Mais uma vez inicio meu texto deixando anotado meu respeito a todos os colegas, sobretudo aqueles que não corroboram com as minhas palavras, pois o livre arbítrio lhes faculta esse direito, mas que mal há em pedir que apenas reflitam então.
Somos operadores em um sistema de segurança pública arcaico, medieval, sobretudo no que se refere à polícia judiciária. De um sistema que insiste em não acompanhar a evolução por que passa a humanidade e as mudanças inerentes a isso, e é por isso que todo o cuidado é pouco.
“Se a história ensina alguma coisa, é que o mal é difícil de vencer, tem uma resistência fanática e jamais cede por vontade própria”. Matin Luther king
Mas vamos colocar mais um voto de confiança, acreditar que o Legislativo e o Executivo, ora renovados, priorizem essa necessária mudança, a começar pelo fim do Inquérito Policial. Enquanto isto vamos continuar trabalhando com dedicação, sem perder as esperanças.
Tem sido tão comum nos dias de hoje ouvir estudantes de direito, muito jovens ainda, imaturos e sonhadores, dizendo: “Vou ser Delegado de Polícia Federal”. Não é necessário muita conversa para perceber que a motivação para se chegar a este objetivo, sem a menor sombra de dúvidas, está focada nos “holofotes” e na exposição à mídia sem qualquer indicativo de vocação e da responsabilidade que é ser policial, e ainda, sem entender quão grandioso é o compromisso que assumimos com a sociedade a partir do momento que investimos na carreira policial.
Quantas vezes realizamos trabalhos inovadores, utilizando-se de técnicas investigativas criativas, respeitando a legislação vigente, e, de repente, todo esse trabalho é exposto em uma reportagem, onde um desses ilustres “sonhadores”, numa clara “violação de direito autoral”, em um parágrafo apenas, consegue destruir todo o trabalho frutífero de um ou uma equipe de servidores públicos pró-ativos, que demandou dias para ser concebido, planejado e realizado, e que poderia ser aplicado em uma infinidade de outras situações. Pior, causando uma gigantesca frustração ao criador ou operador da técnica, desmotivando-o a desenvolver novos recursos.
Nossos inimigos, aqueles que agem deliberadamente, estão fora da casa, porém, dentro, temos aqueles que agem aparentemente de forma inadvertida, sendo que os “holofotes” são os catalisadores que os conduzem a essas ações irresponsáveis.
“A necessidade insaciável de reconhecimento interfere de forma negativa no desempenho do trabalho. Este tipo de profissional colhe os louros dos esforços alheios e culpa os outros pelos erros”. Antônio Marinho
Não poderíamos aqui fazer uma analogia bem realista com a tão combatida pirataria? Por isso é que repito, todo o cuidado é pouco. Técnica exposta significa risco iminente.
Em que pese essas ”pedras” que colocam em nossos caminhos aqueles que se renderam ao “câncer” do ego, a vaidade, não podemos esquecer que é nas dificuldades que medimos nossa capacidade de manter a altivez, a ética e a hombridade. Portanto, não nos desanimemos jamais, vamos manter estas virtudes elevadas dentro de cada um de nós.
Vamos refletir.
O sucesso quando vem de um conjunto de ações equivocadas, é sorte. Se foi sorte, estamos transformando nossa profissão em um “jogo de azar”, e se esse jogo envolve armas de fogo, trata-se de “roleta russa”, então, concluo que somos suicidas em potencial.
O que dizer daquele policial que ao sair para uma missão é o primeiro a empunhar um fuzil “imponente”, porém, novo aos seus olhos? Tem consciência do que está fazendo? Sabe da responsabilidade que assume ao fazê-lo? Tem a idéia de que será o primeiro a ser alvejado por um criminoso, este sim, sabedor de que é aquela arma que lhe oferece maior risco em um confronto?
Se assim o faz, seja por conta própria, seja cumprindo ordem, está jogando com sua vida. Ambos não tem juízo, nem quem faz, nem quem manda.
E o oposto disso. Creio que muitos colegas já ouviram coisas do tipo: “Fulano foi na operação e nem levou sua arma”. Detalhe, o “fulano” é policial.
Neste caso o travestido de profissional, não passa de um amador, e a atividade policial que realiza, não é nada mais do que um “hobbie”.
