A psicologia conceitua a ambivalência emocional pela presença de juízos e sentimentos contraditórios sobre um mesmo objeto, tais como gostar e não gostar ou querer e não querer. O Máscara Negra, por personificar a Polícia Federal, foi por muitas vezes o objeto dessa contradição sentida por nós, Policiais Federais. Em muitas ocasiões vivenciadas no antigo Edifício-Sede, pudemos experimentar o orgulho, o comprometimento e o amor pela nossa instituição. Entretanto, aquele mesmo local foi palco de sentimento de injustiça e inconformismo, causado pelas políticas adotadas pelo Estado e até mesmo por gestores da PF.
Essa emoção ambivalente se fez presente em muitas oportunidades, principalmente nas greves mais marcantes realizadas pelos Agentes, Escrivães e Papiloscopistas Policiais Federais. Esses sentimentos afloravam quase sempre em frente ao Velho Máscara. Lá era o ponto de concentração dos colegas e onde nasceram as primeiras dinâmicas de cunho sindical em busca de melhores condições de trabalho e reconhecimento da carreira Policial Federal.
Desde dezembro de 1989, constam registros dos movimentos classistas. O Máscara Negra, na sua imponente estrutura de concreto frio, coberto pelo reluzente espelho negro, guardará por muito tempo a energia que emanava dessas calorosas reuniões, em sua maioria de protestos e de reivindicações de direitos. Mas também selará uma riquíssima página da história de nosso sindicalismo. Lá sempre foi o ponto de partida do sindicalismo da PF. Era de onde saiam os Policiais Federais com destino à Praça dos Três Poderes da República em longas caminhadas ou em carreatas. A cada oportunidade de manifestação, os Policiais mostravam a sua força e o orgulho de ser Federais, independente da dificuldade da luta do momento.
Em 1994, o SINDIPOL/DF iniciou suas atividades com a primeira e mais emblemática das greves. O Edifício foi fechado, invadido e cercado pelo Exército. No entanto, homens e mulheres Policiais Federais mantiveram-se firmes no movimento, o que rendeu um legado de força e união que seriam vivenciados posteriormente em vários outros movimentos, reuniões e greves que ocorreriam naquele pátio em frente ao Máscara Negra. A sensação de quem frequentou aquele espaço é que o arquiteto que o projetou, inconscientemente, desenhou a sua área frontal para o fim da prática de política sindical. Até o frondoso pé de abacate à sua frente disponibilizava uma refrescante sombra para saborear o “boi ralado”, símbolo das grandes manifestações.
O SINDIPOL/DF se orgulha de ter mantido uma relação simbiótica e de muita cumplicidade com o Máscara Negra. A instituição tem certeza de que muitas conquistas em prol de seus sindicalizados nasceram de assembleias e concentrações realizadas naquele local. E hoje, o sindicalismo da PF, que já viveu tão ativamente essa ambivalência emocional, distingue com mais propriedade a importância do Velho Máscara. Nessa hora de despedida, vem o sentimento de perda de um parceiro, símbolo da instituição Polícia Federal e, por consequência, a saudade ganha lugar em nome do sentimento de amor.
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