Mirella D´Elia
Da equipe do Correio
Deputados da oposição suspeitam que o governo tentará desqualificar o depoimento de Protógenes Queiroz na comissão do Grampo
A oposição acredita que o governo vai reunir munição pesada para tentar desqualificar, na CPI do Grampo, o trabalho do delegado da Polícia Federal (PF) Protógenes Queiroz. Responsável pelo inquérito, ele foi afastado das investigações da Operação Satiagraha, em que foram presos o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. O depoimento do delegado está previsto para a próxima quarta-feira.
O presidente da CPI, Marcelo Itagiba, quer saber se houve grampo ilegal na disputa pela Brasil Telecom
A CPI vai cobrar de Protógenes explicações sobre sua atuação à frente do caso e detalhes sobre as interceptações telefônicas que foram feitas pela PF. A intenção é apurar se houve erros ou abusos durante as investigações. Os deputados também vão querer ouvir do próprio delegado as razões para sua saída do caso. Oficialmente, ele diz que foi para fazer um curso, mas, em entrevistas, fez críticas à cúpula da instituição e defendeu a autonomia da PF.
O governo tem adotado um discurso afinado ao tratar do tema. O ministro da Justiça, Tarso Genro, declarou várias vezes que a operação feriu o manual de conduta da PF ao expor a imagem dos presos. Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), a mesma estratégia deve ser adotada no depoimento. “Setores do governo tendem a desqualificar o trabalho dele, dizer que houve abuso. Claro que isso deve ser esclarecido. Para mim, o foco não deve ser esse, mas, sim, esclarecer a forma e o conteúdo das investigações. E também por que ele saiu”, afirmou.
O intuito, avaliou o deputado, poderia ser evitar que uma nova fase da investigação chegue perto do Palácio do Planalto. “Alguns deputados poderão entrar nessa linha de desqualificar o trabalho dele, passar a idéia de que, com isso, tudo se perde. Mas, se o depoimento for consistente, se o delegado apresentar fatos novos, fizer uma análise crítica de sua saída, isso pode contribuir com as investigações”, completou.
Embate
Presidente da CPI, o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) evitou a polêmica e foi cauteloso ao avaliar o embate entre governo e oposição que deve tomar conta do depoimento. “O embate poderá surgir. Sempre pode haver embate quando há idéias divergentes no mesmo espaço”, afirmou.
Itagiba ressaltou que, para ele, a convocação de Protógenes tem o objetivo de esclarecer se Daniel Dantas teria feito grampos ilegais na disputa pela Brasil Telecom e também durante as investigações da PF. “O meu objetivo é saber se existe algo vinculado a grampos. Eu quero saber se foi constatada a prática de interceptação ilegal por parte do grupo ligado a Daniel Dantas”, disse.
Além do depoimento de Protógenes, estão previstos outros três. Na quinta-feira, deverá ser ouvido o delegado da PF Élzio Vicente da Silva, que atuou na Operação Chacal, em que foi desmontado um esquema de escutas ilegais. Pelo cronograma da CPI, no próximo dia 12 será a vez do juiz federal Fausto De Sanctis, que mandou prender Daniel Dantas. No dia seguinte, será a vez do banqueiro falar aos deputados. Mas o depoimento do juiz De Sanctis já foi adiado uma vez.
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