O empresário Marcos Valério Fernandes disse na CPI dos Correios ser mentira a afirmação do líder do PMDB, deputado José Borba (PR), de que ambos se reuniram para tratar de ocupação de cargos na administração federal. “Tratei de assuntos políticos”, de campanhas do PMDB”, afirmou. O empresário disse que os encontros que manteve com o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, envolviam somente relacionamentos políticos e de organização de campanhas para a eleição municipal de então candidatos do PT. “É mentira a afirmação de que eu discuti cargos”, insistiu.
Dirceu – Ele confirmou ter agendado um encontro do banco Rural com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. “Não foi um encontro comercial nem financeiro. O banco Rural foi informar ao ministro José Dirceu que pretendia explorar uma mina de nióbio no Amazonas”, disse. Sobre os encontros com a chefe de gabinete de Dirceu, Sandra Cabral, o empresário afirmou que só tratava de uma eventual candidatura do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, nas eleições de 2004.
Delúbio – O publicitário Marcos Valério disse que se tornou avalista do empréstimo de R$ 2,4 milhões concedido pelo BMG ao PT em função de pedido de Delúbio Soares, mas que hoje não é mais avalista. Segundo ele, o dinheiro seria usado na quitação de débitos do partido. O publicitário disse que fez o pedido para deixar de ser avalista após ter pago uma parcela de juros vencidos. “Eu pedi para deixar de ser avalista porque não tenho condições de assumir esses compromissos financeiros”, afirmou. O publicitário confirmou que pagou uma parcela não quitada do empréstimo no valor de R$ 350 mil.
Jefferson – Marcos Valério fez uma descrição detalhada de sua agenda, dos primeiros 18 dias de julho de 2004, para provar que não se reuniu com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) nesse período, conforme o próprio deputado disse no Conselho de Ética. De acordo com Valério, ele viajou naquele mês para Nova York, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e mostrou notas de restaurantes e bilhetes de avião para provar. “A única possibilidade de ter me encontrado com o deputado Roberto Jefferson seria no dia 7”, afirmou, negando porém, que isso tenha ocorrido. O publicitário confirmou ter-se reunido em duas oportunidades com Jefferson. Segundo ele, os encontros só envolveram discussões sobre campanhas eleitorais. Ele disse ser também mentira de Jefferson que tenha repassado R$ 4 milhões que o parlamentar disse ter recebido do PT para ajudar na campanha municipal. “Também é mentira que eu tenha solicitado ao IRB-Brasil Resseguros a transferência de recursos para o Banco Espírito Santo”, afirmou, negando outra acusação de Jefferson.
PTB – Marcos Valério disse que não fez negócio de dinheiro ou mala de dinheiro com Emerson Palmieri, secretário geral do PTB. “Palmieri não merece o menor crédito”, disse ao comentar a informação de que o secretário-geral do PTB teria feito negociação que envolvesse dinheiro. Ele disse apenas que encontrou Palmieri na sede do PT, em Brasília, quando discutiu política e eleições. “Não tive nenhum negócio com Palmieri”, garantiu. Ele negou conhecer Alexandre Chaves, motorista do PTB e disse que não acredita que o motorista tenha feito saques bancários em contas das suas empresas DNA, nem na SMP&B.
Campanhas eleitorais – Ao comentar a atuação de sua empresa Estratégia, de organização de campanhas eleitorais, Marcos Valério informou que organizou as campanhas do PT nos municípios de Osasco e São Bernardo do Campo, em São Paulo, e de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ele disse que desconhece se havia empregado nas campanhas algum parente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele negou que tenha feito alguma doação a partidos políticos. “Que eu saiba, não. Mas se fiz, foi dentro da lei”.
Banco Rural – Ele também negou que tenha feito viagens em aviões fretados, mas admitiu ter usado o avião do banco Rural, duas vezes, em companhia do diretor da instituição financeira, José Augusto Dumont, já falecido. Ele também reconheceu que conseguiu, por meio de um acordo judicial, reduzir uma dívida de R$ 9 milhões com o Rural para R$ 2 milhões, e que já foram pagos. A redução da dívida, segundo Valério, foi por serviços prestados ao banco. Ele confirmou ter participado da reunião com o falecido presidente do Rural e diretores do Banco Central. Ele não detalhou detalhes do encontro. Disse apenas que se tratava de um problema do banco Rural com o BC. “Levei o José Augusto Dumont ao BC com o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Entrei calado e sai mudo, como o deputado Virgílio poderá confirmar”, disse.
Casa da Moeda – Ele confirmou aos parlamentares que manteve conversas com o presidente da Casa da Moeda do Brasil, Manoel Severino dos Santos, mas deixou claro que estas conversas tinham apenas o intuito de discutir campanhas eleitorais do Estado do Rio de Janeiro. Segundo Valério, a empresa dele fez campanha para o candidato do PT à prefeitura de Petrópolis. “A única campanha que fiz no Rio foi do PT em Petrópolis”, afirmou.
