Fonte: Jornal Nacional
No Brasil, o mapa da violência mostra que em 2002 o índice era de 28,5. Caiu para 25,2 em 2007 e subiu para 29 em 2012, um recorde.
O Jornal Nacional está exibindo, nesta semana, uma série de reportagens especiais sobre os problemas que mais afligem os brasileiros, segundo uma pesquisa do Instituto Datafolha.
A série mostrou, na segunda-feira (4), que a principal preocupação é com a saúde pública.
Em seguida, está a segurança.
A segurança é a segunda maior preocupação dos brasileiros. No Norte e no Centro-Oeste atinge 28% das pessoas. No Sul e no Sudeste, 25% se dizem preocupadas com a segurança. E no Nordeste, 23%. Os brasileiros mais ricos, das classes A e B, são os que se sentem mais ameaçados.
Cães de guarda, cercas elétricas, câmeras de segurança e vidros blindados. Depois de 15 assaltos, Maria Lúcia Éboli transformou sua casa em São Paulo numa fortaleza. Ela se sente um pouco mais protegida, mas se tornou prisioneira da insegurança.
“Eu estou me trancando dentro de casa. Quando quero assistir teatro, procuro ir no período da tarde. Dificilmente eu saio à noite”, conta a diretora de escola
Casinhas antigas, uma igreja matriz. Durante muito tempo esse foi o retrato da tranquilidade, de um Brasil que ainda estava a salvo da violência. Isso não é mais verdade.
A Praia do Francês é uma das mais famosas de Alagoas. Fica na pequena cidade de Marechal Deodoro. Nilva Alves mora nela e já foi assaltada quatro vezes, a mão armada.
“Botei um pouco mais de cadeado, mas quando eles querem, roubam mesmo. Muito medo. Aqui no Francês faz muito medo”, diz a comerciante.
Mais uma noite violenta em Maceió, capital de Alagoas, que lidera as estatísticas de homicídio no Brasil. Eram 61 mortes por 100 mil habitantes em 2002, e em 2012 – o dado mais recente – eram 90.
Num bairro da periferia da cidade, a vítima foi morta a facadas. A denúncia levou a polícia até uma favela. Ninguém foi preso. Ninguém dá informação. Não há testemunhas. Impera a lei do silêncio.
Policial: Ele morava naquela praça?
Morador: Não sei. Isso aí eu também não sei informar ao senhor.
O estado vizinho, o Rio Grande do Norte teve a maior taxa de crescimento de homicídios em dez anos: 229%. Passou de 10 mortos por 100 mil, para 34.
Nordeste e Norte amargam os piores números na década. Sete estados investiram contra esse tipo de crime e conseguiram avanços. Em São Paulo, o número de homicídios por
100 mil diminuiu 60% em 10 anos. No Rio, a violência caiu pela metade. E em Pernambuco, 32%. O índice também ficou menor em Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia.
Mas para a Organização Mundial de Saúde, essas vitórias não alteram o panorama do Brasil. Segundo a instituição, o país vive uma epidemia de violência. A OMS considera epidemia quando os crimes de morte passam de dez para cada grupo de cem mil habitantes. No Brasil, o mapa da violência mostra que em 2002 o índice era de 28,5. Caiu para 25,2 em 2007 e subiu para 29 em 2012, um recorde.
“A forma como as policias estão organizadas diz respeito a um momento histórico do país que é o início do século passado, o inicio do século 20. Que tinha uma outra realidade, uma quantidade de ocorrências muito menor. Para que a gente ganhe essa batalha, a gente precisa ter prioridade política”, aponta Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Enquanto o índice de solução dos homicídios nos Estados Unidos é de 65% e no Reino Unido, 90%, por aqui, a única estimativa foi feita em 2010, em cinco capitais. O resultado é que de 5 a 8% dos assassinos sejam punidos. Ou seja, mais de 90% nunca são descobertos.
Vitor Muanis faz parte dessa estatística. Ele foi morto em 2009 quando participava de uma roda de samba no Rio de Janeiro. O primeiro laudo da perícia indicou que o tiro foi disparado de um prédio. Cinco anos depois a investigação não apontou o assassino.
“Sensação de impunidade total. O meu irmão mais velho desistiu do Brasil, foi morar em Nova York, arrumou emprego lá e falou que esse país aqui não tem jeito. Eu ainda acredito. Acho que a gente tem que fazer por onde. Se cada um fizer o seu pedaço, aí o país tem jeito”, comenta Rodolfo Muanis, irmão de Vitor.
Em dez anos, o país conquistou algumas vitórias. Desde 2004, os governadores podem recorrer à Força Nacional de Segurança em momentos que a violência atinge níveis extremos. Como no caso do Presídio de Pedrinhas, no Maranhão, por exemplo.
A rebelião, no ano passado, expôs mais uma vez o caos no Sistema Prisional Brasileiro. De acordo com o censo carcerário deste ano, 567 mil presos se espremem em 357 mil vagas. Ou seja, faltam 210 mil vagas no país.
Se a superlotação é a regra, os presídios federais se tornaram a exceção. O primeiro foi criado em 2006, no Paraná. Outros três foram erguidos depois. Nenhum está lotado.
O combate às drogas também aumentou. Em 2007, só a Polícia Federal apreendeu 18 toneladas de cocaína e 194 toneladas de maconha. No ano passado foram 44 toneladas de cocaína e 226 de maconha.
Bons exemplos existem. E até quem critica a segurança pública afirma: as polícias brasileiras trabalham e muito. Mas falta coordenação.
“A gente não conseguiu ainda pensar de maneira profissional segurança pública. Não pensa em questões técnicas, e aí a gente fica refém de frases feitas, frases de efeitos e de discussões passionais que não fazem nenhum tipo de avanço nessa agenda”, diz Luciana Guimarães, do Instituo Sou da Paz.
Quando ouve falar em violência no país, Seu Arai respira fundo. Ele é agricultor na zona rural de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo.
“Eu estou aqui no bairro de Pindorama desde julho de 1972, nunca fui assaltado”, afirma Guiichi Arai, presidente da associação de moradores.
A colônia japonesa trouxe de lá um modelo de policiamento comunitário em que o PM vive no bairro. A base fica na frente da casa. E o policial conhece todos os moradores.
“Se passar pessoa estranha, precisar da gente, faz contato. A gente está por perto”, comenta o policial.
Numa ilha de tranquilidade como essa, Seu Arai tem razão. “Eu acho que somos privilegiados”, diz.
Essa pesquisa pode ser muito útil para os candidatos a cargos eletivos na hora de escolher os temas que pretendem abordar na propaganda eleitoral obrigatória, que começa no dia 19.
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