Agência Brasil
Dirigentes sindicais que representam categorias de servidores públicos federais em greve admitem que a ameaça feita pelo governo federal na última semana de cortar o ponto de quem aderiu à paralisação gerou apreensão entre parte dos trabalhadores, mas dizem acreditar que a medida não irá se efetivar, por simples impossibilidade prática. Os trabalhadores também estão se mobilizando contra a ameaça.
“Nosso sindicato avalia que o governo não vai fazer isso [efetivar o corte do ponto], porque identificar quem está trabalhando e quem está em greve é uma operação complexa, e restaria a alternativa de repetir o que já fez o [ex-ministro da Educação] Paulo Renato, que cortou o salário de todo mundo”, disse à Agência Brasil a professora Nanci Stancki da Luz, diretora da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
“As universidades simplesmente não têm como entregar o ponto dos professores, que fazem um trabalho intelectual, de pesquisa, de orientação de alunos”, disse Luis Allan Künzle, presidente da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná.
Todos os dirigentes sindicais ouvidos pela Agência Brasil foram unânimes em criticar a decisão de cortar o ponto, expedida na última sexta-feira (6) pelo Ministério do Planejamento a todos os gestores de recursos humanos do governo federal.
“O comando nacional da greve dos servidores técnico-administrativos fez uma plenária e está orientando as bases a solicitar a todos os reitores das universidades federais que se posicionem contra esse desconto”, afirmou Carla Cobalchini, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do Estado do Paraná (Sinditest-PR).
“A ameaça de corte de ponto gerou preocupação, mas a nossa expectativa é radicalizar o movimento”, afirmou a dirigente.
De acordo com os sindicatos ouvidos pela Agência Brasil, nenhum servidor em greve voltou ao trabalho em decorrência do anúncio de corte do ponto. “Nossa folha de pagamento fecha no próximo dia 19, e alguns trabalhadores ficaram com algum receio”, admite Alcides Gaboardi, vice-presidente da Associação dos Servidores do Incra no Paraná (Assincra-PR). “O governo está reprimindo o movimento e tentando cercear um direito constitucional”.
Na manhã desta terça-feira (10), servidores das universidades federais, do Ministério da Saúde, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fizeram uma nova passeata conjunta no centro de Curitiba. A greve atinge 27 das 30 superintendências regionais do Incra e, no caso dos professores, 58 das 59 universidades federais.
Os servidores do Ministério da Saúde em Curitiba aprovaram uma paralisação de 48 horas, iniciada ontem (9). “No Paraná, todos os 39 servidores da área de auditoria do Sistema Único de Saúde, por exemplo, estarão aptos a se aposentar ainda este ano”, relatou à Agência Brasil o servidor Jorge Oliveira.
Entre as reivindicações comuns às diversas categorias estão reajuste salarial, novas contratações por concurso público e melhoria das condições de trabalho.
O edifício da Reitoria da UFPR está ocupado por um grupo de cerca de cem estudantes há uma semana, desde a noite do último dia 3. Os alunos exigem o cumprimento de uma série de itens da pauta local de reivindicações, entre eles melhoria das condições de acessibilidade para pessoas com deficiência, ampliação da assistência estudantil, aquisição de mais livros para as bibliotecas e melhorias na infraestrutura da universidade.
“Além da pauta local, nossa ocupação também tem um caráter nacional, para pressionar o Ministério da Educação a negociar o fim da greve”, afirma a estudante Ana Paula Pereira, do curso de medicina da UFPR. Uma reunião entre a administração da universidade e representantes dos alunos, funcionários e professores está marcada para a tarde desta quarta-feira (11).
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