O cruzamento entre o sigilo telefônico dos ex-petistas envolvidos na compra do dossiê contra tucanos e imagens do circuito de vídeo do Hotel Íbis, em São Paulo, onde Gedimar Passos e Valdebran Padilha foram presos com o dinheiro que seria usado na transação, reforçam os indícios de que todos eles sabiam do acerto financeiro que seria feito em troca do material. Alguns dos suspeitos vêm sustentando em depoimentos à Polícia Federal e à CPI dos Sanguessugas que não sabiam da negociação com o empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam e fornecedor das informações.
Feita pelos técnicos da CPI a partir de dados fornecidos pela polícia, a análise revelou uma série de ligações entre os investigados na manhã de 13 de setembro, quando Hamilton Lacerda supostamente entregou a Gedimar e a Valdebran parte dos
R$ 1,75 milhão que seriam usados na negociação. Hamilton, ex-coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo; Jorge Lorenzetti, ex-analista de risco do comitê do presidente Lula; Osvaldo Bargas, ex-secretário de Relações do Trabalho; e Gedimar trocaram telefonemas em momentos cruciais da presença do próprio Hamilton no hotel da capital paulista.
As imagens mostram o ex-assessor do PT paulista chegando ao saguão do hotel às 8h51 carregando uma mala. Sete minutos depois, ele e Gedimar pegaram o elevador para ter acesso aos andares. A PF acredita que foi nesse momento que ocorreu a entrega do dinheiro. Às 9h13, ainda no local e usando um telefone celular habilitado em nome da produtora e atriz Ana Paula Cardoso, Hamilton ligou para Osvaldo Bargas. Segundo o estudo da CPI, ele repetiu a chamada um minuto depois. Às 9h20, o então assessor de Mercadante saiu do hotel sem a mala que carregava ao chegar.
Comitê
É nesse momento que, na avaliação dos integrantes da CPI, ocorreram três telefonemas que não deixam dúvida sobre a ciência que Jorge Lorenzetti e Expedito Veloso, ex-diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil, tinham sobre a existência de um acordo financeiro do Luiz Antônio. Hamilton ligou para Lorenzetti duas vezes, às 9h21 e 9h22. No mesmo minuto, às 9h22, Lorezentti ligou para Gedimar, num telefone cedido a ele pelo comitê de Lula.
Apontado pela PF como “mentor” da compra do dossiê, Lorenzetti negou a existência de pagamento em troca das informações contra os tucanos. Anteontem, ele disse à CPI que, em troca do dossiê, foi negociado com Luiz Antônio serviços de assistência jurídica. Negou-se a falar sobre sigilos telefônicos: “Sobre o que mais eles falariam naquela manhã?”, questionou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), sub-relator de sistematização da CPI.
O confronto das imagens do hotel com os sigilos telefônicos dos suspeitos também lançaram dúvidas sobre a versão apresentada ontem à comissão por Expedito Veloso. Sampaio o questionou sobre quatro ligações que ele teria mantido naquela mesma manhã de 13 de setembro, pouco depois das 10h com Gedimar, que usava um telefone no saguão do hotel. O ex-diretor do BB disse que não poderia afirmar se Gedimar conversava com ele naquele o momento em que aparecia, apesar de o cruzamento confirmar que os horários coincidem. “Mas é claro que o Gedimar, por meio dessas ligações, deu satisfação ao Expedito sobre o dinheiro”, disse Sampaio.
