Fonte: O Globo
Só um dos dois aviões não tripulados comprados pelo governo foi usado
Vant ( Veículo Aéreo não tripulado ) se preparando para o pouso na base montada no Aeroporto Santa Rita, em São Miguel do Iguaçu Marcos Labanca / Marcos Labanca/Gazeta do Povo
A presidente Dilma Rousseff fez nesta segunda-feira um balanço otimista das ações do governo para combater o crime nas fronteiras e incluiu o Veículo Aéreo Não Tripulado (Vant) entre as ferramentas de vigilância das regiões mais vulneráveis do país. Mas a utilização dos Vants ainda é uma promessa de campanha que engatinha. Dos dois aviões comprados até o momento, só um fez voos operacionais.
O projeto foi festejado durante a campanha eleitoral de 2010, e o então diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, disse que os aviões estariam em guerra contra o narcotráfico e o contrabando no primeiro semestre de 2011. Em dois anos, o tempo de voo operacional e experimental soma pouco mais de 600 horas. Nesse período, o governo gastou R$ 35,4 milhões com a implementação do projeto, conforme dados do Sistema de Fiscalização e Acompanhamento Financeiro (Siafi).
Entidade aponta atraso
Em seu programa de rádio semanal, “Café com a Presidenta”, Dilma afirmou que a segurança dos 16 mil quilômetros de fronteira do Brasil com dez países é feita por operações permanentes e temporárias, e com articulação entre a Polícia Federal e as Forças Armadas. E que, nessas operações — que, segundo ela, já desarticularam 65 organizações criminosas e prenderam 20 mil pessoas —, os Vants estão sendo usados.
— Usamos equipamentos de última geração nessas operações. A Polícia Federal e a Força Aérea Brasileira, por exemplo, já estão usando os veículos aéreos não tripulados, os chamados Vants, na vigilância de nossas fronteiras — disse.
Perguntada pelo locutor do programa, a presidente Dilma explicou o que são e para que servem os Vants:
— Esse avião faz o mapeamento de regiões de difícil acesso, registrando imagens em altíssima resolução e transmitindo essas imagens para a Polícia Federal. Mesmo à noite, o Vant consegue enxergar a ação dos criminosos sem ser percebido por eles. Com isso, os agentes identificam mercadorias suspeitas que atravessam a fronteira brasileira pelos rios, identificam garimpos ilegais e também pistas clandestinas usadas pelo tráfico.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Vinício Wink, disse, porém, que a implantação do Vant está atrasada:
— Na campanha eleitoral, a presidente Dilma usou demais o projeto como uma questão de controle das fronteiras. Mas o governo dela ainda não botou o projeto para a frente.
Segundo Wink, os Vants são muito importantes e deverão aumentar, de forma significativa, o poder de atuação da Polícia Federal. Mas problemas surgidos desde a compra dos equipamentos e a falta de um planejamento global atrapalharam a execução do programa. Os voos operacionais começaram há menos de dois meses, mas deverão ser interrompidos nas próximas semanas. As operações com os aviões não tripulados dependem do contrato de manutenção com os fornecedores dos equipamentos, negociação mais difícil que a da compra.
O policial lembrou ainda que, na hora de optar pelo projeto, antigos dirigentes da PF não levaram em conta dados básicos, como o treinamento dos pilotos e o aproveitamento do material produzido.
Os Vants são equipados com câmeras especiais com capacidade para filmar e fotografar com precisão objetos a até 10 quilômetros de distância. Mas a polícia não estava devidamente preparada para selecionar, catalogar e usar todo o volume de informações que um avião desse tipo pode produzir. Isso teria atrasado o uso operacional dos aviões.
O presidente da Comissão de Segurança da Câmara, Efraim Morais (DEM-PB), disse que está de olho no projeto. O assunto foi tratado numa audiência da comissão com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o diretor da Polícia Federal, Leandro Daiello, em dezembro passado. Segundo Morais, o ministro e o diretor da PF se comprometeram com o pleno funcionamento dos Vants este ano.
— A partir de fevereiro, faremos uma avaliação e, se necessário, faremos fiscalização e cobrança. O projeto foi lançado na campanha e gerou a expectativa de que teria aplicação imediata — disse o deputado.
A direção da PF reconhece as dificuldades com o projeto, mas sustenta que já obteve resultados concretos com um dos Vants, que tem como base operacional São Miguel do Iguaçu (PR), tendo ajudado até em prisões em flagrante.
O projeto prevê a compra de 14 Vants e a instalação de cinco bases operacionais. Os Vants são operados por controle remoto. Além das dificuldades técnicas e operacionais, o Projeto Vant também teve problemas com o Tribunal de Contas da União, que, numa primeira análise, considerou alto o gasto para treinar os pilotos. Cada treinamento custou R$ 2 milhões.
Comments are closed.