário Marcos Valério de Souza a ser julgado pelo plenário. É também o primeiro a ser absolvido entre os que tiveram a cassação recomendada pelo Conselho de Ética.
A vitória de Queiroz levanta a hipótese de que um precedente tenha sido criado para outros processos semelhantes. O deputado estava tão confiante que chegou a comemorar logo após o início da apuração. “O meu trabalho foi individualizado, conversei com cada deputado. A grande maioria do PT votou comigo, contei 50 votos.”
No final da contagem, o petebista conseguiu 250 votos favoráveis, superando os 162 votos contrários. Para que fosse cassado, eram necessários pelo menos 257 votos contra o deputado -ou seja, faltaram 95 votos. Vinte e dois deputados se abstiveram, um votou nulo e oito, em branco.
Queiroz foi o quarto deputado envolvido no escândalo do “mensalão” a ser julgado pelo plenário. Dois -Roberto Jefferson (PTB-RJ) e José Dirceu (PT-SP)- foram cassados, corroborando o parecer favorável do Conselho de Ética pela perda do mandato.
Contra ele pesavam duas acusações principais: a de ter enviado um assessor para sacar R$ 350 mil do esquema de Valério e o recebimento de R$ 102 mil não-contabilizados da Usiminas, com a intermediação de uma das agências do publicitário, a SMPB.
Jefferson perdeu o mandato porque não teria provado a existência do “mensalão” como havia descrito. Dirceu foi cassado sob a acusação de ser o mentor do “mensalão”, apesar de não ter surgido nenhuma prova vinculando-o a saques do “valerioduto”. Já Sandro Mabel (PL-GO) foi absolvido, com o plenário acatando a recomendação do conselho. Restam ainda 11 processos, que ficam para o ano que vem.
O quórum foi o mais baixo das quatro votações de cassação. Não estiveram na sessão 69 deputados.
Como comparação, votaram na sessão que cassou Dirceu 495 parlamentares, contra 443 de ontem. No de Jefferson, o quórum foi de 489 deputados. No de Mabel, 467.
O relator do processo de cassação no conselho, Josias Quintal (PSB-RJ) não foi à sessão. Ele sofreu um infarto anteontem à noite e está internado em Brasília, mas não corre risco de morte.
Queiroz foi beneficiado por uma combinação de vários elementos. “Existe uma certa benevolência da Casa com ele”, disse o deputado Geddel Vieira Lima (BA), da ala oposicionista do PMDB, que votou pela cassação.
Visto como “afável” e “sério” até mesmo por vários integrantes do conselho, que pediu sua cassação por larga margem, o petebista propagou com sucesso a versão de que foi um “inocente útil” no esquema. Pouco antes da votação, cumprimentou um a um todos os deputados presentes, recebendo sorrisos, tapinhas nas costas, e palavras de incentivo.
Queiroz se defendeu dizendo que não teve conhecimento do saque pelo assessor -seria dinheiro do PT para o PTB. Quanto ao depósito da Usiminas, alegou que era para financiar campanhas de candidatos a prefeitos e vereadores do PTB em Minas, na eleição de 2004. Ele preside o PTB mineiro. “O dinheiro teve doador certo, o PT. E teve destino certo, o PTB. Não me apropriei de qualquer centavo desses recursos”, afirmou Queiroz ao discursar no plenário.
O deputado também recebeu o auxílio do ministro do Turismo, o petebista Walfrido dos Mares Guia, que anteontem se instalou na liderança do partido na Câmara e passou a pedir votos por telefone. Por fim, contou com uma frente informal de apoiadores que foram desde o PT, contrário a cassação por caixa dois, até membros do PFL que consideram o caso de Queiroz parecido com o de Roberto Brant (PFL-MG), também beneficiado pela Usiminas.
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