O ex-petista Valdebran Padilha minimizou nesta terça-feira sua participação na compra do dossiê antitucano durante depoimento à CPI dos Sanguessugas.
Ele reconheceu que foi a São Paulo participar do pagamento de R$ 1,7 milhão ao empresário Luiz Antonio Vedoin, sócio da Planam, em troca do material contra candidatos tucanos. No entanto, Valdebran disse que participou da negociação somente como “observador” para garantir que o dinheiro seria pago pelos petistas “aloprados” (apelido que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu aos envolvidos) a Vedoin –de quem diz ser amigo há mais de seis anos.
“Minha participação foi unicamente para ajudar uma pessoa que eu conheço há muito tempo. Não negociei valores, não negociei informações, não tinha participação nenhuma no transporte do dinheiro. O meu acompanhamento foi somente verificar se o pessoal [Gedimar Passos e Expedito Veloso] iriam efetivar a ajuda financeira a Vedoin”, disse.
Valdebran, que foi preso junto com Gedimar Passos com o dinheiro que seria usado para a compra do dossiê, também negou ser o elo entre o Diretório Nacional do PT e os Vedoin. “Eu nunca liguei para o comitê de campanha do PT, nunca liguei para o Jorge Lorenzetti [ex-analista de risco e mídia do partido]. Eu era um simples filiado ao PT do Mato Grosso”, afirmou.
O ex-petista confirmou que participou de quatro reuniões com Vedoin, Gedimar e Expedito, quando foi negociada a compra do dossiê. Mas garantiu que, em todos os encontros, atuou novamente como simples observador. “Em momento algum eu intervi na negociação financeira. Eu não tive acesso à documentação [do dossiê], a única coisa que vi é que tinha um DVD junto com uma fita de vídeo”, afirmou.
O sub-relator da CPI, deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), acusou Valdebran de estar sendo “contraditório” –uma vez que em depoimento à Polícia Federal negou qualquer relação de amizade com Vedoin, o contrário do que disse à comissão.
Após ser questionado por Gabeira, Valdebran confirmou a versão de que entrou na negociação somente por amizade a Vedoin. “Eu o conheço há mais de seis anos, mas não mantenho amizade de freqüentar a casa dele. Só tive relações comerciais com ele antes de 2002, quando peguei dinheiro como empréstimo”, disse.
O ex-petista negou, ainda, que tivesse dívidas com Vedoin referentes a propinas pagas ao empresário, motivo que o teria levado a integrar as negociações do dossiegate. Valdebran garantiu que “não existe dívida nenhuma” pendente com Vedoin.
A CPI também ouve nesta terça-feira os depoimentos de Lorenzetti e Gedimar, advogado e ex-policial federal. Assim como Valdebran, eles são acusados de envolvimento na compra do dossiê pelo PT contra políticos tucanos.
Dossiê Gedimar e Valdebran foram presos no hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,7 milhão.
Em depoimento à PF, Gedimar disse que foi “contratado pela Executiva Nacional do PT” para negociar com a família Vedoin a compra do dossiê, e que do pacote fazia parte uma entrevista –supostamente à “IstoÉ”– acusando José Serra (PSDB), governador eleito de São Paulo, de envolvimento na máfia dos sanguessugas.
Ele disse ainda que seu contato no PT era alguém de nome “Froud ou Freud”. Após a denúncia, o assessor especial da Presidência da República, Freud Godoy, pediu afastamento do cargo. Ele nega as acusações.
Após o episódio, outros nomes ligados ao PT começaram a ser relacionados ao dossiê. A crise derrubou o coordenador da campanha à reeleição de Lula, Ricardo Berzoini, presidente do PT. Ele foi substituído por Marco Aurélio Garcia.
O ex-secretário de Berzoini no Ministério do Trabalho, Oswaldo Bargas, e Lorenzetti procuraram a revista “Época” para oferecer o dossiê. Também caíram.
O ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso também foi afastado da instituição, após denúncia sobre seu suposto envolvimento com o dossiê. Valdebran disse que recebeu parte do dinheiro de uma pessoa chamada “Expedito”. Ele teria participado da operação de montagem e divulgação do documento.
Em São Paulo, o então candidato ao governo Aloizio Mercadante (PT) afastou o coordenador de comunicação da campanha Hamilton Lacerda, que teria articulado a publicação da reportagem da “IstoÉ” contra Serra.
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