A casa onde foi escavado o túnel que chegou à caixa-forte do Banco Central de Fortaleza, na rua 25 de Março, no centro da capital cearense, também foi preparada pelos ladrões para dificultar a sua identificação pela polícia. Após o crime, os assaltantes jogaram um pó branco, possivelmente cal, em todos os móveis, para atrapalhar a localização de impressões digitais. Restaram pistas apenas no interfone da casa utilizada como abrigo pelos bandidos.
Enquanto cavavam o túnel, também prepararam paredes falsas, de gesso, para esconder sacos de terra que estavam retirando. Apenas ontem agentes da PF descobriram essas paredes. Parte do jardim também foi aterrado com areia retirada na escavação. Uma equipe de cem agentes da PF e das polícias Civil e Militar do Ceará foi montada para desvendar o crime.
A casa, térrea, é antiga e grande, com cerca de 70 metros de comprimento. Na entrada há uma sala extensa e duas ante-salas, onde foram colocados móveis de escritório. Lá também havia alguns blocos de grama artificial, usadas como negócio de fachada para não despertar suspeitas.
O túnel começou a ser feito no último cômodo da casa, após a cozinha e ao lado do quintal. No local, foi instalado um ar-condicionado conectado a um cano, que levava ar frio à escavação. Apesar disso, segundo policiais que estiveram no túnel, o local é bastante quente, o que justifica a quantidade de garrafas vazias de isotônicos, de água mineral, de fortificantes e até pomadas contra assadura encontradas pela casa.
Bacias metálicas podem indicar a forma como os ladrões retiraram o dinheiro da caixa-forte. Nas bacias, havia furos que podem ter sido usados para interligá-las, como vagões de trem, e facilitar a retirada do dinheiro. O local está sendo mantido intocado pela PF. Há muito lixo espalhado, restos de comida, alimentos estocados, roupas pelo chão, botas e luvas plásticas. A casa havia sido alugada por uma pequena imobiliária de Fortaleza.
Falha na segurança
O sistema de segurança interno usado para proteger o cofre-forte do Banco Central de Fortaleza não gravava as imagens de dentro do local, apenas as exibia a um vigia que não acionou o alarme.
Peritos da Polícia Federal e do próprio Banco Central investigam o motivo de o sistema de segurança não ter sido acionado durante a ação dos bandidos. Para especialistas, porém, o fato de o BC não ter um sistema de segurança que grava as imagens de dentro de seu cofre é “chocante”. Segundo o delegado da PF responsável pelo caso, Luiz Wagner Mota Sales, o circuito de câmeras interno estava ligado, mas não gravava nada, apenas filmava. Segundo o delegado, não há fios cortados que justifiquem uma falha no sistema de alarmes. “Tudo estava ligado”, disse.
O monitoramento das imagens do BC deveria ser feito por um vigia, “mas o sistema não funcionou a contento”, segundo Sales. Ele disse que a vigilância era feita por uma empresa terceirizada. O BC não confirma nem desmente a informação. Pelo que a PF divulgou, de seis a dez homens participaram da ação. A casa próxima ao banco foi alugada há três meses. Os bandidos montaram uma empresa de grama sintética no local, de fachada, e começaram a escavar um túnel de 80 metros, por baixo de casas e de uma avenida.
O túnel chegou justamente na caixa-forte do banco, que fica no térreo. Foram levadas 3 milhões de notas de R$ 50, o que chega a 3,5 mil quilos. As cédulas eram antigas e não havia nenhum controle do banco sobre sua numeração, o que dificulta o rastreamento.
A segurança externa do prédio é feita por uma empresa privada, a Servis Segurança. Em nota, a companhia afirmou que apenas realiza o controle de entrada e saída de pessoas e que faz a vigilância armada dos arredores do prédio. “A empresa informa ainda que a prestação de serviços de segurança eletrônica e de monitoramento por câmeras não é de sua responsabilidade”, diz a nota. O BC não disse quem executa a função. Uma reforma no prédio do banco, iniciada há mais ou menos três meses, também deverá ser investigada pela PF. Segundo um funcionário do banco que não quis se identificar, as obras são na parte do ar-condicionado e no sistema de combate a incêndio.
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