Mesmo que consigam prorrogar a CPI dos Sanguessugas até janeiro, integrantes da comissão admitem que não conseguirão identificar a origem do R$ 1,7 milhão usado para a compra do dossiê antitucano.
Oposicionistas tentam aprovar a prorrogação, mas a cúpula da comissão é contra.
“Mesmo com a ampliação dos trabalhos até janeiro do ano que vem, nós não vamos conseguir saber de onde veio o R$ 1,75 milhão”, disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPI para o caso do dossiê, que ressaltou: “Acho que nem a PF irá [conseguir]”.
Gabeira, no entanto, vai defender a tese de que o dinheiro faz parte do caixa dois das campanhas nacional e paulista do PT. “Isso ficou claro por conta do envolvimento de pessoas que trabalhavam nas duas campanhas”, afirmou.
Da campanha nacional, devem ser responsabilizados os integrantes da equipe de inteligência da campanha à reeleição de Lula: Expedito Veloso, Jorge Lorenzetti, Osvaldo Bargas e Gedimar Passos.
Da campanha paulista, o único a ser citado é Hamilton Lacerda, ex-assessor de comunicação e coordenador da região do Grande ABC na campanha do senador Aloizio Mercadante (SP) ao governo do Estado de São Paulo pelo PT.
Para o sub-relator da CPI, o principal objetivo de prorrogar a CPI é ouvir os depoimentos do deputado federal Ricardo Berzoini (SP), presidente afastado do PT, e do ex-assessor da Presidência da República Freud Godoy.
Berzoini e Godoy foram investigados pela Polícia Federal por suposto envolvimento no caso do dossiê. Até o estouro do escândalo, o deputado atuava como coordenador da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Já existem requerimentos aprovados para as convocações de Freud e Berzoini.
Entretanto, até agora, não houve tempo hábil para marcar as audiências com os dois.
A prorrogação da CPI depende da apresentação de requerimento com a assinatura de 171 deputados e 27 senadores.
Até a noite de sexta-feira, de acordo com Gabeira, haviam sido reunidas apenas 27 assinaturas de senadores e cem de deputados federais.
O presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), e o relator da comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO), são contra a prorrogação.
Enquanto Lando trabalha em silêncio para finalizar o relatório até o meio da semana que vem, Biscaia tem dado seguidas declarações públicas nas quais critica a idéia da prorrogação das investigações.
“Já me manifestei em plenário que é melhor a gente concluir os trabalhos e votar o relatório na quarta-feira ou, no máximo, na quinta-feira”, disse Biscaia.
O presidente da CPI argumenta que a prorrogação até janeiro poderá comprometer a votação do relatório.
“Dificilmente teremos quórum no começo do ano”, disse.
Biscaia também sustenta que, mesmo com a prorrogação, não será possível descobrir a origem do dinheiro.
“O relatório trará pontos relevantes”, ressalva.
Ao defender o encerramento, Biscaia rebate a tese de que a comissão irá “acabar em pizza”. Ele aproveita ainda para criticar duramente os conselhos de ética do Senado e da Câmara.
“Nós fizemos a nossa parte. Em 60 dias, entregamos um relatório parcial que mostrava o envolvimento de 72 parlamentares no esquema da máfia das ambulâncias”, disse.
“A pizza não é na CPI, não. A pizza é no Conselho de Ética do Senado e da Câmara.”
No Senado, os três senadores citados no relatório parcial foram inocentados.
Na semana passada, Celcita Pinheiro (PFL-MT), que não se reelegeu, foi a primeira a ser absolvida na Câmara.
Dos 69 deputados acusados, apenas os cinco que foram reeleitos devem ter seus processos concluídos.
Os outros terão os casos enviados para o arquivo, já que deixarão de ser deputados em menos de dois meses.
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