Fonte: O Estado de São Paulo
A presidente Dilma Rousseff cancelou ontem a viagem oficial que faria aos EUA, em 23 de outubro, após ser avisada por seu colega americano, Barack Obama, de que não haveria tempo hábil até lá para a apuração da espionagem feita, contra ela e a Petrobrás pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).
A decisão de Dilma foi anunciada por meio de nota oficial, na qual ela classifica a interceptação das comunicações como “fato grave”, “atentatório à soberania nacional” e “incompatível” com a convivência democrática entre países amigos.
Apesar das palavras duras, o texto afirma que a decisão foi tomada em comum acordo com o governo americano.
Minutos depois, foi a vez de a Casa Branca divulgar sua nota. O texto diz que Obama “entende e lamenta” as preocupações geradas pelas supostas atividades de inteligência americana no Brasil e está disposto a trabalhar para resolver essa fonte de tensão na relação bilateral
Telefone. Dilma conversou com Obama por telefone na segunda-feira à noite. O presidente americano tomou a iniciativa de ligar, para explicar que não conseguiria concluir em poucos meses a investigação que se comprometera a fazer a respeito dos episódios de espionagem. A presidente esperava dele um pedido de desculpas, mas ouviu que os EUA também tinham de dar respostas sobre o monitoramento de telefonemas e e-mails não apenas ao Brasil, mas a outros países aliados, como o México e a França.
Dilma disse a Obama que ocupará a tribuna da Assembleia-Geral da ONU, dia 24, em Nova York, para fazer um protesto contundente contra a espionagem e o uso de servidores da internet para práticas que ferem garantias e direitos dos cidadãos.
Obama, por sua vez, disse a Dilma que gostaria muito de recebê-la em Washington, em outubro, mas entenderia se ela não pudesse comparecer. A presidente não escondeu sua insatisfação e lembrou que o Brasil é um país sem terrorismo e sem armas nucleares ou químicas -e que, diante disso, nenhuma legislação americana poderia amparar o rastreamento das comunicações do Brasil.
“Vou levar esse assunto a todos os fóruns multilaterais”, insistiu ela. Na avaliação do Palácio do Planalto, a espionagem foi movida por interesses comerciais, relacionados principalmente às reservas de pré-sal.
Nova data. No Palácio do Planalto, o comentário é que Dilma somente marcará nova data para o encontro caso o presidente dos EUA dê explicações convincentes para o episódio da espionagem. Se isso ocorrer, é possível que a visita ocorra em abril de 2014, ano em que Dilma disputará a reeleição.
Em junho, quando estouraram as denúncias sobre o monitoramento americano, Obama defendeu o programa que espiona telefonemas e servidores da internet. “Não dá para ter 100% de segurança, 100% de privacidade e zero de inconveniência.”
O uso desse sistema de inteligência foi por ele justificado com o argumento de que a lei americana de combate ao terrorismo, permitia o rastreamento – no Brasil surgiram denúncias de monitoramento de mensagens da própria Dilma e de dados restritos da estatal Petrobrás.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou que Obama considerou o “adiamento” a melhor opção nas circunstâncias atuais. Segundo ele, a questão está sob intenso foco da imprensa brasileira e ofuscaria outros temas que seriam discutidos durante a visita. Carney observou ainda que os EUA esperam que a decisão não coloque em segundo plano outros temas da relação bilateral – em resposta a uma pergunta que mencionou especificamente petróleo, biocombustíveis e a eventual compra de caças a jato da Boeing. Dilma seria recebida em visita de Estado, algo que Obama reservou até agora a dirigentes de apenas seis países: Grã-Bretanha, China, índia, México, Canadá e Israel. Seria a primeira visita do gênero que Obama receberia em seu 2º mandato e a única neste ano.
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