Fonte: O Globo
O senador democrata Patrick Leahy, que defende no Congresso americano pôr um limite à escuta generalizada de telefone feita governo de Barak Obama, derrubou a ideia da presidente Dilma Rousseff de países negociarem na ONU um instrumento internacional para regular e limitar a coleta de dados. Trinta e cinco líderes mundiais tiveram seus celulares grampeados pelos EUA – o que enfureceu, sobretudo, os aliados de Washington.
Segundo o Senador, a proposta de Dilma é uma boa forma de começar a discussão, mas não vai funcionar.
– Instrumento internacional com que países? Se todos os países aderissem e mantivessem sua palavra, claro. Mas cite os três acordos que tivemos (na ONU) em qualquer área na História em que cada país cumpriu? – ironizou num comentário ao GLOBO, logo após um debate sobre o escândalo da espionagem no Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Os americanos – no centro da polêmica da espionagem – são tradicionalmente aversos à tratados internacionais que limitem sua esfera de ação. E Leahy não fugiu à regra. Num dos maiores vazamentos da História, Edward Snowden, um ex-técnico da Agência de Segurança Nacional (NSA), hoje no exílio na Rússia, revelou que os EUA estavam escutando as conversas telefônicas de vários líderes mundiais, além de espionarem indiscriminadamente os próprios americanos. A revelação enfureceu os líderes, entre eles, a chanceler alemã, Angela Merkel, e ativistas do direito à privacidade.
O senador disse que Dilma está certa em estar chateada com o governo de Barak Obama. A presidente adiou sua visita oficial aos Estados Unidos por tempo indeterminado depois de descobrir que os EUA estavam escutando suas comunicações telefônicas, bem como espionando a Petrobras.
– Ela está certa em estar chateada. Claro, eu sei que o Brasil não espionou seus vizinhos nem ninguém mais. E não diga que estou sendo sarcástico – disse, sorrindo.
Leahy chegou a apresentar um projeto de lei no Congresso para limitar a escuta telefônica. O presidente Barak Obama anunciou que vai fazer uma reforma profunda das práticas de vigilância da NSA. E algumas das mudanças vão precisar de aprovação do Congresso.
Num debate em Davos, executivos de empresas que lidam com dados confidenciais de consumidores, como Microsoft, disseram que são abordados por governos para passar dados sobre seus clientes.
ONG defende que países criem instrumentos próprios
Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional, acha que Dilma está certa em propor um instrumento internacional com regras claras para coleta de dados. E também defende que países criem instrumentos próprios:
– Não há outra escolha que não seja todos os países se reunirem para achar uma solução – afirmou.
Shetty saiu decepcionado do debate de Davos ao constatar que a discussão sobre privacidade gira em torno do mundo rico:
– A discussão está inteiramente centrada nos EUA e na Europa. Ficaram furiosos porque os EUA estavam espionando seus amigos (a Alemanha). E o resto do mundo, onde vive a maior parte da população? Não se importam em estar espionando a Índia – reagiu.
Quando se trata de segurança dos países ricos, diz Salil, “vale tudo”. Ele lembrou que hoje completam 5 anos desde que Barak Obama prometeu fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba, onde estão presos incomunicáveis e sem julgamento vários suspeitos de praticar terrorismo.
– Quanto mais mantiverem Guantánamo, quanto mais espionarem, mais a segurança (dos EUA) vai estar em risco. Os governos têm o direito de proteger sua segurança nacional, mas não podem fazer isso de forma arbitrária. O direito à privacidade é fundamental – protestou em entrevista.
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