Com que direito um profissional de segurança pública, formado policial por uma das instituições de ensino mais respeitadas do nosso Brasil, a ANP, investido no cargo, deliberadamente coloca em risco a integridade física de um colega de profissão, uma vez que todos os que compõem uma equipe são responsáveis pela segurança uns dos outros. Se esse “profissional” não conseguiu assimilar que é a isso que se chama agir em equipe, então que se feche em seu individualismo, pois é inaceitável que ao invés de agregar não passa de um peso extra que os profissionais de fato e de direito terão que carregar durante um confronto.
Lembrem-se que não somos atores, e, que O FAZ DE CONTA ACONTECE, O INIMIGO É REAL E O MOCINHO TAMBÉM MORRE.
Colegas, continuem se qualificando naquilo que mais tem aptidão dentro da nossa profissão, participando de corpo e alma dos cursos para os quais são indicados. Apliquem na prática e em equipe, e multipliquem esse conhecimento, não permitam que se transforme em esquecimento. Que as passagens custeadas pelo Órgão para este fim não sirvam apenas para somar às milhagens em seu cartão de fidelidade da companhia aérea. Se a sociedade está confiando e investindo em nós, não temos o direito de trair esta confiança agindo como amadores. Ser profissional no serviço público é não ser “estelionatário público”.
Agindo assim, com profissionalismo, teremos legitimidade para argumentar com nossos superiores, do contrário, seremos figuras caricatas tal qual são estes que nada criam, tudo copiam, mas não dispensam os louros.
Multiplicar e aplicar técnicas deve ser sempre “ordem do dia” na segurança pública.
No último trimestre do ano passado estive consultando o SAT/ANP para saber se os Cursos de Operador Tático de Fuzil seriam retomados, mas para minha desilusão soube que por falta de verba foram suspensos naquele ano.
Aqui vale uma ressalva, mais do que isso, um caminhão de elogios a alguns dirigentes regionais, que, sabedores da importância que é qualificar o policial federal para operar os novos equipamentos, e que isso é prioritário, trouxeram para si a responsabilidade, e, na condição de gestor de recursos, ofereceram os meios e custearam os cursos mesmo naquele período de estiagem de recursos financeiros. Feliz a descentralizada que pode contar com um GPI ou um corpo de Operadores Táticos de Fuzil.
O que é mais importante? Deslocar e custear quatro ou cinco instrutores de fuzil para ministrar um curso a vinte e quatro instruendos, ou deslocar e custear 10 (dez) ou mais representantes para a um ato simbólico de inauguração de uma nova descentralizada. Os cursos foram suspensos, mas as tais viagens de representação não.
Entendo que a vida terá que ser sempre a prioridade número um em qualquer Instituição. Na nossa profissão, sobrevivência está diretamente ligada a treinamento.
Vejam a operação envolvendo diversas forças na cidade do Rio de Janeiro final do ano passado. As SR’s que dispunham desses grupos certamente enviaram como reforço profissionais que agiram dentro um padrão de procedimentos, já, as que não os possuíam, restou torcer para que comentários depreciativos, do tipo, “são um bando” ou “eles não tem doutrina”, não tenham sido uma tendência nas conversas entre membros das forças amigas lá presentes.
Estas ações pró-ativas de alguns dirigentes nos prova que é possível ter esperanças nesta busca pela excelência. Que a regra deixe de ser exceção, e QUE A MÁ ROTINA DÊ LUGAR AO PROCEDIMENTO PADRÃO.
Por Dalmey Fernando Werlang
Agente de polícia federal
Lotado na SR/DPF/PR
Saiba mais sobre Dalmey
Lotações: DPF/GMI/RO de 1988 a 1994; SR/PR de 1994 a 2000; SR/RO 2000 a 2003; e, SR/PR de 2003 até a presente data.
Instrutor de armamento e tiro e fuzil pela ANP; Instrutor de disciplinas na área de Inteligência e meios eletrônicos pela DIP e ANP; Curso de Combate ao Terrorismo Domestico e Transnacional, este pela Iternational Law Enforcement Academy-ILEA/PERU; Diversos curso s na área de inteligência pela DIP e ANP; Curso de expecialista em explosivos ministrado por instituição extra DPF.
Fonte: Sinpofesc
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