TRÁFICO – Mais 17 são capturados no Rio
Carlos Moraes/Ag. O Dia |
Mudança de comportamento: inicialmente arrogantes, os detidos esconderam o rosto e até choraram quando chegaram à delegacia |
De acordo com investigadores que participaram da operação, apelidada de “Chave de ouro”, os acusados — 14 homens e três mulheres — comercializariam ecstasy, GHB (o chamado ecstasy líquido) e special K, droga fabricada a partir de anestésicos usados em animais de grande porte, como cavalos.
Entre os presos, está o veterinário Rogério Salomão de Carvalho, apontado como o responsável pela compra de grande quantidade desses remédios. Proprietário de uma clínica veterinária na Barra, ele foi preso em sua casa, em Ipanema. Mais de 80 caixas do anestésico Dopalen foram encontradas na casa de outro preso, Elmo Ribeiro. Ele teria comprado o material de Carvalho, por R$ 30 mil.
Foi a maior apreensão desse tipo de substância no Rio, de acordo com a inspetora Marina Maggessi, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes. Ela coordenou a operação, resultado de três meses de investigações, baseadas em escutas telefônicas. “Inauguramos um novo tipo de combate ao tráfico. No Rio, só se olha para as favelas”, afirmou. A quadrilha também teria ramificações em São Paulo.
Segundo a inspetora, Ribeiro, que, além de fabricante, é vendedor de special K, colocava o anestésico no forno de microondas e esperava a parte líquida evaporar. O pó que restava era vendido em festas em sacolés (do mesmo modo que a cocaína). A droga é inalada pelo usuário, que busca excitação.
O sacolé de special K custaria de R$ 50 a R$ 100. Já o GHB, vendido em pequenas embalagens de vidro, sai a R$ 30; o comprimido de ecstasy, a R$ 50. Não há dados fechados sobre a movimentação financeira da quadrilha, mas, de acordo com agentes, numa festa, em duas horas, vendedores arrecadaram R$ 4 mil.
Para chegar a todas essas informações, a polícia infiltrou três agentes, jovens, em festas e boates — além de monitorar telefonemas dos suspeitos. Os investigadores descobriram que um dos bandidos, Alan Vieira Ferreira, também preso ontem, usava o filho, um bebê, para transportar droga. “Ele escondia no carrinho da criança”, contou Marina. “Esses garotos acham que a polícia não mete o pé na porta na Zona Sul, mas a gente mete, sim.”
Deboche
A inspetora contou que os presos, todos de classe média e classe média alta — contra os quais havia mandados de prisão — foram arrogantes ao serem surpreendidos, em casa (em Ipanema, Copacabana e Barra). “Pode prender que eu saio à tarde”, teria debochado um deles. Elmo Ribeiro, flagrado negociando droga na internet, de acordo com ela, chegou a dizer: “Anestésico não é entorpecente. Vou ligar para meu amigo que é do Ministério da Justiça”.
Na DRE, ao serem fotografados por jornalistas, a atitude mudou: alguns choraram, outros esconderam o rosto. Eles responderão por tráfico e poderão cumprir penas de 5 a 15 anos de prisão. Além de Rogério Salomão de Carvalho, Elmo Ribeiro e Alan Vieira Ferreira, foram presas 14 pessoas que seriam vendedores das drogas. Até a noite, outras cinco ainda eram procuradas.
Agora, a Polícia Civil irá cruzar as informações obtidas por seus investigadores com os dados da Polícia Federal. Já se sabe que há dois integrantes dos bandos que têm ligação. A PF ainda procura Francisco Barroso Junior, morador da Barra que teria a atribuição de fazer o contato da quadrilha com grandes compradores de drogas sintéticas. Segundo o delegado Victor Carvalho, o principal objetivo da PF é descobrir como o entorpecente chega ao país. O da Polícia Civil é reprimir a distribuição e a comercialização.
Esses garotos acham que a polícia não mete o pé na porta na Zona Sul, mas a gente mete, sim |
Marina Maggessi, inspetora da Delegacia de Repressão a Entorpecentes
Comments are closed.