NOVO GOVERNO
O poder da polícia na política
A polícia nunca teve tanto poder político no Distrito Federal. Há anos, representantes da área de segurança pública participam das atividades partidárias na capital do país. Mas este é o melhor momento para agentes, delegados, oficiais e praças no que diz respeito a prestígio no Legislativo e no Executivo. Três dos oito deputados federais eleitos e quatro dos 24 distritais pertencem a uma das corporações, força que cria uma enorme margem de negociação para as conquistas corporativas no setor.
Na Câmara Legislativa, o cargo mais importante, de presidente, está nas mãos de um delegado da Polícia Civil, o ex-sindicalista Alírio Neto (PPS). Nessa função, ele segue o rastro do presidente anterior, Fábio Barcellos (sem partido), que é agente de polícia. Mas a bancada da segurança na Casa cresceu. Agora os delegados têm um outro representante, Milton Barbosa (PSDB). Afastado da Polícia Militar por comandar movimentos grevistas — proibidos pela Constituição —, o Cabo Sidney Patrício (PT) foi eleito para defender os interesses de policiais militares. E o Corpo de Bombeiros também tem um defensor: o novato Aylton Gomes (PMN).
Nesta legislatura, a bancada federal conta com três deputados que representam a área de segurança. O ex-diretor da Polícia Civil Laerte Bessa (PMDB), o coronel reformado da Polícia Militar Alberto Fraga (PFL), licenciado para ocupar uma das secretarias mais importantes do governo Arruda, a de Transportes, e o médico legista aposentado Jofran Frejat (PTB). Ex-diretor do Instituto Médico Legal (IML), na década de 1970, Frejat sempre foi considerado um defensor das reivindicações da Polícia Civil, onde teve tradicionalmente uma boa votação, embora seja mais conhecido pela atividade na área de saúde. Meu gabinete sempre foi um centro de reuniões para discussões de reivindicações policiais, principalmente na época da Constituinte, conta Frejat.
Com tantos aliados políticos na segurança pública, o governador José Roberto Arruda (PFL) tem demonstrado receio de misturar as estações entre política e polícia. Na semana passada, o pefelista foi duro com Aylton Gomes, que integra a sua base, porque ele participou de uma cerimônia de designação dos comandantes das corporações, polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil. O governador pediu que ele se retirasse para que não ficasse caracterizado que houve um algum tipo de apadrinhamento do parlamentar naquelas nomeações. O maior temor de Arruda é contaminar as questões de segurança com as disputas políticas internas travadas no dia-a-dia pelos diversos candidatos da base policial.
Cabo-de-guerra
Na escolha do diretor da Polícia Civil, por exemplo, houve um cabo-de-guerra. Alírio foi apontado como o grande vencedor com a escolha de Arruda pelo ex-corregedor-geral, Cléber Monteiro. Filiado ao PPS como Alírio, ele foi o coordenador de sua campanha eleitoral de deputado distrital. Mas o presidente da Câmara afirma que a escolha foi técnica. “Ele tem três cursos no FBI, é um grande especialista em negociação de crise e é muito querido na corporação. Torci por ele. Mas ele não foi nomeado por ter sido uma indicação minha”, sustenta Alírio. “Foi escolhido por seus méritos pessoais”, acrescenta. Entre os méritos no currículo de Cléber Monteiro está a investigação que desvendou o cativeiro da filha do então deputado distrital Luiz Estevão (PMDB), Cleucy de Oliveira, seqüestrada em 1997.
Antes de optar por Cléber, Arruda ouviu também o deputado federal eleito Laerte Bessa (PMDB), que defendia a indicação de um homem de sua mais estrita confiança, o ex-diretor da Polícia João Rodrigues. O titular da 2ª Delegacia de Polícia, da Asa Norte, Antônio Coelho, também estava no páreo e contava com o apoio de Fábio Simão, um aliado de Arruda no PMDB durante a campanha. Outros três delegados também foram cogitados: Túlio Roriz, Silvério Andrade e Antônio Cavalheiro. Titular da 1ª Delegacia de Polícia, na Asa Sul, Cavalheiro teve um defensor e tanto: o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, que considerou eficiente o seu trabalho de desvendar, num período curto, os autores dos cartazes espalhados por todo o Distrito Federal em que era comparado a um nazista.
A influência dos parlamentares da área de segurança chegou ao Executivo. O coronel Alberto Fraga (PFL), reeleito deputado federal, virou um xerife na área de transportes. Assumiu a pasta, mas com poderes bem maiores que seu antecessor. Vai cuidar de um dos assuntos emergenciais na área de infra-estrutura e mais: assumiu também o comando do Departamento de Trânsito (Detran), antes subordinado à secretaria de Segurança Pública, e a obra do Metrô, que sempre ficou vinculada à secretaria de Obras.
Memória Disputa pela base O primeiro policial civil que chegou à Câmara Legislativa foi o agente Cláudio Monteiro, eleito pelo PRP, hoje no PCdoB. Ele foi um dos fundadores do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol), em 1988, junto com outros colegas, entre os quais Fábio Barcellos e Alírio Neto — que depois também entraram na atividade parlamentar. Eleito deputado distrital, Cláudio acabou se afastando do dia-a-dia da corporação e perdeu espaço para um adversário no sindicato, o delegado Renato Rainha — hoje conselheiro do Tribunal de Contas do DF. Eleito pelo PL, Rainha era um fenômeno de voto. Em 1999, chegou à Câmara como o parlamentar com maior votação. Durante o governo Cristovam Buarque (1995-1998), as disputas políticas internas se acirraram, quando ele reduziu os salários da categoria quase pela metade, sob a justificativa de que um policial não poderia ganhar mais do que um professor. Foi aí que começou a crescer dentro da Polícia Civil a força do hoje deputado federal Laerte Bessa. Chefe da Delegacia de Repressão ao Seqüestro, Bessa foi demitido por Cristovam depois de convidar Joaquim Roriz para um churrasco. Cristovam não gostou e o exonerou da chefia. Na campanha pela reeleição, em 1998, Cristovam não contou com o apoio dos policiais. Pelo contrário, um grupo fez boca-de-urna para Roriz. Foi aí que a categoria começou a ser considerada um feudo rorizista. Assim que Roriz se elegeu, Bessa foi nomeado diretor-geral da Polícia Civil e se elegeu deputado federal no ano passado. |
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