Ministro se antecipa à pressão do STF e coloca a Polícia Federal no caso da espionagem a Gilmar Mendes. Aumenta o cerco à Abin
Desgastado pelas denúncias de que a prática de grampos ilegais atingiu o gabinete da maior autoridade do Poder Judiciário, o diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, tornou-se alvo do Congresso. Parlamentares exigem que ele volte à Casa para dar explicações. O ministro Gilmar Mendes, que preside o Supremo Tribunal Federal, no encontro que terá hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também vai cobrar providências, além da sindicância que será aberta pela agência. Há expectativa de que o governo promova mudanças na Abin.
O desejo dos ministros é de que o presidente anuncie, no encontro, a abertura de inquérito da Polícia Federal (PF) para apurar o caso. O ministro da Justiça, Tarso Genro, antecipou-se ontem e já pôs a força policial à disposição das autoridades para investigar a denúncia de que a Abin grampeou uma conversa entre Gilmar Mendes e o senador Demostenes Torres (DEM-GO). A iniciativa é uma forma implícita de eximir a PF de qualquer responsabilidade no caso.
No Congresso, a reação foi intensa e imediata. O DEM subiu o tom. Além de pedir a demissão de toda a diretoria da Abin, ameaçou denunciar o presidente Lula por crime de responsabilidade, abrindo caminho para um processo de impeachment. “Ou o presidente toma uma atitude rápida e aponta os responsáveis pelo grampo, ou, se continuar calado e omisso como está, ficará como responsável perante a sociedade e terá de responder por isto com base na lei do impeachment”, disse o presidente nacional do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ). O PSDB, que teria parlamentares alvo de escutas ilegais, anunciou uma reunião da Executiva Nacional da legenda, na quarta-feira.
No Supremo o clima é de forte indignação diante do episódio. “Estou perplexo”, disse o ministro Marco Aurélio Mello, que também teria sido fisgado em um grampo ilegal. O vice-presidente da República, José Alencar, criticou os grampos. “São abomináveis as escutas de qualquer natureza.”
Denúncias
Segundo reportagem publicada pela revista Veja, uma conversa do presidente do STF com Demostenes foi gravada por agentes da Abin. Ambos confirmaram o teor do diálogo, transcrito pela revista. A publicação diz ter obtido o grampo por meio de um integrante da própria agência, que, por lei, não pode interceptar telefonemas.
Na lista mostrada por Veja estão ainda o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE), Álvaro Dias (PSDB-PR) e Tião Viana (PT-AC). Outras vítimas seriam os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, além de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula.
Diante dos fatos, Garibaldi Alves também vai pedir ao presidente Lula uma audiência. “A primeira providência é essa: procurar o presidente da República para solicitar a ele providências com relação a isso que está sendo noticiado, esse abuso”, disse.
Vítima do grampo exibido pela revista, Demostenes Torres afirmou que é indispensável o encontro entre os chefes do Executivo e do Legislativo. “A Abin está totalmente descontrolada”, disse.
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