Conversas de negócio
Dia 13 – Entrega de parte do dinheiro a Gedimar Passos e Valdebran Padilha, supostamente feita por Hamilton Lacerda em hotel de São Paulo 07:02 Expedito Veloso fala ao telefone, por 4 minutos e 4 segundos, com Gedimar Passos, hospedado no Hotel Íbis da capital paulista 08:01 Outra chamada, com duração de 6 minutos, entre Expedito para Gedimar 08:17 Expedito fala com Valdebran, por 36 segundos 08:23 Expedito fala novamente com Valdebran, por 1minuto e 30 segundos 08:51 Imagem captada pelo circuito interno de Hamilton Lacerda no hotel. Ele entra no local por uma rampa de acesso, portando uma valise 08:58 Imagem mostra Gedimar e Hamilton entrando juntos no elevador do hotel — a Polícia Federal suspeita que, nesse momento, tenha sido feita a entrega dos R$ 1,75 milhão. Há, nesse instante, uma ligação de Hamilton para Osvaldo Bargas. Hamilton usa o telefone celular habilitado em nome de Ana Paula Cardoso 09:20 Imagem mostra Hamilton saindo do hotel sem a mala 09:21 Hamilton liga para Jorge Lorenzetti. A chamada dura 45 segundos 09:22 Hamilton repete a ligação para Lorenzetti. A chamada dura 33 segundos 09:22 No mesmo minuto, Lorenzetti telefona para Gedimar Passos, que usa telefone cedido a ele pelo comitê de campanha do presidente Lula. Ficam no telefone por 1 minuto e 43 segundos Entre 10:12 e 10:23 Imagem de Gedimar é captada no saguão do hotel. A gravação o mostra ao telefone. Nesse intervalo, ele faz quatro ligações, todas para Expedito. No total, falam por 5 minutos e 17 segundos |
entenda o caso Negociação desastrosa No último dia 15 de setembro, a Polícia Federal apreendeu vídeo, DVD e fotos que mostram o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, na entrega de ambulâncias superfaturadas pela máfia. O material contra o tucano seria entregue pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe dos sanguessugas e sócio da Planam, a Gedimar Pereira Passos, advogado e ex-policial federal, e Valdebran Padilha da Silva, filiado ao PT do Mato Grosso. Gedimar e Valdebran foram presos, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão (em dólares e reais). Eles aguardavam num hotel em São Paulo por um emissário de Luiz Antônio, que levaria o dossiê contra o candidato tucano. Os envolvidos foram presos. Em depoimento à PF, Gedimar disse que foi contratado pela Executiva Nacional do PT, comandada pelo então presidente da legenda, Ricardo Berzoini, que coordenava a campanha à reeleição de Lula, para negociar com a família Vedoin a compra de um dossiê contra os tucanos. Após o episódio, outros nomes ligados ao PT começaram a ser relacionados ao dossiê. Esse é o caso de Berzoini. Osvaldo Bargas, ex-secretário no Ministério do Trabalho e então coordenador de programa de governo da campanha, e Jorge Lorenzetti, o analista de mídia e risco do PT. Lorenzetti foi afastado do cargo e Berzoini deixou a coordenação da campanha de Lula. O ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso também foi afastado da instituição, após denúncia sobre seu suposto envolvimento com o dossiê. |
Presidente do BNB processado Fernanda Guzzo Da equipe do Correio
O presidente do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Roberto Smith, vai responder à ação de improbidade administrativa por envolvimento no caso em que o ex-assessor parlamentar José Adalberto Vieira da Silva foi preso, em julho de 2005, no aeroporto de Cumbica, em São Paulo, levando US$ 100 mil na cueca. Vieira era então assessor do deputado estadual cearense José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do petista José Genoino. Nobre foi eleito deputado federal em outubro. A decisão é do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), que negou anteontem os recursos que pretendiam excluir tanto o presidente do banco quanto os diretores da instituição na ação que tramita no tribunal. Pela denúncia do Ministério Público Federal (MPF), José Adalberto Vieira da Silva, que então era dirigente do PT do Ceará, teria recebido US$ 100 mil e mais R$ 200 mil como parte de uma propina paga pelo consórcio Sistema de Transmissão Nordeste (STN) para se beneficiar de um financiamento do BNB. A concessão de crédito seria de R$ 300 milhões. Nobre, que deve ganhar foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF), também responde à ação de improbidade. Ele também entrou com recurso para excluir o seu nome do processo, mas ainda não foi julgado pelo TRF-5. |
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