O Sindipol/DF lamenta os últimos acontecimentos ocorridos em todo estado de São Paulo, onde já morreram mais de 70 pessoas, em sua maioria policiais. Para esse sindicato esses acontecimentos são um retrato da precariedade em que os policiais, sejam militar, civil ou federal, enfrentam para exercer sua função. Esses acontecimentos demonstram o descaso sofrido por aqueles que precisam passar segurança à população. Mais uma vez ficou comprovado que os criminosos são, em sua maioria, mais bem aparelhados do que a policia que sofre com a falta de verba, salários baixos, e com locais de trabalhos desestruturados, chegando até mesmo a insalubridade.
Esperamos que esses atos acabem o quanto antes e que sirva de alerta ao DPF para que nossos policiais não sofram represálias como as que estão ocorrendo em São Paulo.
Lamentamos pelas vidas perdidas nos solidarizando com as famílias dessas vítimas.
Leia matéria do Correio Braziliense na integra:
Ataques continuam, PCC ordena rebeliões em cadeias e detentos fazem reféns. Delegado é queimado vivo
Da Redação
Quase 48 horas após de ter sido deflagrada a maior onda de ataques do crime organizado já registrada no Brasil, o governo do estado de São Paulo não havia conseguido dar um basta aos atentados, rebeliões e outras manifestações de violência, na ação orquestrada pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Os bandidos passaram a visar o transporte público, com atentados a ônibus (leia na página 9). Os ataques ganharam as manchetes e as televisões de quase todo o mundo.
Ao mesmo tempo, foram deflagradas rebeliões em 78 estabelecimentos penitenciários, cadeias e, ainda, em unidades da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem). O terror imposto pelos bandidos foi brutal. Os presos da cadeia pública de Jaboticabal, a 345km de São Paulo, atearam fogo no diretor da unidade, delegado Adelson Taroko, que teve cerca de 70% do corpo queimado. Ele está internado em estado grave no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
Até o fechamento desta edição, haviam ocorrido 115 ataques atribuídos ao PCC, desde a noite de sexta-feira, em todo o estado. O número de mortos chega a 72 pessoas: 18 policiais militares, 9 civis, 5 agentes penitenciários, 3 guardas civis, 3 cidadãos, 19 supostos criminosos e 15 presos. Pelo menos 27 pessoas ficaram feridas desde o início dos conflitos. Sessenta e cinco armas foram apreendidas.
Nos presídios, a situação piorou vertiginosamente na visita do Dia das Mães. Enquanto no sábado foram contabilizadas 24 rebeliões, sem mortes, ontem os presos e presas se amotinaram em 69 dos 105 presídios de regime fechado. Foram feitos reféns mais de 300 funcionários, além de visitantes. A situação é crítica: são mais de 50 mil presos rebelados. O motim também atingiu cadeias públicas.
O levante se estendeu para além da fronteiras do estado, a penitenciárias do Paraná e de Mato Grosso do Sul, onde aconteceram quatro mortes (leia na página 8). As rebeliões nas unidades de Tatuapé e Vila Maria da Febem foram controladas .
Na quinta-feira, o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, Marcola, foi transferido de Avaré para Presidente Venceslau, junto com mais de 700 criminosos da facção. As autoridades haviam descoberto que eles planejavam uma onda de rebeliões para o fim de semana. No presídio, os líderes do PCC exigiram aparelhos de TV e a liberação de visita no Dia das Mães. O governo se recusou a negociar. Marcola foi trazido para a capital na sexta e a onda de ataques começou no mesmo dia.
No sábado, a estratégia do governo foi convocar todos os policiais disponíveis para reforçar o patrulhamento das ruas e das unidades do estado. A ordem era reagir aos ataques e impedir novas baixas. O resultado disso é que diminuíram os ataques a delegacias e batalhões da PM. Não houve nenhuma na capital na madrugada de ontem.
Com isso, os bandidos mudaram então de estratégia e passaram a concentrar os ataques a policiais sozinhos, bases da Guarda Civil Metropolitana, fóruns criminais e até as bases da Polícia Rodoviária. À tarde, o transporte público passou a ser alvo dos criminosos. Foram atacados, assaltados e queimados ônibus. Na Zona Leste, um posto de gasolina e uma agência de banco foram metralhados.
O governo federal encara com preocupação a onda de violência e avalia se as Forças Armadas serão usadas para conter a ofensiva promovida pelo crime organizado. Ao mesmo tempo, já colocou de prontidão a Força Nacional, grupo formado por integrantes de elite de diversas organizações federais e estaduais. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, vai discutir a situação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os principais ministros do governo hoje de manhã.
Uso de “Bin ladens”
Ataques de alto risco, como os realizados nos últimos dois dias em São Paulo, são praticados por homens que têm dívidas com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Eles são denominados “bin ladens” ou homens-bomba, em referência ao líder da organização Al Qaeda, Osama bin Laden, que comandou os ataques terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.
Quando membros da facção em liberdade não conseguem dinheiro para pagar a contribuição mensal ao caixa do grupo, eles contraem uma dívida com o comando e, em caso de momentos de afronta ao Estado, são escalados para praticar os atentados a alvos, de preferência policiais. Pessoas que consomem drogas em bocas-de-fumo controladas por traficantes ligados ao PCC e não pagam suas dívidas também são convocadas para os ataques.
De dentro dos presídios, com a utilização de celulares, detentos subordinados aos generais do PCC dão ordens para que os endividados executem os atentados, com bombas ou tiros, contra as forças de segurança oficiais. Se o devedor não quiser participar dos ataques, deve quitar sua dívida rapidamente e em dinheiro. Caso se recuse, passa a ser ameaçado de morte, junto com outros familiares, por outros “bin ladens”.
Origem
A estrutura organizacional do PCC, tida como a mais bem-sucedida facção criminosa do país, nasceu com a iniciativa de oito presos, em 31 de agosto de 1993, no anexo da Casa de Custódia de Taubaté, a 130km de São Paulo, o Piranhão. Na época, o presídio era tido como o mais seguro do estado. Durante uma partida de futebol, os oito detentos, que haviam sido transferidos da capital como castigo por mau comportamento, resolveram batizar o time como Comando da Capital. A sigla foi adotada depois.
Ainda no início da facção, os criminosos diziam que ela havia sido criada para “combater a opressão dentro do sistema prisional paulista” e também “para vingar a morte dos 111 presos”, em 2 de outubro de 1992, no episódio que ficou conhecido como “massacre do Carandiru”, quando homens da Polícia Militar mataram presidiários no pavilhão 9 da extinta Casa de Detenção de São Paulo.
Advogado desafia governo
Demonstrações de força da polícia e do governo de São Paulo serão insuficientes para deter a onda de violência liderada pelo PCC. A afirmação é do advogado Anselmo Neves Maia, que defende integrantes da facção criminosa. “Nunca, pode esquecer, é insano imaginar que isso funcione”, disse a Reuters, ao ser perguntado se acredita que, ao reagir usando força policial, o governo controlaria as últimas ações da facção. “É o mesmo que alguém querer afinar o nariz apertando-o com os dedos.”
Maia é advogado de alguns integrantes da facção e se diz “amigo” do principal líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Ele disse que as ações são uma “reação natural” dos presos às condições das detenções do estado, e que seria preciso mais investimentos em áreas sociais para diminuir a pobreza e a criminalidade. “Esses casos têm origem na miséria e no descaso com os pobres, com falta de investimento em educação, saúde”, afirmou.
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