O empenho pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as promessas de liberação de verbas para emendas de parlamentares aliados surtiram o efeito desejado pelo governo na eleição para presidente da Câmara. O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-ministro da Coordenação Política, foi eleito em segundo turno para dirigir a Casa num mandato tampão até fevereiro de 2007. O candidato do governo obteve 258 votos contra 243 dados ao candidato apoiado pela oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL). Houve seis em branco e dois nulos. Foram 509 votos registrados (ao todo, na Câmara, são 513 deputados). No primeiro turno, Aldo e Nonô haviam empatado com 182 votos.
A disputa foi acirrada e a vantagem de votos de Aldo, durante toda a apuração, nunca foi grande. Às 21h, por exemplo, chegou a estar empatada em 213 votos para cada um. O equilíbrio era tanto que a cada voto cantado a favor de Aldo os governistas festejavam com gritos e braços erguidos, como se fossem gols numa partida de futebol. Quando Aldo atingiu os 251 votos, mínimo necessário para a vitória, os parlamentares da base do governo o levantaram da cadeira e comemoraram. Logo em seguida, Nonô foi até o adversário para cumprimentá-lo.
O PP, partido do presidente anterior da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), cassado sob suspeita de corrupção, e o PTB de Roberto Jefferson (RJ), que também perdeu o mandato, por envolvimento no mensalão, prometeram apoio a Aldo. Entre os dois turnos de votação, após reunião com a bancada, o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), anunciou que o partido tinha fechado com a candidatura de Aldo. O deputado Ciro Nogueira (PP-PI), que obteve 76 votos e ficou em terceiro lugar no primeiro turno, também fez questão de declarar apoio ao candidato do governo.
– A bancada decidiu e eu sou um homem de partido. Vou declarar meu apoio a Aldo. Existem divergências, mas elas são menores – afirmou.
Em seguida, indagado se o governo fizera alguma oferta em troca do apoio, Ciro respondeu:
– A mim não fez, que eu saiba, não.
O PTB, outro partido da base do governo que a oposição tinha esperança de atrair, demonstrou, antes do segundo turno, seu apoio a Aldo. Boa parte dos 41 votos recebidos por Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) no primeiro turno devem ter migrado para o candidato governista. Em votação informal realizada na bancada do partido, 36 dos 40 deputados presentes deram seus votos para o deputado do PCdoB.
Para garantir a eleição de Aldo, o Palácio do Planalto contou com a participação efetiva do ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, que conversou por telefone com Fleury e Ciro Nogueira. O governo destacou também os ministros das Cidades, Márcio Fortes de Almeida, da cota do PP, e do Turismo, Walfrido Mares Guia, do PTB, para garantir o maior número de votos de suas respectivas bancadas. Antes do resultado final do primeiro turno, a oposição também tentou buscar o apoio dos adversários. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), e Nonô foram ao gabinete de Ciro antes mesmo do fim da contagem.
No discurso de defesa de sua candidatura antes da votação no segundo turno, José Thomaz Nonô, atual vice-presidente da Câmara, acusou o governo de promover um 'espetáculo deprimente de cooptação política' ao oferecer ministérios e verbas em troca de votos para Aldo Rebelo.
– Não tenho verba, não tenho ministro e outras generosidades que não quero detalhar. Mas tenho vontade de servir a esta Casa – afirmou, depois de dizer também que tinha a oferecer dignidade, vergonha, vida limpa e amor à Câmara dos Deputados.
Aldo, que discursou depois do adversário, respondeu dizendo que seus votos não se deveram a fatores externos, mas à “livre consciência” dos deputados.
– Nunca dependi do governo para ser eleito. Dependi da vontade do povo, da manifestação livre das urnas, e a manifestação livre das urnas é o espírito dessa Casa – argumentou.
Aldo Rebelo, integrante de uma bancada de apenas nove deputados, é o primeiro comunista a ser eleito para a presidência da Câmara.
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