Delegados com 30 anos de carreira estão sendo substituídos por jovens
Habituados a postos de comando, os quais exerceram por anos a fio, delegados federais da antiga geração andam descontentes com a política de renovação promovida pela cúpula da Polícia Federal que os exclui do topo do organograma da corporação. O novo modelo de gestão que Brasília quer para a PF abre oportunidade para os profissionais mais jovens e isso, para os veteranos, é heresia.
São delegados que exibem currículos enriquecidos com cerca de 30 anos de carreira e passagens por quase todas as áreas sensíveis da PF. Eles têm se reunido para discutir o futuro – ainda que parte dos inconformados admita que é remota a possibilidade de recuo da administração, dado que os postos diretivos são de confiança.
Consideram-se injuriados. Dizem que a súbita remoção de que foram alvos é uma agressão e que, pelos serviços que prestaram, não poderiam ser tratados com desprezo pela reforma mais ampla e ousada que a direção-geral da PF já executou. O que pesa em favor de seus sucessores é o fato de que quase todos ostentam elevado grau de qualificação, com especialização em outras áreas, inclusive economia – e nunca a PF combateu tanto os crimes financeiros e contra a ordem tributária.
São três os degraus que um delegado tem de subir até chegar à classe especial, a mais alta, que lhe confere prerrogativas para aspirar o comando de unidades da PF. O início da jornada é a terceira classe. Decorridos cinco anos o policial passa para a segunda classe. Mais cinco anos, salta para a primeira. Para chegar à especial, tem que cumprir outros cinco e o Curso Superior de Polícia.
O que enfraquece a tese dos inconformados é que, para seus lugares, estão sendo nomeados delegados do mesmo nível funcional, ou seja, classe especial. A diferença está na idade e no tempo de serviço. Os traquejados até já contam tempo para a inatividade, mas não querem renunciar ao prestígio e à força da autoridade Federal. Alguns suspeitam que a meta dos superiores é alijar o núcleo que preserva relações muito próximas com velhos chefes da PF.
“Historicamente a Polícia nunca teve uma política de pessoal, ela dependia da boa vontade de governos para abrir uma janela e permitir o ingresso pelo concurso”, pondera o delegado Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da PF. “Estamos recolocando na normalidade a sucessão de gerações, o que provoca acúmulo de especiais com ambições naturais de evoluir. Fora disso aí é ilação, aproveitamento político do processo de renovação.”
Corrêa avalia que os veteranos integram um grupo que extrapolou o seu tempo na chefia. “Não vou responder a questões pontuais e de vaidades. Não há perseguições, nem motivação política.” Ele vê anomalias no sistema que vinha predominando e aponta vantagens na troca de peças. “É uma política salutar, caso contrário a geração intermediária com escolaridade elevada não vê perspectiva. Vou condenar essa massa crítica com alta qualificação a ficar no corredor tocando inquérito? Não é justo isso”.
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