A secretária Karina – Durante seu depoimento, o publicitário acusou a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio de tentar incriminar Simone Vasconcelos e Adriana Fantini, funcionárias da SMP&B, porque ambas são testemunhas dele em processo de extorsão que move contra Somaggio.
Governo FHC – Marcos Valério informou à CPI dos Correios que suas empresas possuem contratos com o Banco do Brasil, Eletronorte e Ministério do Trabalho, sendo que, nos dois últimos, seu faturamento foi maior no governo Fernando Henrique Cardoso do que na gestão Luiz Inácio Lula da Silva. O último contrato da SMP&B citado é o firmado com a Câmara dos Deputados, de 31 de dezembro de 2003.
Suas empresas – O publicitário enfatizou que não é o responsável, em sua empresa, pelas áreas contábil e fiscal, ao contrário do que afirmou o sócio de Valério, Cristiano Paz. “Eu paro pouco na empresa. No máximo, fico lá duas vezes por semana”, justificou. Valério informou que as empresas de que é sócio obtiveram, em 2004, um faturamento de aproximadamente R$ 442 milhões, dos quais R$ 200 milhões pela SMP&B e R$ 200 milhões pela DNA. Outros R$ 40 milhões, segundo ele, vieram da empresa Multi Action e os R$ 2 milhões restantes, de uma empresa de que é sócio, denominada Tolentino Melo.
Os saques – Em seu depoimento à CPI dos Correios, Valério disse que os saques em espécie feitos por ele no final de 2004, de cerca de R$ 20 milhões, correspondem apenas a 4% do faturamento da SMP&B. O publicitário voltou a afirmar que o dinheiro sacado era usado no pagamento de pessoas jurídicas que prestavam serviços à empresa, assim como a fornecedores. Ele também que todos os saques em dinheiro obedecem uma rotina, lembrando que eles corresponderam apenas 4% do faturamento total da empresa, em 2004. O publicitário lembrou aos parlamentares que já colocou à disposição do Ministério Público o seu sigilo bancário e telefônico.
Dívida com a previdência – O publicitário reconheceu que tem uma dívida com a Previdência Social e que ela está sendo questionada na Justiça Federal de Belo Horizonte. A Justiça, segundo Valério, já concedeu uma certidão negativa, que permite à SPM&B participar de licitações públicas. Ele admitiu que já sofreu uma condenação por sonegação de arrecadação previdenciária e que esse processo também está em fase de recurso.
Divida com a Receita – O publicitário também reconheceu que há outro processo na Justiça sobre recolhimento da CPMF, movido pela Receita Federal. Segundo Valério, esse processo refere-se a movimentação de recursos recebidos pela sua empresa de publicidade, por serviços prestados a outras empresas de comunicação. Ele informou que a Receita iniciou um procedimento de investigação e fiscalização da contabilidade da SMP&B. “Com essa investigação, vamos justificar os saques e a origem do meu faturamento”, disse. Ele não quis responder a uma pergunta sobre se destinava uma parte dos recursos sacados a investimentos. “A questão dos investimentos será apresentada no foro adequado”, esquivou-se, afirmando que se reservava o direito de não falar sobre isso.
Daniel Dantas – Valério negou que tenha intermediado conversação entre o empresário Daniel Dantas, do Opportunity, e integrantes do governo. Ele reconheceu, no entanto, que intermediou um encontro entre o Carlos Rodemburg, ex-cunhado e sócio de Dantas, e Delúbio Soares.
Pimenta da Veiga – Valério confirmou que contratou o serviço de advocacia do ex-ministro Pimenta da Veiga. Segundo ele, foram pagos R$ 150 mil pelo acompanhamento jurídico de contratos privados e públicos. Disse que decidiu contratar Pimenta da Veiga depois de saber de um amigo comum que o ex-ministro tinha um filho com câncer. “Como eu vivi esse mesmo problema, eu perdei um filho com seis anos, por causa de câncer, resolvi contratar os serviços dele”, afirmou.
Passagens ao procurador – O publicitário admitiu que solicitava a emissão de passagens aéreas em nome do procurador da Fazenda Nacional, Glênio Guedes. “Eu fazia isso, porque ele (Glênio) tinha dificuldade em fazer a emissão, porque estava sem secretária”, disse. Ele ressaltou que os gastos com a emissão de passagens foram todos reembolsados por Guedes. Ele disse que conheceu Glênio no Centro de Hipismo, em Belo Horizonte, e que os dois têm em comum a paixão pelos cavalos. Valério admitiu que eles dois tinham um relacionamento muito íntimo e ressaltou que considera o procurador uma “pessoa muito séria”. “Todas as pessoas com quem eu tenho relacionamento agora estão sob suspeita”, lamentou.
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